taça de vinho tinto

As bebidas alcoólicas fazem parte da vida de muitas pessoas em todo o mundo, seja como facilitadoras das relações sociais, como integrantes da cultura gastronômica, entre diversas formas de uso. Apesar do álcool ser uma substância química que pode causar dependência, diferentemente do tabaco, chega aos nossos dias bem aceita socialmente. Associada à alegria, a celebrações, a relaxamento, a alívio da solidão e a glamour, é introduzida na vida dos jovens, frequentemente, até mesmo pela própria família. 

Mas, afinal de contas, o álcool pode fazer bem à saúde?

Por muito tempo, difundiu-se a informação que o consumo diário de uma a duas taças de vinho poderiam proteger o coração e beneficiar a saúde em geral.  Entretanto, hoje, esse conceito mudou. Sabe-se que eventuais benefícios que o álcool possa trazer são em muito superados pelos outros riscos à saúde. Pelo menos 60 doenças estão relacionadas ao consumo de álcool, entre elas a tão conhecida cirrose do fígado. Além de tudo, hoje, o álcool é reconhecidamente, também, uma droga cancerígena

Então, quanto é seguro beber?

Não existe dose segura. Uma única dose por dia aumenta o risco de ter problemas de saúde relacionados ao etanol em 0,5%; e, se esse consumo se eleva a cinco doses diárias, o risco de danos à saúde chega a quase 40%. Ou seja, quanto mais se bebe, maior o risco de desenvolver alguma doença. 

Mas consideradas as restrições específicas e aspectos que conferem maior susceptibilidade ao álcool, pessoas com a saúde íntegra poderiam consumir etanol observando o máximo de uma dose diária para mulheres, e até duas doses diárias para homens. (E lembre-se de relatar ao seu médico sobre o consumo alcoólico na consulta de check-up, não espere ter sintomas!)

Quem pode ter mais problemas com o álcool?

Cada indivíduo é único, e por isso, não podemos generalizar. Sabemos, entretanto, que a capacidade de metabolizar o álcool depende de fatores que listamos a seguir: 

  1. Idade: com a idade, gradativamente o organismo metaboliza o álcool com menos rapidez; portanto, fígado, cérebro sofrem mais efeitos tóxicos.

  2. Gênero: as mulheres, logo após beber, atingem níveis mais altos de etanol no sangue, por causa do padrão do metabolismo gástrico feminino.

  3. Índice de massa corpórea: pessoas com maior massa corpórea conseguem consumir doses maiores sem dar sinais de intoxicação; por outro lado, os obesos são mais susceptíveis à doença gordurosa do fígado e cirrose. 

    3 mulheres obesas que são mais susceptíveis a alcool andam de costas
    Idosos, mulheres e obesos são mais susceptíveis a doenças relacionadas ao álcool.
  4. Aspectos genéticos: quem tem parentes com histórico de dependência de álcool pode herdar a característica e precisa ter maior cuidado. Europeus e seus descendentes podem apresentar algum benefício e maior tolerância ao consumo moderado de álcool, o que não é constatado nas demais populações.

  5. Condições mentais: é comum que pessoas com problemas de saúde mental tenham dependência alcoólica, assim como o consumo etílico pode agravar doenças mentais. Isso pode ocorrer de maneira sutil ou silenciosa, e tem sido preocupante com as medidas de distanciamento social, que tem gerado forte desgaste emocional durante a pandemia da covid-19. Por isso, é muito importante estarmos atentos a esses aspectos e buscarmos ajuda profissional especializada o mais cedo possível. 

    cartaz da OMS dá a dica que deve-se evitar beber, ou beber mínimo possível, durante período de isolamento social, ficando em casa
    Campanha da OMS pede que se evite o consumo de álcool ao máximo, durante período de isolamento social na pandemia.
  6. Condições de saúde física: diversos aspectos podem modificar a metabolização do álcool.

    1. Medicamentos concomitantes sofrem interferência com o álcool na maioria dos casos. Não se deve beber nunca se estiver em uso de paracetamol, metronidazol, diazepínicos, por exemplo.

    2. Comorbidades como diabetes, cirrose, doença hepática gordurosa, doenças cardíacas estão sob maior risco de terem complicações com o álcool.

    3. Gestantes e mulheres amamentando não devem beber, pois o bebê em desenvolvimento sofre os diversos efeitos tóxicos da droga.

      gestante recusa uma taça de bebida alcoólica que está sendo oferecida
      Álcool na gestação é tóxico ao feto.

       

E quando a bebida passou dos limites?

Se a ingestão de álcool chegar a 15 ou mais doses semanais para homens e 8 ou mais para mulheres, consideramos que é um consumo pesado. Também existe o termo “binge”, que é o consumo ocasional, mas exagerado de álcool. Acontece quando um homem ingere 5 doses, ou uma mulher 4, no intervalo de duas horas. Nesse nível, ocorrem os acidentes automobilísticos, comportamento violento, quedas, doença cardíaca, perda de memória, intoxicação, entre outros grandes prejuízos. 

O que contém mais álcool: uma taça de vinho ou um copo de chope?

copo de cerveja tulipa de 350 ml taça de vinho rosé copo com cachaça e limão (caipirinha) copo de uísque
Bebida Cerveja      Vinho Cachaça Uísque
Volume 350 ml 150 ml 40ml 40ml
Teor alcoólico 5%  12% 40% 40%

A dose padrão de cada bebida equivale a 14 gramas de etanol puro. 

Quantidade de Etanol (g)= volume (ml) * teor alcoólico * densidade do etanol (g/ml)

(Fotos: www.freepik.com)

Concluindo…

Junto com o prazer ou alívio, o álcool pode trazer inúmeros problemas de saúde e subtrair anos de vida saudável. Por isso, precisamos conhecer bem nossas susceptibilidades físicas, psicológicas e genéticas para fazermos boas escolhas, com consciência e responsabilidade.

Referências: 

  1. Burton & Sheron. No level of alcohol consumption improves health. The Lancet. 2018. 
  2. https://www.niaaa.nih.gov/sites/default/files/publications/Alcoholoverdose_508.pdf
  3. American Addiction Centers – Alcohol.org
  4. OPAS/OMS Folha informativa – Álcool.
  5. Organização Mundial da Saúde http://www.who.int/topics/alcohol_drinking/en/
  6. Grossman et al. Alcool consumption during the COVID-19 pandemic: a cross sectional survey of US adults. Int J Environ Res Public Health 2020; 17:9189
  7. https://tudosobrefigado.com.br/biblioteca/cartilhas/cartilha-alcool-e-figado/

Escrito por

Marta Deguti

Médica hepatologista, nipo-paulistana de nascimento e de coração, casada, mãe de dois filhos, de um cãozinho e de uma gatinha.