As crianças podem sofrer do coração

Como é o coração de uma criança?

 

Acredito não existir algo mais puro
que o sorriso e o olhar de uma criança
Elas veem com a alma e sorriem com o coração.

Puro, sem dúvida. Mas, pode esse importante coraçãozinho estar doente?

As crianças podem ter doenças cardíacas?

Sim, infelizmente podem. Na verdade, é bem mais comum do que imaginamos. Uma em cada 100 crianças nascem com doenças cardíacas chamadas congênitas, ou seja, de nascimento, uma anomalia cardíaca gerada desde a formação daquele feto.

Assim, o coração das crianças pode ser doente desde o nascimento. Um pré natal bem feito pode ajudar essas crianças a receberem o cuidado certo ao nascer.

Quais doenças pode ter um coroação que acabou de nascer?

Algumas crianças ainda sofrerão doenças cardíacas adquiridas, que são as doenças que passamos a desenvolver durante a vida, por infecção por exemplo, como as miocardites, tumores, Chagas, febre reumática…

Mas hoje eu gostaria de falar um pouco das doenças cardíacas de nascimento das crianças, geradas por problemas de desenvolvimento ainda na vida intrauterina. Podem estar associadas às síndromes genéticas, como a Síndrome de Down, ou não, podem ter causa multi fatorial e muitas vezes desconhecida.

Como fazer o diagnóstico?

Quando fazemos um diagnóstico precoce de cardiopatia nas crianças, damos a ela maiores chances de sobreviver com melhor qualidade de vida

O diagnóstico da quase totalidade dessas doenças pode ser feito com um bom pré natal, onde se realize um ecocardiograma fetal. O diagnóstico precoce dessas condições prepara a família para receber melhor aquele filho que as vezes precisará de cuidados médicos intensivos logo ao nascer, as vezes de cirurgias corretivas ou paliativas e não raro de um cuidado especial ao longo de toda a vida. Esse é mais um motivo, além da saúde materna, para toda gestante realizar um pré-natal.

Triste mundo, bruta a realidade para os pequenos…

As doenças cardíacas infantis têm um triste panorama médico-social no mundo, pois são pacientes onerosos ao sistema de saúde e nem todas as famílias podem arcar com as despesas de um tratamento adequado. De modo geral, nem mesmo os estados brasileiros tem o sistema de saúde preparado para atender essas crianças. A realidade é que no mundo apenas 1 criança nascida com problema cardíaco em cada 10 tem acesso ao tratamento.

A ciência médica ainda não pode mudar a incidência dessas doenças congênitas, mas temos a difícil tarefa coletiva de tentar oferecer melhor acesso as informações e os cuidados médicos que podem ser decisivos para a sobrevivência daquela criancinha. E mesmo para minimizar o impacto para aquelas que chegam à vida adulta. Isso me motiva a escrever sobre esse tema.

Como suspeitar de algo errado no coração do bebê?

Quando o defeito cardíaco é grave, os sintomas se instalam logo após o nascimento, já na sala de parto. A criança pode se apresentar com alta frequência respiratória, a cor azulada da pele, edema das pernas, do abdômen e do em torno dos olhos.

A mãe e o pediatra devem suspeitar de problemas cardíacos congênito quando houver desconforto respiratório durante as mamadas, baixo ganho ponderal. Se o defeito congênito não for tão grave, os sintomas podem aparecer mais tarde, durante a infância com cansaço fácil ou desmaio durante o exercício, infecções pulmonares de repetição, aparecimento de arritmias, dor no peito.

Não raro esses diagnósticos são realizados tardiamente, até mesmo na vida adulta, havendo prejuízo para os pacientes com sério impacto na sua sobrevida quando comparados aos indivíduos normais da mesma idade.

Veja como funciona o coração:

Os defeitos congênitos mais frequentes são:

Valva aórtica bicúspide: onde a valva aórtica tem apenas dois folhetos valvulares ao invés do normal que são três, o que normalmente acarreta dificuldade na abertura e fechamento dessa valva cardíaca.

Defeito do Septo Atrial (Comunicação interatrial): que consiste numa abertura direta entre o lado esquerdo e o direito do coração localizada nos átrios, ocasionando fluxo de sangue aumentado aos pulmões e se não corrigido, hipertensão pulmonar. Ocorre numa frequência de 1 a cada 1500 nascidos vivos.

Coarctação da aorta: a aorta é a artéria que emerge do coração com a função de distribuí-lo sistemicamente a todos os órgãos. Na coarctação essa grande artéria tem uma constrição do seu calibre. Se não corrigida, pode gerar pressão alta e dano ao coração.

Patência do Ductus Ateriosus: essa é uma comunicação entre as artérias pulmonares e aórtica normal na vida intra-uterina, mas que deveria se fechar após o nascimento. Quando isso não ocorre, há aumento do fluxo de sangue aos pulmões e sobre carga do coração direito.

Anomalia de Ebstein: neste defeito a valva tricúspide é mal-formada e está implantada numa posição anômala. O sangue pode refluir por essa valva e causar falência do coração direito (lado do coração responsável pela circulação pulmonar para a oxigenação do sangue).

Atresia pulmonar: neste defeito a artéria que parte do coração ao pulmão com o sangue que será oxigenado é mal-formada e estreita. Pode variar muito de gravidade, desde casos leves a casos muito graves.

Tetralogia de Fallot: quatro defeitos se associam nesta apresentação, uma comunicação entre os ventrículos direito e esquerdo, um estreitamento da valva pulmonar, um posicionamento da aorta sobre essa comunicação interventricular e um espessamento das paredes do ventrículo direito. Todas as crianças com Fallot precisam de cirurgia.

Consciência pode ajudar…

Existem vários outros defeitos congênitos. Aqui no Panacea quero apenas conscientizar nossos leitores sobre a importância desse tema e dos cuidados cardiológicos do recém-nascido e das crianças pequenas, pois muitas vezes não pensamos que as crianças também podem ser cardiopatas. Um pré natal bem feito pode minimizar muito sofrimento da família, mas principalmente dessa criancinha que chega ao mundo.