Beber pouco é seguro?
“Me faltando
As tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança”
Cartola- De Peito Vazio
As verdades convenientes
Normalmente, as pessoas aceitam como verdadeiro que modestas quantidades de álcool podem reduzir o risco de infarto, AVC… Como equilibrar o consumo de álcool, entre os potenciais riscos e benefícios?
Mas haveria uma quantidade segura de consumo alcoólico?
Esse é um tema controverso. O consumo de álcool e estilo de vida são muito difíceis de se estudar em trabalhos randomizados e prospectivos. De modo geral, para pessoas saudáveis, o Guideline de dieta para Americanos aceita que 2 doses por dia para homens e 1 dose para mulheres não fariam mal à saúde. A dose para mulheres é um pouco menor, pois elas em geral têm menor peso e menor volume de sangue. Mas, há muitos estudiosos que se contrapõem a isso, e defendem consumo zero, em especial em situações clínicas específicas como na gravidez, ou para aqueles que tem histórico familiar de dependência de álcool.
Como surgiu o álcool?
Ninguém sabe ao certo… Mas, sabe-se alguma coisa…
O álcool faz parte da dieta nutricional da humanidade desde o neolítico. Achados arqueológicos demonstraram que há 8000 anos AC , na região do Cáucaso, o homem passou a plantar videiras e a fabricar vinho através de fermentação em grandes vasos cerâmicos que eles enterravam. Era uma forma de conservar o alimento, e seu valor calórico. Era também uma forma de evitar a contaminação da água por germes. E desta forma, o vinho e outras bebidas alcoólicas podem ter contribuído para o desenvolvimento da humanidade. Como a álcool tem o poder de alterar a percepção sensorial de quem o consome, também teve suas funções rituais e de discriminação social, estando mais presente nas refeições das famílias mais enriquecidas. Os gregos e romanos tinham divindades dedicadas entre outros aspectos ao vinho, tamanha importância social que o álcool atingiu.
Veja esse rápido vídeo com a história dos primórdios do vinho:
E mesmo hoje em dia, em nossa cultura ocidental o álcool está presente nos dias de festa e nas celebrações, e mesmo nos ritos religiosos.
Aqui vai um vídeo com uma breve história do vinho
Não se pode negar o papel que o álcool tem entre nós.
O álcool tem também uma função medicinal?
Sim, foi usado para esterilizar feridas, mesmo antes do conhecimento das bactérias, para alívio da dor, como sedativo, antes mesmo da invenção da anestesia, como parte de várias receitas caseiras para alívio de faringites e amidalites.
Afinal, como o álcool age no organismo?
O álcool, após ser absorvido pelo trato gastrointestinal, fará uma passagem pelo fígado e uma parte de suas moléculas serão inativadas por este importante órgão. Este processo de digestão do álcool libera moléculas tóxicas às células hepáticas. Pelo sistema sanguíneo, as moléculas restantes de álcool atingem os demais órgãos. No sistema nervoso central, o álcool age inibindo o sistema dos neurotransmissores tipo GABA, de modo que, inicialmente, a pessoa se sente mais relaxada e desinibida, mas se a quantidade de álcool aumentar, pode haver um estado de sonolência e de coma. O álcool também pode causar alguma sensação de euforia, na intoxicação aguda. Já na crônica, se associa a sentimentos depressivos.
Veja essa interessante e didática explicação do TED Ed sobre isso :
Mas há benefício com redução de risco cardiovascular com o consumo modesto de álcool?
Sim, isso parece ser verdadeiro, mas bastante complicado de se recomendar, pois não é qualquer tipo de bebida alcoólica que pode trazer esse benefício, e há sempre que se pesar o risco. Vinhos tintos podem conter substâncias antioxidantes com algum poder de reduzir o envelhecimento celular das artérias se tomado em pequenas quantidades. Veja em melhores detalhes no artigo do Panacea já publicado neste link.
Contudo à medida que o consumo aumenta, aumentam os riscos de morte e de prejuízo da qualidade de vida ao paciente e para aqueles em seu entorno. O álcool pode causar danos à vários órgãos.
Quais os danos que o álcool pode causar?
Infarto? Sim...
O consumo de álcool pode provocar dislipidemia, com elevação dos triglicérides no sangue. No coração, pode haver dano celular e por falta de nutrientes, principalmente para aqueles consumidores mais pesados, causando morte das fibras que promovem a contração. O coração pode dilatar e perder a capacidade normal de bombear sangue. Pode causar hipertensão arterial e aumentar as chances de infarto e AVC.
Câncer? Sim…
O álcool também pode deflagrar maior risco de vários tipos de câncer, como os de laringe, esôfago, estômago, colorretal, hepatocelular e até mesmo o de mama. O importante de conhecer isso é que o hábito de beber bebidas alcoólicas é um fator predisponente ao câncer contornável, ou seja, depende da vontade de cada indivíduo, em oposição a uma predisposição genética.
Demência? Sim…
Violência? Sim…
Pois a pessoa com ingestão alcoólica elevada também ter maior risco de depressão, demência e de suicídio. O alcoolismo está envolvido em vários tipos de violência, doméstica, de trânsito, e em homicídios. E mesmo quando não, pode ser um grande fator desagregador da família e dos laços afetivos.
Cirrose? Sim…
Pancreatite? Sim…
Diabetes? Sim…
Dependência? Sim…
O que é abstinência?
Abstinência é como chamamos o conjunto de sintomas e sinais que a pessoa que tem alto consumo de álcool pode ter ao interromper a ingestão. A pessoa pode ficar irritável com facilidade, ter tremores, alucinações, elevação da pressão arterial e pode evoluir para crises convulsivas. É uma situação clínica grave e oferece risco de vida ao paciente.
In vino, veritas…
Nós do Panacea temos o objetivo de ajudar as pessoas a fazerem melhores escolhas de acordo com suas prioridades, para uma vida longa e saudável, ajustando seu estilo de vida. A vida é para ser celebrada. Convido a você, meu leitor, a refletir sobre seu próprio consumo de álcool, o quanto ele está ajustado a fazer da sua vida melhor.
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Referência:
