fumaça azul em fundo branco
Folhas e flores do tabaco
As folhas do tabaco são usadas para a confecção de cigarros (Imagem: Couleur de Pixabay)

O tabagismo é considerado uma doença crônica causada pela dependência de nicotina, presente nos produtos derivados do tabaco (folhas da planta Nicotiana tabacum), com inúmeras consequências para a saúde.

A dependência de nicotina pode se desenvolver em dias a semanas do início do consumo ocasional de cigarros e geralmente ocorre antes do seu consumo diário.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o tabagismo é considerado a maior causa evitável de doença e mortes precoces.

No mundo, 34% dos homens e 7% das mulheres usam o tabaco. A maioria dos indivíduos começa a fumar antes dos 18 anos. Porém, quanto mais cedo, maior a chance de continuarem fumando na vida adulta.

No Brasil, o tabaco é a segunda droga mais experimentada, com início de uso aos 16 anos. Responde por 443 mortes diárias com custos bilionários ao sistema de saúde.

Aproximadamente metade de todos os fumantes morrem por doenças relacionadas ao tabagismo. Também, os adultos fumantes perdem cerca de 13 anos de vida devido ao uso do tabaco.

Tipos de uso de tabaco

  • Cigarros- Continuam a ser o maior produto de tabaco consumido no mundo.
  • Narguilé- O narguilé existe há muito tempo, com origem um pouco nebulosa, mas as rotas de comércio pela Índia e pela China ajudaram a disseminá-lo em todas as partes da Ásia, da África e do Oriente Médio. Foi usado para fumar não só tabaco, mas também flores, especiarias, frutas, café, marijuana e haxixe. Dependendo da tradição local, também é chamado de narguilê, arghile, sisha, hookah, waterpipe, cachimbo d’água, gouza, entre outros. A queima do tabaco ocorre por carvão e a fumaça é resfriada na água, facilitando sua inalação mais profunda e com mínima filtração. Assim, em cada sessão de narguilé, seu usuário chega a inalar 50 litros de fumaça, o equivale a fumar 100 cigarros convencionais. Além disso, o tabaco utilizado tem cerca de 4 vezes mais nicotina, 100 vezes mais alcatrão e 11 vezes mais monóxido de carbono que o cigarro comum.
  • Vapores- São principalmente os cigarros eletrônicos, capazes de oferecer 10 vezes mais nicotina do que o cigarro comum.  Seu uso tem sido maior entre adolescentes e está associado à dependência de nicotina e subsequente consumo de cigarros convencionais. Em adultos, a ideia de que os cigarros eletrônicos ajudariam a parar de fumar gerou um aumento do seu uso. Porém, seus riscos ainda não são totalmente conhecidos.

 

cigarro eletrônico
Cigarro eletrônico (Imagem: Lindsay Fox de Pixabay)

Cigarros eletrônicos: 

São aqueles que usam bateria para aquecer um líquido, produzindo aerossol para ser inalado. Na maioria dos casos, esse líquido contém nicotina, mas pode ter outras substâncias, como propilenoglicol e aromatizantes, alguns metais e arsênico. Óleos com Tetrahidrocanabidiol (THC) também podem ser usados.
As consequências do uso prolongado do cigarro eletrônico ainda são parcialmente desconhecidas. Os níveis tóxicos e carcinogênicos das substâncias usadas para aerossol podem variar dependendo dos componentes do líquido do cigarro eletrônico. Por exemplo, em altas temperaturas, o propilenoglicol decompõe-se em uma provável substância carcinogênica.

Em 2019, o Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos EUA relatou mais de 2000 casos suspeitos de doença pulmonar grave relacionada aos cigarros eletrônicos (vaping), principalmente com o uso de refis obtidos de forma ilícita ou irregular.

Heat-not-burn (HNB): é um outro tipo de aparelho eletrônico que aquece o tabaco a temperaturas muito mais baixas do que o cigarro convencional. Em teoria, seria menos prejudicial, mas ainda são necessárias mais pesquisas.

 

Algumas consequências do tabagismo

O tabaco facilita infecções respiratórias, osteoporose em mulheres, úlceras gástricas, contribui para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, para a impotência sexual e para a infertilidade masculina e feminina. Mata mais de 8 milhões de pessoas por ano no mundo e a maioria destas mortes ocorre por:

  • doença cardiovascular aterosclerótica: acidentes vasculares cerebrais, doença das artérias periféricas e ataques cardíacos
  • câncer de pulmão
  • doença pulmonar obstrutiva crônica

Efeitos cardiovasculares

O tabagismo é um importante e estabelecido fator de risco para o infarto do miocárdio e outros eventos coronários, como a angina. Os principais responsáveis são os produtos da combustão, entre eles os agentes oxidantes que aumentam os radicais livres, aumentam a oxidação do LDL e contribuem  com vários potenciais mecanismos:

Coágulos: O tabagismo produz um estado de aumento da coagulação e aumento da viscosidade do sangue. Portanto, a trombose é um fator maior de eventos vasculares agudos em tabagistas, principalmente o infarto agudo do miocárdio.

Aumento do trabalho do músculo cardíaco: O tabagismo aumenta a frequência cardíaca em 10 a 20 batimentos por minuto após um único cigarro e uma média de 7 batimentos por minuto durante o dia. Entretanto, provoca elevação apenas transitória da pressão arterial.

