Moça bonita sorridente faz sinal de equilíbrio com as mãos na frente do abdômen representa saúde digestiva

Precisamos dar especial atenção à digestão, que é fundamental para a qualidade de vida e para a saúde como um todo

A saúde digestiva muitas vezes fica esquecida na correria do dia-a-dia. Com que frequência você sente que a refeição “não caiu bem”? Que “ficou conversando com o almoço até a hora do jantar?” Que os intestinos ficam travados ou funcionam demais? Muitas pessoas não se sentem bem, mas acabam convivendo com a sensação de peso no estômago, ou inchaço ou diversos outros tipos de sintomas digestivos.  Nos consultórios e serviços de pronto-atendimento, são realizadas milhões de consultas, todos os dias, por essas queixas também.

Moça com expressão de dor, segura com os braços a região do estômago e curva-se, desconfortável pela refeição. Fundo vermelho e blusa de tom alaranjado.
A dor de estômago após a refeição e outros sintomas de má digestão comprometem o bem estar e a qualidade de vida de milhões de pessoas no mundo todo. (Imagem: Freepik)

São crises de dor, desconforto relacionados à alimentação, que podem tirar a pessoa da sua rotina de estudos, trabalho e lazer, e comprometem bastante a sua qualidade de vida. Esse conjunto de sintomas e sinais relacionados à má digestão denomina-se “síndrome dispéptica” ou “dispepsia”, no vocabulário médico.

Quando procurar o médico por sintomas digestivos?

Muitas vezes, percebemos que o mal estar digestivo aconteceu por algum tipo de abuso na alimentação ou por uma crise de estresse emocional. Entretanto, deve-se procurar o médico nas seguintes situações:

  • Pessoas com mais de 60 anos de idade que começam a ter alterações no padrão da digestão
  • Se houver
    • vômitos 
    • azia recorrente
    • sangue nas fezes
    • emagrecimento sem mudanças na dieta
    • anemia
    • dor ou dificuldade para engolir os alimentos
    • mudança no padrão de funcionamento do intestino
  • Se os sintomas interferem na sua rotina

Nesses casos, a avaliação por um profissional competente pode esclarecer se os sintomas são atribuíveis a doenças como gastrite, esofagite, refluxo gastroesofágico, úlcera, parasitoses, câncer, doenças no fígado ou vias biliares, ou até mesmo doenças em órgãos fora do aparelho digestivo. Também pode verificar a necessidade de pesquisar e erradicar a bactéria Helicobacter pylori, que é capaz de infectar o estômago. 

Quais são os cuidados que podemos ter para uma boa digestão?

É interessante como a saúde digestiva não diz respeito somente ao tipo de alimento que se consome. Mais que isso, envolve todo o estilo de vida!

Bons hábitos que auxiliam a digestão:

  • ALIMENTAÇÃO: Preferir os vegetais e grãos integrais ricos em fibras, que também favorecem a microbiota. Evitar os industrializados, gordurosos, excessivamente condimentados.
grãos integrais e vegetais ricos em fibra em 4 potes de madeira sobre a mesa
Grãos integrais e vegetais favorecem a microbiota.
  • HIDRATAÇÃO: Tomar água e líquidos ao longo do dia é importante para o bom funcionamento dos intestinos.
  • ATIVIDADE FÍSICA: Com regularidade, distante da refeição, a atividade aeróbica pode melhorar o peristaltismo e a microbiota intestinal
duas garotas descansam sentadas na calçada com roupa esportiva, uma recostada lateralmente na outra e bebendo água
Atividade física e boa hidratação favorecem o peristaltismo e a microbiota intestinal.
  • DEITAR-SE: Esperar pelo menos duas horas após a última refeição, antes de deitar-se para dormir.
moça que jantou mais de duas horas antes de se deitardormindo relaxada e abraçada ao cãozinho

Esperar pelo menos duas horas após a refeição para se deitar.

Atenção aos fatores que podem prejudicar a saúde digestiva!

  • ÁLCOOL: com moderação, não ingerir nos períodos com mais sintomas.
  • TABACO: não fumar! Álcool e tabaco agridem o sistema digestivo, além de serem cancerígenos.
  • CAFÉ e CHOCOLATE: Moderação, pois contêm cafeína, que favorece o refluxo gastroesofágico.  Mas com bom senso, pois trazem benefícios à saúde também!

xícara de café, em pires enfeitado com grãos de café, colher sobre a mesa de tronco de árvore

copo de uísque e charuto aceso ao lado

 

  • MEDICAMENTOS, SUPLEMENTOS E FITOTERÁPICOS: restringir ao estritamente necessário
    • Evitar os antiinflamatórios não esteroidais (por ex: diclofenaco, nimesulida, ibuprofeno, etc)
    • Antibióticos alteram a microbiota intestinal

medicamentos podem causar gastrite

  • SAÚDE MENTAL: estresse laboral, situações de abuso e violência, pressões da vida nos grandes centros urbanos, ansiedade, transtornos do humor estão relacionados a dispepsia.

moça com face tensa, dispepsia, apóia mão na testa, olhando computador

Dispepsia é grave?

Quando os sintomas dispépticos começam a ficar frequentes, ou a atrapalhar nossa rotina, vem a preocupação. Será que eu tenho úlcera ou câncer? Felizmente, na maioria das vezes, a dispepsia não é causada por doenças orgânicas: são funcionais. Isso significa que o mal estar é revertido quando essas pessoas passam a cuidar dos hábitos de vida e a lidar melhor com aspectos emocionais.

Quanto a tomar medicamentos inibidores da produção de ácido gástrico (por ex. omeprazol, pantoprazol), antiácidos (por ex. hidróxido de alumínio), pró-cinéticos (por ex. domperidona) e antidepressivos tricíclicos (por ex. amitriptilina) são possibilidades a serem discutidas com o médico individualmente. A psicoterapia também é benéfica e essencial em muitos casos. Portanto, a abordagem da dispepsia funcional pode envolver diferentes profissionais, além do gastroenterologista, como o nutricionista, o educador físico e o psicoterapeuta.

E como boa digestão é assunto que interessa a todo mundo, vamos prosseguir falando sobre os diversos aspectos aqui mencionados, mais detalhadamente, nas próximas postagens. Fique conosco!

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

https://www.worldgastroenterology.org/wgo-foundation/wdhd

https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/h-pylori/symptoms-causes/syc-20356171

Moayyedi  et al. ACG and CAG Clinical Guideline: Management of Dyspepsia. Am J Gastroenterol 2017; 112:988–1013

https://www.nature.com/articles/nrgastro.2013.10?cacheBust=1508257179698

Escrito por

Marta Deguti

Médica hepatologista, nipo-paulistana de nascimento e de coração, casada, mãe de dois filhos, de um cãozinho e de uma gatinha.