Você provavelmente já ouviu falar do protocolo de limpeza do fígado, uma técnica que seria capaz de eliminar pedras da vesícula biliar. Isso começou em 2003, quando o naturopata Andreas Moritz publicou a sua receita em um livro que prometia limpar o fígado, eliminar pedras da vesícula sem dor, melhorar a saúde, o bem estar, curar artrite e “muito mais”.
A receita recomenda uma dieta de base vegetariana e sem alimentos frios durante toda a semana que antecede o dia da limpeza. Esse dia, por sua vez, deve ser escolhido de acordo com a fase da Lua. A seguir, Moritz recomenda a ingestão abundante de laxante sulfato de magnésio (também conhecido como sais de Epsom ou sal amargo). Depois, orienta tomar um copo de suco de limão misturado com azeite, fracionado até o dia seguinte. O resultado é que, junto com as evacuações promovidas pelo laxante, saem cálculos reluzentes de cor esverdeada. Ou seja, a pessoa elimina pelo intestino, sem dor, pedras que acredita ser da vesícula biliar.
De onde vêm os cálculos eliminados quando se faz a “limpeza do fígado”?
Em 2005, dois cientistas da Nova Zelândia decidiram investigar a composição desses cálculos eliminados pelo “protocolo de limpeza” de Andreas Moritz. Christiaan W. Sies, do Canterbury Health Laboratories, e Jim Brooker, do Hospital Waikato receberam o material eliminado por uma paciente e examinaram cuidadosamente os componentes no microscópio.
Então, constataram que o material expelido resulta da ação de enzimas do estômago com a gordura do azeite. Isso porque o suco de limão – rico em potássio, promove uma reação chamada de saponificação. Sim, é semelhante à reação com que se fabrica sabão a partir de óleo. Ou seja, as pedras eliminadas não contêm bilirrubina, colesterol e cálcio, como costumam ter os cálculos biliares. Isso quer dizer que as pedras são basicamente azeite saponificado!
Realmente, quem conhece a anatomia da região do fígado e das vias biliares, sabe que não haveria a possibilidade de tantos cálculos, com dimensões tão grandes, passarem pelo ducto que conduz até o intestino sem provocar dor, nem outros transtornos. Aliás, o volume de cálculos expelido nas fezes é incompatível com o tamanho da vesícula.
Conclusão: “protocolo de limpeza de fígado e vesícula” é mito!
Portanto, o Protocolo de Limpeza de Fígado e Vesícula não cumpre o que anuncia. É mais um mito da atualidade. Parecem cálculos de vesícula eliminados, mas não são!
“Para quem quer ver, há luz suficiente; para quem não quer, há bastante obscuridade.“ (Blaise Pascal)
Quem quiser entender mais sobre esse assunto, recomendo conferir:
- https://thehealthnewsletter.wordpress.com/2020/04/28/limpeza-da-vesicula-e-o-milagre-da-anatomia/
- https://saude.abril.com.br/coluna/e-verdade-ou-fake-news/protocolo-que-limpa-figado-e-vesicula-com-certos-alimentos-evita-doencas/
- https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/07/01/protocolo-para-limpeza-de-figado-e-vesicula-evita-doencas.htm
Referência bibliográfica:
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140673605663738/fulltext DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(05)66373-8