A nicotina também contribui com o aumento dos eventos cardiovasculares pois:

  • é um estimulante do sistema nervoso central
  • aumenta a liberação de vários neurotransmissores, por exemplo, adrenalina, noradrenalina, serotonina e vasopressina
  • pode contribuir com o aumento do risco cardiovascular por elevação transitória da pressão arterial, por causar constrição das artérias coronárias e por prejudicar a função do endotélio vascular
  • aumenta a inflamação vascular
  • piora o metabolismo dos lipídeos, com níveis elevados de LDL-colesterol e triglicérides e diminuição de HDL-colesterol

moça fumando narguillé na praia

Narguillé
Narguillé (Foto: form PxHere)

 

Tabagismo e câncer

O tabagismo é a maior causa evitável de câncer e responde por 21% de todas as mortes decorrentes de câncer no mundo. O tabaco atua em múltiplos estágios da carcinogênese: expõe agentes cancerígenos aos tecidos, causa irritação e inflamação, e interfere nas barreiras naturais do organismo.

O tabagismo pode causar câncer em:

  • pulmão – o tabagismo responde por 90% dos casos de câncer
  • intestino
  • esôfago
  • laringe, faringe e boca
  • rins
  • fígado
  • bexiga e ureteres
  • cavidade nasal e seios paranasais
  • pâncreas
  • estômago
  • pênis
  • colo de útero

Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e tabagismo

O maior fator de risco para a doença pulmonar obstrutiva crônica é o tabagismo ativo ou passivo.

A DPOC é comum, evitável e tratável. Caracteriza-se por sintomas respiratórios persistentes e por limitação do fluxo de ar para os pulmões. São exemplos o enfisema pulmonar, a asma e a bronquite crônica.

Tabagismo Passivo

O tabagismo passivo é a exposição à fumaça gerada pela queima do tabaco e exalada pelos fumantes. A exposição à fumaça do tabaco está relacionada ao desenvolvimento de doenças relacionadas ao tabagismo mesmo em quem não fuma.

Portanto, não há níveis seguros para essa exposição.

Crianças expostas à fumaça do cigarro têm risco aumentado de:

  • síndrome da morte súbita infantil
  • asma e problemas respiratórios
  • infecções de ouvido e problemas auditivos
  • desenvolvimento de doenças cardiovasculares e câncer na vida adulta

Quais os problemas de fumar durante a gravidez?

O tabagismo pode levar a sérios prejuízos. Então, todos os produtos com nicotina devem ser evitados na gravidez.

As fumantes têm maior risco de:

  • trabalho de parto prematuro
  • problemas na placenta
  • abortamentos e mortes fetais
  • nascimentos de bebês de baixo peso

Anticoncepcionais orais e tabagismo

As recomendações da Organização Mundial da Saúde e do CDC dos EUA contraindicam o uso de contraceptivos hormonais combinados para mulheres a partir de 35 anos que fumam 15 ou mais cigarros por dia. Estudos demonstram que mulheres fumantes em uso de contraceptivos hormonais combinados têm maior risco cardiovascular, principalmente de infarto, se comparadas àquelas que não fumam. Este risco aumenta com a idade e com o número de cigarros fumados por dia.

COVID-19 e tabagismo

Uma pesquisa publicada em julho de 2020, que afirmava que fumantes tinham menos chances de desenvolver covid-19 do que os não fumantes, foi retirada do ar pelo European Respiratory Journal após ser descoberto que dois autores possuem ligação com a indústria do tabaco. Um outro artigo, publicado no BMJ Evidence-based Medicine, analisou 15 estudos que apontam para o “paradoxo do tabagismo e a covid-19”. Mas, a análise concluiu que os dados ainda são limitados e questionáveis.

Mesmo que o cigarro oferecesse algum efeito protetor, isto dificilmente superaria os riscos do tabagismo.

 

moça jovem quebrando o cigarro ao meio
Parar de fumar é um desafio possível! Foto criada por nensuria – www.freepik.com

 

Alguns benefícios de parar de fumar

Parar de fumar e manter-se livre de cigarro é um desafio possível de realizar. Pessoas que param de fumar antes dos 50 anos de idade reduzem pela metade o risco de morrer nos 15 anos seguintes, se comparadas àquelas que continuam fumando.

  • um ano sem fumar reduz o risco cardiovascular pela metade. Este risco continua a cair ao longo dos anos!
  • diminuição do risco de acidente vascular cerebral
  • redução do risco de câncer de pulmão após 5 anos sem fumar, embora ainda maior do que o dos não-fumantes
  • diminuição do risco de úlceras digestivas. Parar de fumar também melhora as úlceras que já se desenvolveram!
  • diminuição do risco de outros cânceres
  • parar de fumar por 10 anos diminui a osteoporose e o risco de fraturas do colo do fêmur em mulheres
  • melhora a saúde da família, por diminuir a fumaça dos ambientes comuns e o tabagismo passivo
  • melhora o paladar, o olfato e a saúde bucal
  • diminui o risco de catarata e de degeneração da mácula

Mas ganharei peso se parar de fumar?

O ganho de peso ocorre frequentemente ao parar de fumar, seja por diminuição na taxa de metabolismo basal, por aumento na atividade de algumas enzimas, por mudança nas preferências alimentares e, ainda, por aumento na ingestão de calorias. Embora os riscos da obesidade sejam bem conhecidos, os benefícios de parar de fumar são muito maiores do que os adquiridos pelo ganho de peso. Ainda, a atividade física e a orientação nutricional podem minimizar esta consequência.

Conte sempre com seu médico. Ele pode ajudar.

 

Para saber mais:

Referências:

Narguilé: o que sabemos? | INCA – Instituto Nacional de Câncer

Tabagismo | INCA – Instituto Nacional de Câncer

www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/tobacco

Smoking-attributable mortality, years of potential life lost, and productivity losses–United States, 2000-2004 – PubMed (nih.gov)

Horton L, Simmons K, Curtis KM. Combined hormonal contraceptive use among obese women and risk for cardiovascular events: a systematic review. Contraception 2016. Epub June 1, 2016