Fones de ouvidos são pequenos alto-falantes. Em baixos volumes, são ótimos utensílios, mas com sons altos e ainda próximo de nossos tímpanos, podem ser bem maléficos.

Cerca de 80% dos adolescentes entre 13 e 18 anos, usam fones de ouvido em média de 1 a 3 horas ao dia.

Acredite!! Sim o uso de fones com alto volume pode prejudicar a audição da mesma forma que sons desagradáveis como motosserra ou decolagem de jatos. O que é lesivo é a intensidade do sons, causando trauma acústico ou perda auditiva induzida por ruído. 

Estima-se que quase 2% das pessoas em todo o mundo apresentam perda auditiva induzida por ruído, no Brasil seriam cerca de 6 milhões de pessoas!

O uso de fones de ouvido diariamente aumenta em 4 a 5 vezes o risco de perda auditiva.

Como acontece a perda auditiva por ruído?

O som em alto volume prejudica as células ciliadas externas, pequenas células localizadas na cóclea, a parte mais interna do ouvido. Estas pequenas células são neurônios modificados que transformam a energia sonora mecânica (vibração) em sinais elétricos que são transmitidos para o cérebro. Estas células, quando lesadas, infelizmente não se regeram.

Quais são os sinais de perda auditiva por induzida por ruído?

O primeiro sinal pode ser apenas um zumbido. Pode ser temporário ou permanente. Este último geralmente acompanhado de perda auditiva.  Os sintomas podem se instalar lentamente ou de forma súbita. A perda auditiva pode iniciar de forma suave e nem ser percebida, apenas aparece quando se faz um exame de audição, a audiometria.

Pode-se ter a sensação e ouvidos abafados ou a surdez propriamente dita.

Como prevenir a perda auditiva por exposição a sons intensos?

Usar fones com intensidade sonora adequada não traz problemas. Mas quanto é adequado?

Pode-se expor os ouvidos a intensidades de 80dB por até 8 horas por dia. Entretanto, para 100 dB permite-se apenas 15 minutos (vide a tabela abaixo). Esta intensidade é para muitos, mais prazeirosa, pois assemelha-se a a intensidade de shows de rock, por exemplo, ultrapassam 120 dB, similar à decolagem de um jato, mas por se tratar de um som agradável parece-nos inócuo.

Tempo de exposição permitido

Intensidade do som

8 horas

85 dB(A)

4 horas

88 dB(A)

2 horas

91 dB(A)

60 minutos

94 dB(A)

30 minutos

97 dB(A)

15 minutos

100 dB(A)

 

Se outra pessoa estiver ouvido o que você ouve em seus fones, saiba que você pode estar correndo sério risco.

O som intenso causa perda das células do ouvido e que jamais se regeram. No dia a dia expomo-nos a muitos sons intensos e ao longo do tempo, certeza que perderemos parte da audição.

Há tratamento para este tipo de perda auditiva?

Não há tratamento atualmente que consiga reverter a perda auditiva induzida por ruído, apenas pode compensar com o uso de aparelhos auditivos.

Como prevenir?

Assim, lembre-se limite o som de seu fone a 60% do máximo do seu aparelho e por no máximo 60 minutos. 

Preserve sua audição hoje e poderá desfrutar de ouvir música por muito mais tempo!

Referências:

Widen SE, Båsjö S, Möller C, Kähäri K. Headphone listening habits and hearing thresholds in swedish adolescents. Noise Health. 2017 May-Jun;19(88):125-132.
Byeon H. Associations between adolescents’ earphone usage in noisy environments, hearing loss, and self-reported hearing problems in a nationally representative sample of South Korean middle and high school students. Medicine (Baltimore). 2021 Jan 22;100(3):e24056. doi: 10.1097/MD.0000000000024056. PMID: 33546006; PMCID: PMC7837842
https://blogs.cdc.gov/niosh-science-blog/2016/02/08/noise/

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).