Vida saudável é mais importante que o peso

A obesidade parece ser um assunto já tão discutido, mas o que devemos saber sobre isso? A obesidade pode predispor a vários problemas de saúde, mesmo sendo possível ser obeso saudável. Vamos entender melhor!

 

Estar certo é menos importante para nós do que a liberdade de estar errado.

Rostand, Jean

Ainda existem muitas incertezas sobre a obesidade…

Quando é que nos tornamos uma população de obesos?

A princípio, a humanidade já passou muita fome durante sua evolução. Nos últimos 300 anos, o peso médio das pessoas vem aumentando. Em 2015 cerca de 12% da população mundial adulta estava obesa (IMC > 30 kg/m2). A obesidade infantil também tem preocupado os pais, os médicos e os governos.

O pico da obesidade para mulheres é após a menopausa por volta dos 60 anos e para os homens em torno dos 50-54 anos.

A obesidade já foi considerada o padrão de beleza conforme a época e a cultura (Detalhe da pintura de Bacchus de Rubem, museu artnewal.org)

Por que ganhamos peso?

Há um complexo sistema regulador da fome com uma integração do sistema nervoso central, do trato gastrointestinal, e também dos tecidos adiposos. Neste sentido, de maneira muito simplificada, os nutrientes ingeridos induzem a liberação de hormônios por parte do intestino que sinaliza saciedade ao cérebro. Há a supressão de hormônios da fome como a grelina. A leptina é um hormônio produzido pelo tecido adiposo que também sinaliza ao cérebro saciedade, ou bons estoques energéticos. Se a quantidade de calorias ingeridas diminui, a produção de leptina cai, e a fome aumenta. Acredita-se que um distúrbio neste complicado sistema de regulação possa induzir a uma ingestão maior de calorias e possa determinar a obesidade.

Sabe-se que a obesidade resulta de uma associação entre uma susceptibilidade genética e um estilo de vida. Há a hipótese que genes que favoreçam o armazenamento energético tenham sido selecionados durante a evolução humana. Com a invenção do cozimento e maior disponibilidade dos alimentos, podemos ter “inventado” a adiposidade.

O que a obesidade pode predispor?

Devemos saber que a obesidade predispõe a vários problemas de saúde:

Quem nunca fez uma dieta que atire a primeira pedra! Mas… quando é que precisamos perder peso?

o que sabemos sobre a obesidade?

Os estudos sobre obesidade e saúde em geral usam o índice de massa corpórea para classificar os indivíduos sobrepeso e os obesos. Mas essa maneira de se avaliar pode não ser a mais correta, pois desconsidera fatores constitucionais importantes, como grupo étnico, localização da adiposidade, quantidade de músculos. Assim, o IMC nem sempre separa corretamente as pessoas que estão de fato sob maior risco. Existem outras medidas para reclassificar a obesidade como a medida da cintura e a razão da cintura/quadril, assim como com medidas de bioimpedância para estimar a porcentagem de massa muscular e a de gordura. Sabe-se que a adiposidade localizada no abdome e nas vísceras é mais prejudicial do que aquela distribuída pelos membros.

Como entender os números?

De modo geral, o sobrepeso tem IMC entre 25 e 30 e o obeso >30 kg/m2. A circunferência abdominal > 102 cm para o homem e > 88 cm para a mulher também se associa a maior adiposidade abdominal e maior risco cardiovascular. A razão cintura/quadril alta (maior que 1) é um preditor melhor que o IMC para identificar aqueles em maior risco de infarto. Pois o que realmente importa é a quantidade de massa adiposa visceral que a pessoa tem, e não o seu peso corporal. Alguns pesquisadores defendem que aqueles indivíduos sobrepeso, se não tiverem outras comorbidades associadas, devem ser orientados a não ganhar mais peso, ao invés de emagrecer. A atividade física é um poderoso recurso para contrapor os riscos cardiovasculares nestes indivíduos. Contudo, o excesso de peso ao longo da vida acumula maior risco cardiovascular e de outras patologias, especialmente após os 45 anos e com maior ênfase no gênero feminino.

