A atividade sexual é um importante aspecto da boa qualidade de vida e está associada à saúde, à diminuição da ansiedade e da depressão. Porém, não é isenta de risco: o prazer de uma relação sexual pode levar à morte súbita de origem cardíaca ou não cardíaca (neurológica, por exemplo) em raras ocasiões.

De acordo com estudos forenses, os eventos durante a atividade sexual correspondem a menos de 1% de todos os casos de morte súbita natural, isto é, não provocada por traumas físicos, acidentes ou drogas. Porém, tal como a morte durante a atividade física, a possibilidade de morrer no ato sexual causa muita apreensão.

Ironicamente, embora a parada cardíaca durante a atividade sexual seja sempre testemunhada, as manobras de ressuscitação cardiopulmonar acontecem com menos frequência.

“A certeza de que a odiosa e temida morte se aproximava como a única realidade, e sempre a mesma mentira. Que importância tinham portanto, as semanas, os dias, as horas?” (A morte de Ivan Ilitch – L. Tolstói)

Quem tem maior risco?

As vítimas da morte súbita durante o coito são geralmente homens de meia idade, com alto risco cardiovascular, e as causas mais comuns são o infarto agudo do miocárdio e o sangramento intracraniano. Já a morte súbita que ocorre na atividade física é raramente causada por hemorragias intracranianas.

No entanto, um estudo recém publicado sugere que o fenômeno acontece também em mulheres e pessoas mais jovens, causado por arritmias secundárias a doenças genéticas ou, menos frequentemente, por doenças estruturais do coração não diagnosticadas previamente. Neste estudo, a taxa de mortes que ocorrem durante ou em até 1 hora após o ato sexual, foi de apenas 0,2% e demonstrou que a atividade sexual é segura em indivíduos com menos de 50 anos.

Veja no gráfico, a seguir, a comparação das causas de morte súbita na atividade sexual, em outras atividades físicas e no sedentarismo: em vermelho, as doenças coronarianas; em azul, as hemorragias intracranianas e em bege, outras causas. (Fonte: Circulation. 2018;137:1638–1640)

Efeitos cardiovasculares do prazer sexual

Os efeitos cardiovasculares da atividade sexual já foram estudados através do monitoramento de voluntários. Durante o ato, ocorrem elevação dos batimentos cardíacos, aumento dos movimentos respiratórios e elevação discreta da pressão arterial, especialmente durante o orgasmo.

Assim, é possível comparar a relação sexual à atividade física leve a moderada, porém de duração mais curta.

Alguns indivíduos, principalmente os mais idosos, podem ter mais dificuldade de atingir o orgasmo, por razões médicas ou emocionais. Nestes casos, é possível que o nível de esforço seja maior do que a atividade física moderada.

Tanto em homens quanto em mulheres, no orgasmo há aumento da adrenalina e de prolactina (hormônio freqüentemente relacionado à produção de leite e aumento das mamas).

Também acontece um aumento da pressão do fluxo de sangue para o cérebro, quando a pressão dentro do crânio cai rapidamente no orgasmo. Estas alterações poderiam explicar a maior proporção de hemorragias intracranianas durante a relação sexual, especialmente por rompimento de aneurismas cerebrais, isto é, pequenas dilatações das artérias intracranianas.

Além disso, é comum o espasmo (contração) de vasos sanguíneos cerebrais durante o ato sexual, o que pode provocar dor de cabeça. Também ocorre espasmo das artérias do coração, gerando angina durante minutos ou horas depois da atividade sexual, a “angina d’amour”.

Os comprimidos azuis e o risco cardiovascular
Os comprimidos azuis e o risco cardiovascular

E os comprimidos azuis?

Sildenafila é a medicação mais estudada para o tratamento da disfunção erétil e tem importantes ações cardiovasculares. É um potente vasodilatador (pode baixar muito a pressão arterial). Ela interage com os remédios usados para dilatar as coronárias em caso de angina ou de infarto do miocárdio, gerando quedas ainda maiores da pressão. Por isso, estas medicações não podem ser utilizadas simultaneamente.

Embora não haja associação provável de tadalafila e vardenafila com o aumento do risco cardiovascular, existe menos informação clínica sobre a segurança destas drogas em homens com doença cardíaca.

Mas o uso de sildenafila provoca infarto?

Tanto o infarto do miocárdio como a morte súbita foram descritos depois do tratamento com sildenafila, mas a relação com esta medicação é incerta, já que a própria atividade sexual pode provocar estes eventos. Em indivíduos que usam vasodilatadores coronarianos, o uso concomitante de sildenafila pode gerar uma queda acentuada da pressão arterial e, por isso, provocar infarto.

Há vários estudos de revisão que não conseguiram demonstrar relação entre o uso de sildenafila e eventos cardiovasculares sérios. Além disso, este remédio é geralmente bem tolerado em homens com doença coronariana e que não usam vasodilatadores, mesmo durante a prática de exercícios físicos.

Entretanto, doses muito altas, atingidas por overdose ou por prejuízo da função hepática ou renal, podem provocar arritmias graves.

Afinal, como saber se corro risco?

É sempre importante avaliar o coração, principalmente se houver história de morte súbita na família. Sintomas como dor no peito, falta de ar, palpitações, desmaios e a própria disfunção erétil podem indicar problemas cardiovasculares. Por isso, mantenha suas consultas em dia e faça uma avaliação com seu cardiologista.

Modificações no estilo de vida, como a prática regular de exercícios, o controle do peso e da pressão arterial, do colesterol, do diabetes e a interrupção do tabagismo podem ser aliados úteis para uma vida sexual mais saudável e duradoura.

Lembre-se: a atividade sexual é parte importante da vida adulta saudável. Pratique-a com segurança!

Referências:

  1. https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/cir.0b013e3182447787
  2. https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCULATIONAHA.117.032299?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed
  3. https://jamanetwork.com/journals/jamacardiology/article-abstract/2787664
  4. Nehra A, Jackson G, Miner M, et al. The Princeton III Consensus recommendations for the management of erectile dysfunction and cardiovascular disease. Mayo Clin Proc 2012; 87:766.