O que influencia a adesão tratamento?

Talvez você já tenha, alguma vez,  perguntado isso ao seu médico. Mas então pergunto, você segue exatamente o que lhe foi recomendado? 

Nós, médicos temos como missão, após o diagnóstico correto de orientar o melhor tratamento para pacientes. Entretanto, sabemos que isso, ainda,  não é tudo. O sucesso do tratamento depende principalmente do que chamamos de adesão. Ou seja o paciente precisa seguir tudo aquilo que lhe foi recomendado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde  adesão a tratamentos é,  em geral,  de 50%, sendo o ideal acima de 80%. A falta de adesão implica não apenas, na  continuidade dos sintomas, como também  aumento dos custos com a doenças,  hospitalizações e até mortes.

A falta de adesão ao tratamento pode ser considerada um problema de saúde pública, às vezes considerada uma “epidemia invisível”.

A adesão torna-se, ainda, mais importante quando se tratam de doenças crônicas, quando nem sempre a cura da enfermidade é possível, mas sim seu controle e a prevenção de complicações. 

Aderir adequadamente aos tratamentos, não é só importante para doenças graves,  como por exemplo doenças cardiovasculares ou cânceres. 

Como otorrinolaringologista, sei bem como é difícil, tratar de rinite alérgica. Condição crônica que não é fatal, mas que atrapalha sobremaneira a qualidade de vida. O indivíduo que não a trata corretamente apresenta sono ruim, problemas de atenção/concentração, dores de cabeça, maior frequência de infecções das vias aéreas. Pode-se dizer que implica na sua qualidade de vida. 

E assim, com frequência ouço a seguinte pergunta: mas vou precisar tomar sempre o remédio? Não posso mais conviver com meu cachorro?  E daí a importância da conversa entre médico e paciente.

Para muitas doenças, o tratamento não se restringe apenas a  remédios, implica ainda em mudanças de hábitos. As doenças cardiovasculares, por exemplo, implicam em  investir, em atividade física diária, mudanças na alimentação, parar de fumar, etc. E há ainda outras condições onde são necessários uso de equipamentos tais como, CPAP, suplementação de oxigênio, aparelhos auditivos ou simplesmente óculos.

E quais seriam os motivos da não-adesão a tratamentos?

As barreiras podem ser inúmeras. Desde a forma como se orienta o paciente até e o não conhecimento sobre a doença e o tratamento.

Não se pode esquecer, adicionalmente, que  condições de vida, tais como depressão ou demência comprometê-la.

O próprio sistema de saúde também pode ter alguma participação. 

Uma condição muito simples e comum de falta de adesão é esquecer de tomar o remédio.

Outras vezes, o paciente simplesmente abandona o tratamento por achar que já está curado, uma vez que não apresenta mais os sintomas. Mas como já dissemos, em doenças crônicas não é bem assim.  O tratamento continuado previne as complicações. 

Devemos lembrar de  situações não intencionais como dificuldades de acesso aos medicamentos por serem muito caros ou não estarem disponíveis no sistema de saúde pública.

As intencionais compreendem, ainda,  falta de motivação, atitudes como transformar ou adequar hábitos. 

Não se esquecendo que pode haver influência de experiências negativas  crenças culturais e familiares.

Como melhorar a adesão? 

O paciente é o maior interessado no seu tratamento. 

Entender sobre a doença e como cuidar dela ou  prevenir suas complicações e seu tratamento  é fundamental. 

Interar-se sobre a importância e motivos das mudanças de hábito e estilo de vida. 

Compreender quais são as indicações atuais sobre os tratamentos, baseadas em evidências científicos  ainda libertar-se de lendas e crenças. 

Não se deve deixar de mencionar aqui nunca acreditar em orientações falsas, as ditas “fake news” ou se deixar levar por supostos tratamentos não comprovados.

Dessa forma, o paciente deve sempre: 

Conversar com seu médico;

  • Perguntar suas dúvidas  e entender da sua doença, possibilidades de tratamento, medicamentos medicação, formas de usar e seus possíveis efeitos colaterais; 
  • Colocar motivações para seguir o tratamento e mudar hábitos, tais  como: quero ver meus netos crescerem;
  • Desmistificar fatores culturais ou crenças antigas;
  • Evitar a negação da doença;
  • Entender que a falta de sintomas nem sempre significa a cura;
  • Discutir com seu médico sobre experiências antigas sobre feitos colaterais de outros medicamentos. ou outras experiências negativas;
  • Comentar sobre dificuldades pessoais como engolir comprimidos, dificuldade de comprá-lo sou seguir terapias complementares. 

Os médicos devem também estar envolvidos com seus pacientes orientando-os, podendo-se lhes assegurar o melhor tratamento.

O entendimento e uma conversa mais aberta é o caminho para  adesão ao tratamento e assim ter mais sucesso no tratamento de doenças e uma melhor qualidade de vida. 

Referências:

World Health Organization. Sabaté E, World Health Organization. Noncommunicable Diseases and Mental Health Cluster. (2001). Adherence to long-term therapies: policy for action: meeting report, 4–5 June 2001. Geneva, World Health Organization, 2001. https://apps.who.int/iris/handle/10665/66984

Fernandez-Lazaro, C.I., García-González, J.M., Adams, D.P. et al. Adherence to treatment and related factors among patients with chronic conditions in primary care: a cross-sectional study. BMC Fam Pract 20, 132 (2019). https://doi.org/10.1186/s12875-019-1019-3

Jimmy B, Jose J. Patient medication adherence: measures in daily practice. Oman Med J. 2011 May;26(3):155-9. doi: 10.5001/omj.2011.38. PMID: 22043406; PMCID: PMC3191684.

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).