Assim, se você está com seu IMC aumentado, ou com a relação cintura-quadril alta, ou acima dos valores da circunferência abdominal e tem resistência a insulina, diabetes ou hipertensão arterial, dislipidemia ou histórico de infarto, é importante perder peso.

Conheça seu IMC, calcule:

Calculadora de IMC

O excesso de quilos pode não ser o único problema de saúde

 

O peso per se não é sinônimo de saúde.

A pessoa obesa pode ter níveis de glicose e do colesterol normais, assim como a pressão arterial pode estar dentro da faixa normal. E pessoas magras podem ter o perfil lipídico alterado e serem hipertensas. Mas o obeso tem um risco maior de desenvolver problemas metabólicos ao longo da vida como resistência a insulina, diabetes, pressão alta, hipercolesterolemia, infarto, AVC, insuficiência cardíaca, hepática, renal, artrose… Devemos saber que a obesidade predispõe a vários problemas de saúde, mesmo sendo possível estar obeso ou em sobrepeso e saudável.

É mais importante ter bons hábitos do que um número na balança.

Pessoas com IMC >25 que mantenham hábitos saudáveis como atividade física, dieta com nutrientes de qualidade, pouco sal, pouco açúcar, sem cigarros e sem álcool minimizam os riscos à saúde. De fato, se você fizer tudo isso sempre, com regularidade, suas chances de ser obeso serão baixas. Os obesos sem alterações metabólicas que praticam atividade física aeróbica se mantêm numa faixa de mortalidade próxima da população em geral. Deste modo, minimizam os riscos de outras doenças e postergam as complicações da obesidade.

 

A busca obsessiva do peso ideal pode ser prejudicial a saúde.

Vida saudável é mais importante que o peso
Um estilo de vida saudável pode ser mais importante para a saúde do que um número na balança (Imagem por Pexels from Pixabay)

Dietas muito restritivas, perda de peso acentuada e rápida pode indicar uma desnutrição aguda com riscos concretos a saúde. E talvez por isso tenham uma eficácia tão pequena na manutenção de um peso menor …

 

Nem sempre o cardápio é o culpado…

Existem condições clínicas que podem provocar o aumento de peso, como a apneia do sono, depressão, ansiedade, hipotireoidismo, Cushing…

 

Veja esse rápido vídeo do TED-Ed sobre a obesidade, faz um bom resumo:

Obesidade e a Pandemia de Covid

Recentemente, a obesidade foi reconhecida como um fator de risco para pior prognóstico na Covid-19, com maiores taxas de hospitalização, necessidade de ventilação mecânica e com maior mortalidade.

Para concluir, devemos saber que a obesidade predispõe a vários problemas de saúde, mesmo sendo possível ser obeso saudável com um estilo de vida que inclua muita atividade física, minimizando esses riscos e os postergando ao longo da vida.

 

Referências:
1. JAMA Network Open. 2021;4(5):e218505. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.8505

2. Afshin A., Forouzanfar M.H., Reitsma M.B., Sur P., Estep K., Lee A., et. al.: Health effects of overweight and obesity in 195 countries over 25 years. N Engl J Med 2017; 377: pp. 13-27.
3. 2019 Jan; 10(Suppl 1): S4–S9. Published online 2019 Feb 5 doi: 10.1093/advances/nmy055

4. Eur Heart J 2013 Feb;34(5):389-97. doi: 10.1093/eurheartj/ehs174. Epub 2012 Sep 4.

5.https://doi.org/10.1016/j.ajpc.2021.100149

6.Perakakis et al. Leptin in Leanness and Obesity JACC VOL. FEBRUARY 77, NO. 6, 2021 16, 2021:745–60

7. Obseity: Pathophysiology and Management J Am Coll Cardiol. 2018 Jan 2; 71(1): 69–84. doi: 10.1016/j.jacc.2017.11.011

 8. JAMA Netw Open. 2021;4(4):e213897. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.3897
 9. 2018 Jul; 97(30): e11639. Published online 2018 Jul 27. doi: 10.1097/MD.0000000000011639