Depois do susto de um ataque cardíaco, surgem inúmeras dúvidas e questionamentos: Será que ainda corro risco? Posso me exercitar? Tenho que fazer consultas periódicas? Tenho que tomar medicação? Como fica a vida sexual?

 

”Trago dentro do meu coração, como num cofre que se não pode fechar de cheio, todos os lugares onde estive, todos os portos a que cheguei, todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias, ou de tombadilhos, sonhando. E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que quero.” Álvaro de Campos – Fernando Pessoa, em “A passagem das horas”

 

Recuperar-se de um ataque cardíaco, isto é, de um infarto agudo do miocárdio, é um processo longo que exige grandes mudanças de estilo de vida. Os ajustes na alimentação, o controle do peso, a prática de exercícios, as medicações e as consultas médicas periódicas, tudo tem o objetivo de prevenir novo infarto e de recuperar autonomia e qualidade de vida.

 

A volta para casa depois da alta

 

Antes de sair do hospital, é importante tirar as dúvidas sobre o que é importante e seguro fazer, assim como ter por escrito a prescrição médica. Também é fundamental que a família participe e conheça as recomendações médicas.

Medicações

Após um infarto, é comum ter que tomar alguns remédios permanentemente. A suspensão das medicações só pode ocorrer com o consentimento do cardiologista. Se houver dúvidas ou efeitos colaterais, é fundamental relatá-los ao médico. Consultas periódicas são necessárias para a avaliação clínica e ajuste da dose de remédios.

A reabilitação após um ataque cardíaco
A reabilitação ajuda o paciente vítima de infarto

A reabilitação após o ataque cardíaco

Definida pela Organização Mundial de Saúde como “ação contínua de desenvolvimento e manutenção de mecanismos para garantir ao paciente as melhores condições físicas, mentais e sociais para permitir o retorno às suas atividades sociais e de trabalho”, a reabilitação cardíaca tem papel fundamental na recuperação após infarto.

Os programas de reabilitação podem melhorar a função do músculo cardíaco, além de diminuir os riscos de morte ou de complicações após o infarto. São programas realizados em serviços especializados, com foco no exercício, na redução dos fatores de risco e no suporte psicológico ao paciente.

Exercício físico

Há aproximadamente 5 décadas, a recomendação era de repouso no leito após o infarto, com o objetivo de melhorar a cicatrização do músculo cardíaco. Porém, o que se observava era a piora da capacidade física, associada a perda de massa muscular do corpo e a sintomas de ansiedade e de depressão.

Assim, na década de 60, surgiram os primeiros estudos demonstrando o benefício do exercício precoce em indivíduos que sofreram infarto. Atualmente, o exercício supervisionado é reconhecido como peça importante na melhora clínica dos pacientes.

No entanto, sua duração e intensidade dependem da severidade da doença cardiaca. Uma das formas de avaliar o risco de complicações induzidas pelo exercício é o teste de esteira.

Após o ataque cardíaco, a atividade física deve ser supervisionada

Redução de fatores de risco

Vários fatores de risco aumentam a chance de desenvolver um ataque cardíaco. Reduzi-los ou eliminá-los pode ser útil mesmo para quem já teve infarto. Parar de fumar, tratar a hipertensão, tratar o colesterol, controlar o diabetes, o peso, a alimentação, o estresse…Sim, é difícil, mas a parceria médico-paciente pode tornar o caminho mais ameno. É fundamental estimular o auto-cuidado para que o indivíduo seja o protagonista na promoção da sua saúde.

 

Sexo após infarto

 

Quando é seguro ter relações sexuais após o infarto? Nas primeiras duas semanas após o ataque cardíaco, o risco de desenvolver complicações ou problemas cardíacos é maior. Após seis semanas, a cicatrização está completa e os riscos diminuem.

Porém, se o infarto trouxe complicações como arritmias ou insuficiência cardíaca, ou o indivíduo persiste com dor no peito após o ataque cardíaco, existe aí risco aumentado de ter problemas cardíacos durante o ato sexual.

Nestes casos, as pessoas devem ser avaliadas e, eventualmente, tratadas antes de tentarem manter uma relação sexual.

Problemas sexuais

Metade a 75% dos indivíduos que sofreram ataque cardíaco desenvolvem problemas sexuais, como diminuição de libido, dificuldade de chegar ao orgasmo ou disfunção erétil. Vários fatores podem contribuir, como efeito colateral de medicações, depressão ou medo de um novo infarto ou de morte durante o ato sexual.

Para muitos homens com disfunção erétil, medicamentos específicos como sildenafila, tadalafila, vardenafila ou avanafila podem ser usados com segurança e boa tolerância após o infarto. Mas, ATENÇÃO: essas medicações não podem ser usadas se houver uso concomitante de nitratos, isto é, remédios usados para a dilatação das coronárias. Exemplos: isossorbida, nitroglicerina.

Como a atividade sexual é um tipo de atividade física que corresponde, em média, a uma caminhada rápida, o teste de esforço pode ser útil para a determinação do risco cardíaco individual.

 

Acompanhamento médico após o infarto

 

Participar de programas de reabilitação cardíaca é uma das melhores formas de recuperar-se de um ataque cardíaco.

Não menos importantes são as consultas regulares com o cardiologista, já que as pessoas que sofrem um infarto são consideradas de alto risco para o desenvolvimento de novos eventos cardíacos e de morte cardiovascular.

Por isso, visite seu médico e envolva-se ativamente no seu processo de cura e de aquisição de bons hábitos de vida. Seu coração agradece!

 

Referências:

  1. Thomas RJ, Beatty AL, Beckie TM, et al. Home-Based Cardiac Rehabilitation: A Scientific Statement From the American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation, the American Heart Association, and the American College of Cardiology. Circulation 2019; 140:e69
  2. http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2020/v11405/pdf/11405022.pdf
  3. https://socesp.org.br/revista/assets/upload/revista/11877032031539116314pdfptEXERCÍCIO%20FÍSICO%20APÓS%20INFARTO%20AGUDO%20DO%20MIOCÁRDIO%20-%20SEGURANÇA%20DURANTE%20O%20EXERCÍCIO_SUPLEMENTO%20DA%20REVISTA%20SOCESP%20V28%20N3.pdf