Síncope ou desmaio é a perda súbita de consciência, transitória e completamente reversível, secundária à redução do fluxo sanguíneo cerebral, o que geralmente ocorre por diminuição abrupta na pressão arterial.

Como resultado da falta de consciência, ocorrem a perda do tônus muscular, a queda e, consequentemente, possíveis injúrias: trauma no crânio, acidentes domésticos ou automobilísticos, por exemplo. Neste aspecto, os idosos são mais suscetíveis a lesões durante um episódio sincopal.

A síncope em geral é autolimitada, com duração aproximada de um ou dois minutos, e melhora sem tratamento na maioria das vezes. A amnésia pode ocorrer após o episódio, principalmente em idosos. Assim, todas as quedas nesta faixa etária devem ser investigadas!

Nos pacientes com problemas cardíacos, a síncope pode ser um sinal de alerta e merece avaliação cuidadosa.

Frequência da síncope

É um problema comum, que acomete cerca de 20% da população e é discretamente mais frequente em mulheres.

Raramente uma pessoa saudável experimentará mais de um episódio sincopal ao longo da vida. Porém, a síncope pode ser recorrente e pode haver doença cardíaca associada.

Nos adultos, exceto idosos, mais de 75% dos casos de síncope não estão associados a problema de saúde. Mesmo assim, quem desmaia deve sempre procurar atenção médica para detectar possível doença cardíaca não diagnosticada.

A síncope pode provocar injúrias em 35% dos pacientes (foto de Bob Richards de Stocksnap.oi)
A síncope pode produzir injúrias em até 35% dos pacientes (foto de Bob Richards de Stocksnap.io)

Causas

Para manter a consciência, o sangue oxigenado deve ser bombeado sem interrupções  para o cérebro. Se houver privação do fluxo do sangue, mesmo por um breve período, ocorre a perda de consciência.

Várias condições podem ocasionar a síncope:

1. Síncope vasovagal:

É o tipo mais comum de síncope reflexa, desencadeada por uma série de gatilhos, como o estresse físico e emocional, a desidratação, o sangramento ou a dor. Neste tipo de síncope, a frequência cardíaca pode cair dramaticamente no momento do desmaio, além de haver dilatação dos vasos sanguíneos, principalmente as veias, represando o sangue nas pernas e nas vísceras abdominais e, portanto, diminuindo o seu retorno ao coração. Com isso, a pressão arterial cai e ocorre baixo fluxo de sangue para o cérebro.

Outros gatilhos:

  • Estresse por medo ou dor, como tirar sangue
  • Ficar em pé por muito tempo, no calor ou sob cansaço extremo
  • Reação anormal do cérebro a situações como tossir, urinar, evacuar ou engolir, após exercício ou rir (também chamadas de síncopes situacionais)
  • Ficar em lugar quente, fechado ou com muita gente.

Na maioria dos casos de síncope vasovagal, os indivíduos podem ter sintomas que precedem o desmaio, por exemplo tontura, sensação de frio ou de calor, palidez, sudorese intensa, náusea, alterações auditivas e visuais. Depois da síncope, estes sintomas podem persistir enquanto a pressão continuar baixa, em geral por até 1 hora. Em alguns casos, não há gatilhos identificáveis.

Ao contrário do que as pessoas acreditam, este tipo de síncope também pode ocorrer na posição sentada, mas é mais frequente quando em pé.

Eventualmente, podem ocorrer convulsões secundárias ao baixo fluxo cerebral, de curta duração, isto é, menores do que 15 segundos, e que começam logo após a perda de consciência. Só a avaliação médica consegue diferenciar a síncope com convulsão da epilepsia.

2. Síncope por hipotensão ortostática:

Hipotensão ortostática é a queda de pressão ao ficar em pé. É a segunda causa mais comum de síncope e pode ser acentuada por alguns tipos de exercício que dificultam o retorno do sangue ao coração (agachamentos com barra, por exemplo), após as refeições ou depois de um tempo prolongado de restrição ao leito.

Geralmente é induzida por drogas ou medicamentos, como o álcool e os vasodilatadores usados para o controle da pressão arterial, os diuréticos e alguns antidepressivos.

Também pode ocorrer por diminuição dos líquidos circulantes, por desidratação, hemorragia, vômitos, etc. ou por uma falha do sistema nervoso automático, que faz os ajustes de pressão e de batimentos cardíacos (exemplos: Doença de Parkinson, diabetes, entre outros).

3. Síncope cardíaca:

A síncope pode ocorrer por:

  • problemas primários no sistema elétrico cardíaco – as arritmias lentas (bradiarritmias) ou rápidas (taquiarritmias)
  • doença estrutural do coração: são exemplos as alterações do músculo cardíaco, como o infarto, e as situações em que o sangue bombeado não consegue sair do coração por um bloqueio mecânico como na estenose aórtica, na miocardiopatia hipertrófica e nas doenças do pericárdio (a membrana que reveste o coração)
  • doenças dos grandes vasos: por exemplo, a embolia de pulmão e a dissecção de aorta

Diagnóstico

A síncope deve ser diferenciada de outras condições que também provocam perda transitória de consciência e/ou colapso cardiocirculatório. O diagnóstico é feito pela história clínica, pelo exame físico e por alguns testes do coração. Todos os pacientes devem ser clinicamente avaliados, embora a maioria das síncopes não seja grave. Além disso, conhecer a causa da síncope pode ajudar a prevenir novos episódios.

Tratamento

O tratamento  depende da causa da síncope. O objetivo é prevenir as recorrências e as quedas.

Na síncope vasovagal, é importante tentar evitar as situações ou os gatilhos que provocam o desmaio. Se sentir que vai desmaiar, deitar-se imediatamente com as pernas elevadas pode prevenir a síncope. Manobras que facilitam o retorno do sangue ao coração, como cruzar as pernas e simultaneamente contrair os músculos do abdome e dos glúteos, apertar na mão uma bolinha de borracha o mais forte possível, podem ajudar.

Meias elásticas de compressão nas pernas, assim como levantar-se devagar e em etapas também diminuem as síncopes. Ainda, é importante hidratar-se com frequência e evitar o consumo de álcool.

Nos casos mais raros, tratar a doença de base, usar medicamentos ou implantar marca-passo podem ser necessários.

Atenção: Se desmaiou, não dirija e procure seu médico!

“Todo o nosso conhecimento inicia-se com sentimentos”. Leonardo da Vinci

 

Referências:

1. Michele Brignole, Angel Moya, Frederik J de Lange, Jean-Claude Deharo, Perry M Elliott, Alessandra Fanciulli, Artur Fedorowski, Raffaello Furlan, Rose Anne Kenny, Alfonso Martín, Vincent Probst, Matthew J Reed, Ciara P Rice, Richard Sutton, Andrea Ungar, J Gert van Dijk, 2018 ESC Guidelines for the diagnosis and management of syncope, European Heart Journal, Volume 39, Issue 21, 01 June 2018, Pages 1883–1948, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehy037

2. Shen WK, Sheldon RS, Benditt DG, et al. 2017 ACC/AHA/HRS Guideline for the Evaluation and Management of Patients With Syncope: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines, and the Heart Rhythm Society. J Am Coll Cardiol 2017.

3. Albassam OT, Redelmeier RJ, Shadowitz S, et al. Did This Patient Have Cardiac Syncope?: The Rational Clinical Examination Systematic Review. JAMA 2019; 321:2448.