Nem sempre lembramos que temos um pâncreas. E talvez sequer tenhamos ocupado nossos pensamentos sobre a sua existência. Mas, eventualmente, você já soube de alguém que teve câncer de pâncreas, ou uma pancreatite grave. Também já falamos aqui em Panacea sobre a fibrose cística, uma doença genética que afeta todo o organismo, sendo que o pâncreas é um dos órgãos mais atingidos. Então, podemos perceber a importância deste pequeno notável, e que precisamos cuidar bem dele. É por isso que esse é o nosso assunto de hoje.
O pâncreas é um pequeno órgão que participa do sistema digestório. Com cerca de 20 cm de comprimento e 100g de peso, é uma glândula que fica junto do estômago e exerce vários papeis fundamentais na nossa saúde.
O que faz o pâncreas?
1) Produz insulina e glucagon, aqueles hormônios fundamentais no controle dos níveis de açúcar.
Quando as células produtoras de insulina deixam de trabalhar, a pessoa fica diabética do tipo 1!
2) Lança enzimas que digerem os carboidratos, as gorduras e as proteínas no intestino
3) Produz somatostatina, que regula a movimentação do estômago e intestinos na digestão.
Como podemos proteger a saúde do pâncreas?
- Não fumar: o cigarro é o fator de risco mais relevante e evitável para o câncer de pâncreas. Parar de fumar reduz consideravelmente o risco para essa doença.
- Evitar o consumo excessivo de álcool: o consumo abusivo e ou diário é um fator de risco para pancreatite crônica e para o câncer de pâncreas.
- Manter o peso adequado: a prática de atividade física é protetora para o pâncreas. A obesidade deixa o seu corpo menos sensível à insulina, então o pâncreas precisa trabalhar mais, produzindo mais insulina. E esse desgaste favorece o diabetes do tipo 2.
- Alimentar-se de modo saudável: evitar o consumo excessivo de carnes vermelhas processadas – como as embutidas e defumadas. Os refrigerantes e bebidas adoçadas industrializadas também parecem estar associadas a maior risco.
- Controlar níveis de colesterol e triglicérides. Níveis elevados de gordura no sangue também causam inflamação do pâncreas. Os triglicérides altos são uma das principais causas de pancreatite aguda.
- Cálculos de vesícula biliar requerem avaliação e orientação por médico especialista, pois podem migrar e causar pancreatite aguda.
- Proteger-se do contato com pesticidas, benzeno e outros derivados petroquímicos em ambientes profissionais.
A verdade é que a melhor forma de cuidar do pâncreas é adotar todos os cuidados que são importantes sempre que se fala de saúde!
Quais exames podem ser feitos para detectar o câncer de pâncreas precocemente?
É difícil de se detectar o câncer de pâncreas em estágio inicial. Os sintomas surgem apenas nos estágios mais avançados. Também não é possível suspeitar por exame físico, nem por exames de rotina básicos. Não há exames de sangue eficientes ou confiáveis para essa finalidade. Os marcadores tumorais CA19-9 e CEA podem se alterar por muitas outras condições que não o câncer de pâncreas. Por outro lado, os tumores podem surgir sem alterar CEA e CA19-9. E os exames de imagem que conseguem fornecer informações mais precisas do pâncreas, como ressonância magnética e ecoendoscopia são caros, demorados e não disponíveis rotineiramente.
Portanto, ainda existe essa lacuna, quando se pensa em uma rotina eficiente de exames para detecção precoce desse tipo de câncer, diferentemente do que dispomos para os cânceres de intestino, mama, útero e próstata.
“São precisamente as perguntas para as quais não existem respostas que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras da nossa existência.” (em A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera)
Quem tem mais risco de desenvolver câncer de pâncreas
Alguns dos principais fatores de risco já estão listados acima, quando falamos sobre as medidas para proteger a saúde do pâncreas.
- Tabagismo: o tabaco é cancerígeno
- Obesidade
- Diabetes mellitus tipo 2
- Pancreatite crônica: que é comum em pessoas que fazem consumo pesado de álcool e fumam
- Exposição profissional a tóxicos químicos industriais
- Idade: acima dos 45 anos de idade, e principalmente a partir dos 65 anos de idade
- História familiar:
- casos de câncer de pâncreas na família
- síndromes genéticas na família:
- câncer de mama e ovário
- síndrome familiar de melanoma
- pancreatite familiar
- síndrome de Lynch
- síndrome de Peutz-Jeghers
Teste genético
Os testes genéticos podem ser considerados para pessoas com risco por causa da história familiar. Entretanto, os testes apenas apontam para o risco. A pessoa pode ter uma mutação, mas isso não quer dizer que ela virá a desenvolver a doença. Por outro lado, se o teste genético for positivo, essa informação pode ajudar na decisão de realizar check up com exames de imagem mais específicos.
Enfim…
Manter um estilo de vida saudável ainda é a medida mais eficaz sob todos os aspectos, incluindo a proteção do pâncreas. Não podemos bloquear a idade que avança nem alterar nossa carga genética. A vigilância com exames laboratoriais e de imagem podem ser feitos em situações específicas de maior risco.
Veja também:
Referências Bibliográficas e Leitura Recomendada
1. https://newsinhealth.nih.gov/2017/02/power-your-pancreas
2. https://www.dmc.org/healthy-living/corporate-content/what-does-the-pancreas-do-and-how-to-keep-it-healthy
3. Atkinson MA, Campbell-Thompson M, Kusmartseva I, Kaestner KH. Organisation of the human pancreas in health and in diabetes. Diabetologia. 2020 Oct;63(10):1966-1973. doi: 10.1007/s00125-020-05203-7. Epub 2020 Sep 7. PMID: 32894306; PMCID: PMC7565096.
4. Klein AP. Pancreatic cancer epidemiology: understanding the role of lifestyle and inherited risk factors. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2021 Jul;18(7):493-502. doi: 10.1038/s41575-021-00457-x. Epub 2021 May 17. PMID: 34002083; PMCID: PMC9265847.
5. Aslanian HR, Lee JH, Canto MI. AGA Clinical Practice Update on Pancreas Cancer Screening in High-Risk Individuals: Expert Review. Gastroenterology. 2020 Jul;159(1):358-362. doi: 10.1053/j.gastro.2020.03.088. Epub 2020 May 19. PMID: 32416142.
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