A dor é um elemento de defesa e autoproteção. Quando sentimos dor, somos alertados de que algo não está bem e que há risco de lesão corporal. Sem esse sentimento, poderíamos nos machucar sem perceber e perder funcionalidade. A dor é sinal de perigo, um alerta de possível doença. A vida é cheia de momentos de dor física. Mas o que acontece quando somos anestesiados?

Quem já passou por um procedimento invasivo sabe como a anestesia parece mágica e misteriosa, em um lapso perdemos a consciência, muitas vezes a memória dos instantes precedentes à anestesia e quando abrimos os olhos novamente, tudo está resolvido. Como isso funciona? É diferente de dormir, pois acordamos de um sono se sofrermos um estímulo doloroso. No sono temos sonhos e movimentos, momentos de sono mais superficial e alguma consciência do ambiente, sentimos calor e frio. Quando anestesiados não temos nada disso.

A dor pode ser intensa o suficiente para impedir as atividades normais da vida, e tratamentos invasivos. Não havia como passar por determinados tratamentos sem sofrimento de dor em variados graus e até mesmo uma dor excruciante, o que tornava a medicina muito traumática. Antes do desenvolvimento da anestesia, muitos procedimentos eram impossíveis.

Imagine como era antes da anestesia…

A humanidade sempre lutou para minimizar o sofrimento da dor, desde os tempos mais antigos são inúmeros os achados arqueológicos neste sentido. A história da anestesia é um testemunho de coragem e compaixão, é uma conquista notável da medicina, proporcionando a ausência temporária da dor, de modo que os procedimentos invasivos possam ser realizados com segurança. Da forma contemporânea, como a conhecemos hoje, a anestesia começou em 1846, quando o dentista americano William T.G. Morton percebeu que as pessoas que usavam o éter de maneira recreativa nas festas não sentiam dor e realizou uma demonstração pública bem-sucedida com o éter como anestésico numa extração de dente no General Hospital em Boston, Massachussets, para espanto do paciente e da platéia. Pouco depois o clorofórmio também foi introduzido como anestésico alternativo ao éter.

Existem três principais tipos de anestesia: local, regional e geral. A anestesia local é usada para insensibilizar uma área específica do corpo, como um dente durante um procedimento odontológico. A anestesia regional bloqueia a sensação em uma região maior, como um membro ou parte do corpo. Já a anestesia geral induz um estado de inconsciência, afetando o corpo como um todo.

Quando uma pessoa está sob efeito da anestesia, ocorrem alterações fisiológicas controladas que proporcionam um estado de insensibilidade à dor. A anestesia local atua bloqueando os sinais nervosos na área específica onde é aplicada. Geralmente, isso é alcançado por meio da administração de agentes anestésicos locais, que interferem na condução dos impulsos nervosos nas fibras sensoriais. Deste modo, há um bloqueio da informação nervosa da dor e o cérebro não recebe o estímulo doloroso.

A anestesia regional, por sua vez, bloqueia os sinais nervosos em uma região maior do corpo. Isso pode ser realizado por meio de bloqueios nervosos periféricos ou da aplicação de anestesia epidural ou espinhal, que afetam as raízes nervosas na coluna vertebral. Esses métodos impedem a transmissão dos sinais de dor para o cérebro.

A anestesia geral é um estado mais complexo, induzindo um coma temporário e controlado. Nesse caso, os anestésicos gerais são administrados por via intravenosa ou por inalação, afetando o sistema nervoso central. Eles provocam uma depressão reversível do sistema nervoso, levando à inconsciência e à ausência de resposta à dor.

O motivo pelo qual não sentimos dor durante a anestesia está relacionado ao bloqueio dos sinais de dor no nível dos nervos periféricos ou na modulação do processamento da dor no cérebro. Os anestésicos interferem na transmissão dos impulsos nervosos, impedindo que eles alcancem as áreas cerebrais responsáveis pela interpretação da dor.

A administração de anestesia é um processo altamente especializado e requer cuidados meticulosos para garantir a segurança do paciente. Os anestesistas, profissionais especializados nessa área, monitoram de perto os sinais vitais durante todo o procedimento, ajustando as doses conforme necessário para manter um equilíbrio adequado entre a ausência de dor e a estabilidade fisiológica.

A anestesia é essencial desde para um tratamento de dente, como para um procedimento estético, como para extensas cirurgias como a cardíaca, as ortopédicas, para o tratamento oncológico, para realização de cateterismo ou ainda para cuidar de crianças e adultos com deficiências que por não compreenderem a situação clínica estejam muito assustados e não aceitem ser  cuidados… A anestesia é um dos pilares da prática médica, o alívio da dor.

Noto que muitas vezes os pacientes antes dos procedimentos tem muito medo da anestesia, pois o que acontece quando somos anestesiados  a anestesia como a ausência da dor é mesmo muito inesperada,  e a inconsciência misteriosa… Porém, a anestesia é essencial à medicina, e é muito segura quando realizada por um médico capacitado.