Envelhecer é natural. Mas o que podemos esperar das mudanças do corpo e da mente com o implacável passar dos anos?
“Pouco importa venha a velhice, que é velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais do que a mão de uma criança.” Carlos Drummond de Andrade
Afinal, o que é envelhecer?
O envelhecimento é caracterizado por mudanças progressivas e, de certa forma, previsíveis ao longo do tempo. Com elas, o corpo fica mais frágil e por isso mais suscetível às doenças.
Mas o envelhecimento não é igual nem uniforme: os órgãos de uma mesma pessoa envelhecem em tempos diferentes, dependendo de características genéticas, de escolhas de estilo de vida e de exposição a determinados agentes ambientais.
Genética ou ambiente?
Tanto a genética quanto os fatores ambientais importam para determinar a velocidade do envelhecimento.
Existe forte interação entre os genes e os fatores do ambiente. Determinados tipos de alimentos, também estresse, medicações, depressão, exposição solar ou a radiações, cigarro, álcool, poluição, provocam modificações genéticas que facilitam doenças e promovem o envelhecimento.
Por exemplo, células de fumantes, de sedentários e de ultraestressados tendem a ficar mais velhas e a sofrer transformações em velocidade acima do que seria esperado.
No entanto, nos indivíduos muito longevos, que vivem 90, 100 anos ou mais, o peso da genética é mais forte do que o dos fatores ambientais.
O que é esperado ao envelhecer?
À medida que envelhecemos, vamos pouco a pouco perdendo as reservas naturais e fisiológicas do corpo para enfrentar dificuldades. Sem reservas, eventos como hospitalização ou doença podem facilmente levar ao colapso do organismo como um todo e, consequentemente, à morte.
Manter o equilíbrio do corpo é um processo dinâmico, ativo. A fragilidade acontece quando já utilizamos o máximo das nossas reservas e, por isso, qualquer evento desfavorável, ainda que pequeno, é capaz de produzir grandes impactos no organismo.
Na pele, nos olhos e o invisível
As rugas, as rugas… E muito além delas…
A pele perde elasticidade, fica seca e atrofia, tornando-se mais fina e vulnerável. Porém, 90% das alterações de pele – indesejadas pela aparência – acontecem pelo envelhecimento decorrente da exposição à luz solar.
Os olhos não enxergam tão bem de perto. A sensibilidade da córnea diminui e a produção das lágrimas decresce.
Existe diminuição do olfato e, consequentemente, do paladar. Por isso, o prazer de comer diminui.
Também a audição fica comprometida. Ambientes barulhentos passam a dificultar o reconhecimento da fala. A diminuição auditiva leva ao isolamento social.
A reserva dos pulmões diminui. Os músculos respiratórios enfraquecem e a caixa torácica fica mais rígida. A tosse perde potência e fica menos vigorosa. As pneumonias ficam mais frequentes.
Perdemos massa muscular, calcificamos válvulas e artérias, enquanto descalcificamos os ossos. As fraturas ficam mais comuns.
Alteramos nosso ritmo circadiano, diminuímos nossa capacidade de ajustar os batimentos cardíacos e a pressão arterial. Ficamos mais sujeitos a quedas e a desmaios.
Ocorrem mudanças na produção hormonal. Nossas células de defesa já não funcionam tão bem. Ficamos mais frágeis a infecções e com maior risco de formar coágulos. O risco de câncer aumenta. A inflamação aumenta.
A microbiota intestinal muda e o sistema imunológico do intestino também fica comprometido. Intestinos e digestão mais lentos. O refluxo gastro-esofágico fica mais frequente.
O fígado diminui de tamanho e também reduz sua capacidade de depurar muitas substâncias, como medicamentos.
A incontinência urinária é comum. As alterações no sistema geniturinário predispõem às infecções de repetição, à disfunção erétil e à dor na relação sexual.
Os rins têm declínio da sua função e, por isso, ficam mais suscetíveis à nefrotoxicidade de algumas medicações, como o contraste endovenoso.
Klotho e a longevidade
Klotho é uma proteína antienvelhecimento produzida nos rins. Ela protege as células renais por inibir a produção de substâncias inflamatórias e, assim, evitar uma resposta imunológica nociva.
