O medo da Mamografia vem se mostrando um dos grandes obstáculos a realização da prevenção em nossa população.

A mamografia é o exame de rastreamento padrão para câncer de mama.

Muitas pacientes  vêm a mim com grande receio em fazer o exame de Mamografia por medo da dor que ele possa causar.

Porquê ter medo de um exame?

O que pode ser tão assustador?

Como esse  exame é feito?

Mulher fazendo mamografia

O exame de Mamografia é em essência um raio X das mamas. Para que as glândulas mamárias sejam estudadas em sua totalidade, a técnica consiste em apoiar a mama, uma por vez,  sobre a primeira superfície reta do aparelho e aproximar a segunda superfície até que a glândula esteja uniformemente  sob ação do aparelho para se obtenha uma imagem adequada através da administração de uma pequena dose de raios X. (E é exatamente dessa compressão que muitas mulheres têm medo. Aí reside a principal queixa da maioria das pessoas.)

Um dos melhores atributos do exame de mamografia é o fato de que ele consegue fazer detecção precoce dos tumores de mama em situações de pacientes completamente assintomáticas (sem sinais clínicos) em lesões não palpáveis, principalmente através das microcalcificações que ela consegue detectar.

Os exames modernos emitem cada vez menos radiação, sendo exames absolutamente seguros  e de baixo risco. Sua taxa de acurácia gira em torno dos 90%, trazendo 30% de redução da mortalidade por câncer de mamas nas mulheres da população alvo.

A história da Mamografia

Segundo os registros históricos, Albert Salomon foi um médico cirurgião alemão que estudou  em 1913 através de sua monografia a utilidade dos exames de  Raios X  de espécimes de mastectomia (cirurgia de retirada das mamas ), demonstrando a possibilidade de correlação entre a imagem produzida pelos exames de imagem obtidos  e a avaliação da  patologia das doenças da mama com diferencial de afecções benignas e malignas.

imagem histórica da mamografiaAs primeiras radiografias clínicas das mamas foram realizadas por  Romagnoli, na Itália em 1931. 

Desde então, os exames de Mamografia vêm evoluindo em procedimento e aperfeiçoamento tecnológico.

 

Foi o uruguaio Raul Laborgne, em 1949, introduziu o método de compressão da mama e  dois anos depois, publicou um estudo sobre a melhora da qualidade dos exames das  mamas com o método de compressão.

Filmes especiais, desenvolvidos pela Kodak, com  técnica de baixa voltagem(Egan)  levaram a avanços na técnica, até que em 1962, esse autor relata os primeiros 53 casos de câncer mamário ocultos, detectados em 2.000 exames mamográficos.

Durante toda a década de 60, iniciaram-se os estudos conduzidos pela Xerox da técnica de xeromamografia, que demonstrou a relação do câncer com a densidade do parênquima mamário e aprimorou o diagnóstico.

Foi em 1965 que  Charles Gross (Estrasburgo-França), desenvolveu a primeira unidade dedicada à mamografia. Este aparelho proporcionava elevado contraste diferencial entre a glândula mamária , a gordura e as micro-calcificações, por meio de um sistema de compressão que constituía um implemento mais  importante da técnica.

Na década de 70 Frank, Ferris e Steer desenvolveram um  sistema de marcação pré-operatória com agulhamento metálico de lesões não palpáveis através da Mamografia.

mulher fazendo exame de mamografia comprimindo as mamasNo ano de  1985, Tabár descreve resultados para o rastreamento de mulheres entre 40 e 79 anos.Foram avaliadas neste trabalho 134.867 onde, a partir de imagem oblíqua-medio-lateral, foi possível verificar que o exame serviu para detectar alterações que levaram a redução de 31% no risco de mortalidade por câncer de mamas nestas mulheres.

Somente nos anos 2000 foi finalmente desenvolvida e aplicada a uso a Mamografia Digital, que passou a permitir melhor aperfeiçoamento e estudos das imagens obtidas pelo exame radiológico, inclusive poupando o exame do uso de filmes fotográficos a partir de então. A tomossíntese mamária, que consiste numa reconstrução ‘3D’do exame radiografia das mamas, trazendo grande incremento a qualidade de avaliação do exame, foi aprovada em pelo FDA Americano apenas em 2011.

No Brasil, a primeira mamografia foi executada em 1971 em são Paulo.

Em 1979, os Drs.João Sampaio Góes e João Carlos Góes escreveram um atlas, denominado diagnóstico Radiológico das Doenças da Mama.

Mas…poderíamos substituir a Mamografia por outro exame?

Sabemos que ao longo do tempo houve diversas tentativas de usar exames diversos para substituir a ‘famigerada’ mamografia.

A cada época surgem um novo ‘voluntário’a “substituto” da Mamografia…

Termografia de mamas:

Houve tempos  em que foi cogitada a Termografia mamária para detecção de câncer de mama. Este é um exame de imagem feito com um aparelho ou placa que mapeia órgão vivo e mede o calor emitido pelos tecidos do corpo. Esses dados de calor são  transformado em um mapa para que seja analisada por um computador.

termografia de mamas

A idéia básica é que os tecidos tumorais teoricamente apresentam maior vascularização e maior atividade celular, produzindo um sinal mais ‘quente’ no mapa de calor.

Entretanto os estudos mostraram uma taxa de acerto de apenas 63% para esta técnica.

Em 2017, o FDA salientou que a termografia isoladamente não é eficaz como exame para triagem do câncer de mama, câncer oculto ou o diagnóstico de tumores em fase inicial. Reforçando assim as orientações da American Cancer Society, American College of Radiology e da Society of Breast Imaging.

Ultrassonografia mamária:

É um exame muito conhecido, difundido e acessível, completamente indolor, porém, operador dependente. Isto quer dizer que a qualidade e capacidade de detecção do exame depende das habilidades do médico que esteja operando o equipamento.

Ele se baseia na aquisição de imagens de um tecido vivo através da emissão e recepção de ondas sonoras inaudíveis.

ultrassonografia

A principal aplicação da ultrassonografia das mamas é como auxiliar em composição complementar com a Mamografia, para avaliar formato e limites de nódulos, principalmente para diferenciar lesões sólidas de cistos e avaliar a vascularização de lesões que tenham sido detectadas ou palpadas ou em glândulas mamárias densas de mais difícil avaliação pela Mamografia.

Hoje em dia, serve também para avaliação de implantes mamários.

Isoladamente, o Ultrassom de Mamas não se presta a rastreamento e diagnóstico para o câncer de mama.

As principais indicações do Ultrassom da Mamas são:

  • Pacientes com alterações detectadas  na Mamografia, com complemento diagnóstico;
  • Mulheres jovens que tenham alteração/ nódulo palpável nas mamas;
  • Pacientes jovens que possuem histórico familiar de câncer de mama;
  • Pacientes que não podem realizar exames com radiação ionizante, como gestantes;
  • Guiar biópsia, drenagens e punções das mamas.

Ressonância magnética das mamas:

A Ressonância é um exame de imagem baseado em produzir imagens das mamas através de bobinas magnéticas. Isto quer dizer que não há radiação neste exame também.

A mulher é colocada no aparelho deitada de bruços e deve permanecer imóvel ao máximo durante os 40 a 60 minutos do procedimento. É um procedimento indolor, mas desconfortável.

Como as imagens são feitas dentro de um tubo circular que fica fechado e  muito próximo da paciente, muitas pessoas com claustrofobia (medo de espaços fechado e restritos) sentem dificuldade em realizá-lo.

Ressonancia de mamas MRI (magnetic resonance imaging) scanner in a hospital, with patient being scanned and diagnosed. Modern medical equipment, medicine and health care concept.

Este exame não tem indicação como substituto da mamografia devido ao seu limitado número de equipamentos e alto custo de execução, que levam a inviabilizar seu uso populacional.

Além disso, a  ressonância tende a demonstrar como lesões suspeitas alguns elementos do tecido que podem ser benignos. Isto poderia ocasionar um grande número de procedimentos complementares de diagnóstico desnecessários e prejudiciais às mulheres.

Quem deve fazer mamografia?

As idades alvos de rastreamento variaram entre os estudos clínicos, sendo a grande maioria com foco em mulheres entre 45 e 64 anos.