Esta proteína parece ter importante papel na longevidade. Os rins diminuem sua produção com o passar do tempo. Porém, os indivíduos mais longevos parecem ser aqueles cujos genes são capazes de manter níveis elevados de klotho ao longo dos anos.
O cérebro e a memória
O volume do cérebro diminui, principalmente o da substância branca em relação ao da cinzenta. Existe perda de neurônios e diminuição do fluxo sanguíneo cerebral, trazendo mais suscetibilidade às quedas de pressão.
No processo de envelhecimento, algumas memórias se alteram, como a de trabalho e a memória recente. Em geral, as recordações do passado permanecem vivas e ricas em detalhes.
O envelhecimento saudável pode trazer um pequeno déficit de atenção, de concentração e de armazenamento de dados atuais, mas que não compromete as funções sociais do indivíduo.
O uso repetitivo do cérebro para aprender novas tarefas recruta neurônios e pode ser uma estratégia para manter as funções cerebrais.
Atividades sociais, de lazer e de aprendizado (aprender um novo idioma, fazer pós-graduação ou um curso universitário) podem atrasar o processo de declínio cerebral que ocorre com a idade.
“Tempo amigo seja legal… só me derrube no final!” – Pato Fu
Mas envelhecer, a despeito das alterações naturais esperadas, traz o privilégio enorme de construir uma história de vida, de adquirir conhecimento e experiência, de acompanhar a vida de filhos, netos, sobrinhos, afilhados e de aprender sempre.
Também permite transmitir sabedoria, além de observar as gerações futuras, acompanhar as novidades tecnológicas e as grandes descobertas científicas.
“Tempo, tempo, tempo, tempo…
Vou te fazer um pedido” – Caetano Veloso
Os segredos das Blue Zones, as regiões onde se vive mais e melhor
As Zonas Azuis são localidades do mundo onde seus habitantes vivem mais do que em qualquer outro lugar do planeta. Nestas cinco regiões, os moradores alcançam a longevidade de maneira ativa e com qualidade, com menor incidência de doenças cardíacas e de demência. São elas:
- Okinawa – Japão
- Barbagia da Sardenha – Itália
- Península de Nicoya – Costa Rica
- Ikaria – Grécia
- Loma Linda, Califórnia – EUA
Quais os segredos dos moradores destas regiões para um envelhecimento ativo e saudável?
- Mantenha-se fisicamente ativo: não é preciso ser atleta, mas é importante manter uma rotina de exercícios. Que tal começar com uma caminhada?
- Durma bem, de 6 a 8 horas por noite, em quarto escuro, sem ruídos.
- Cultive amizades. Dedique-se também à sua comunidade. Manter laços afetivos contribui para o alcance da longevidade. Fuja da solidão.
- Tenha hobbies.
- Aplique a regra dos 80% ao se alimentar, isto é, parar de comer ao alcançar 80% da saciedade. Controle o peso.
- Respeite os idosos! Isto promove o sentido de pertencimento do idoso e associa o envelhecimento a um privilégio. Envelhecer é bom!
- Escolha bem seus alimentos. Evite alimentos industrializados ou ricos em açúcares. Também é importante não se intoxicar. Não fume e evite bebidas alcoólicas.
- Diminua o ritmo e evite o estresse. Aumente o contato com a natureza. Mantenha a fé.
- Cultive o sentido da sua vida, alegre-se com pequenas coisas, trabalhe no que gosta e aprenda sempre!
Se você é (ainda) jovem
As escolhas que fazemos aos 20, 30, 40 ou 50 anos certamente provocarão impacto no corpo, diminuindo ou aumentando nossa saúde e nossas reservas. Por isso, é importante pesar cada decisão sobre o estilo de vida. O que realmente vale a pena?
Lembre-se que prevenir doenças inclui tomar vacinas, fazer avaliações médicas periódicas e seguir adequadamente os tratamentos recomendados. Portanto, não se descuide!
Envelhecer bem é uma escolha!
Quer saber mais?
https://saude.abril.com.br/medicina/quem-quer-ser-um-centenario/