O Ministério da Saúde/Instituto Nacional do Câncer (INCA) recomenda que todas as mulheres com idade entre 50 e 69 anos devem realizar pelo menos 1  mamografia com intervalos máximos de até 2 anos visando a detecção precoce do câncer de mama.

ressonancia magnetica de mamas

Para mulheres pertencentes a grupos com risco aumentado para desenvolvimento de Câncer de mama, recomenda-se mamografia anual a partir dos 35 anos de idade ou 10 anos antes do caso da familia que apresentou a doença em idade mais jovem conhecida.

São considerados grupos de risco:

  • Mulheres com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama, abaixo dos 50 anos de idade;
  • Mulheres com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama bilateral ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária;
  • Mulheres com história familiar de câncer de mama masculino;
  • Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ.
  • Homens com lesões suspeitas para tumor de mama.

Mulheres jovens e a mamografia

moça de brancoAs mulheres de menos de 25 anos possuem sensibilidade mamária aumentada para radiação, portanto, reservamos este exame em mulheres mais jovens para os casos em que hajam nódulos ou lesões de mama que sejam suspeitas e necessitem de um diagnóstico oncologicamente adequado.

O desafio da detecção precoce

A cada 100 mulheres com indicação de realização de mamografia, somente 20% estão fazendo o exame no Brasil, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Isto se deve a fatores como :

  • a falta de acesso aos exames , quer seja pelo SUS com até pela rede privada em muitos locais do país
  • O desconhecimento a respeito do exame e de suas indicações
  • A desinformação e folclore a respeito do exame em si e suas indicações no momentos da vida
  • O medo da dor relacionada a compressão das mamas durante o exame, que motiva muitas mulheres a evitá-lo

Alguns sinais de exame físico  e até do auto-exame podem nos ajudar a suspeitar de maior possibilidade de doenças mamárias suspeitas de malignidade. Estes sinais podem ser:

autoexame de mamas

  • nódulos palpáveis nas mamas;
  • retrações de pele das mamas ;
  • pele da superfície da mama com aspecto de casca de laranja;
  • saída de secreção líquida transparente ou sanguinolenta pelo mamilo;
  • vermelhidão da pele da mama;
  • nódulos palpáveis nas axilas e/ou pescoço;
  • inversão ou retração do mamilo;

De forma alguma o auto-exame substitui os exames de imagem para a busca de casos na população geral  e diagnóstico daquelas com suspeita clínica.

Sabemos que a dor nas mamas é um sintoma muito assustador e bastante frequente, porém a mastalgia (têrmo técnioco que designa a dor nas mamas) costuma ter relação mais importante com oscilações hormonais e inflamatórias do que com câncer propriamente.

É extremamente importante que as mulheres saibam da importância dos exames de rastreamento. A detecção precoce das lesões, mesmo que sejam tumores malignos, podem proporcionar a oportunidade de tratamento também rápido  e isso é a principal condição para as melhores taxas de cura.

Não tenha medo do exame, se preserve da doença!

Qualquer recomendação específica de cada caso deve ser estritamente avaliada por um médico especialista na área.

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https://www.scielo.br/j/rb/a/wmDsgqS9qb8NSZfgJ5F5w7N/

https://www.ufpe.br/agencia/pesquisas-bkp/-/asset_publisher/rIL2cIuRIxA4/content/termografia-possibilita-detectar-cancer-de-mama-ainda-em-fase-inicial/40623

https://abraterm.com.br/institucional/pareceres/termografia-nao-previne-cancer-e-nem-substitui-mamografia-divulgacao-incorreta-e-exercicio-ilegal-da-medicina-podem-prejudicar-pacientes-que-procuram-avaliacao-termografica-de-mamas-com-pro/

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/prevencao-ao-cancer/cancer-de-mama-saiba-como-reconhecer-os-5-sinais-de-alerta#

https://aps-repo.bvs.br/aps/quais-as-recomendacoes-mais-atuais-para-idade-periodicidade-e-indicacao-de-realizacao-de-mamografia-na-populacao/

 

Qual a faixa etária ideal para realização de mamografia em mulheres, visando redução da mortalidade por Câncer de Mama?