meninas conversando

Os bebês são capazes de se comunicar muito antes de falar! Assim é um olhar, sorriso, choro, um gesto.

Estamos em abril. O mês da conscientização do Autismo. E o que vem diretamente a cabeça o atraso do desenvolvimento da fala.

Mas é muito importante ressaltar que o espectro do autismo é amplo e que nem todos apresentam este atraso, e ainda que nem todo atraso do desenvolvimento da fala/linguagem é autismo.

Fala/linguagem: Não é a mesma coisa?

Não. Fala é a nossa expressão verbal. através de palavras enquanto que a linguagem é a forma como nos comunicamos ou seja troca de informações. Pode ser verbal, não verbal, escrita. Pode ser através de gestos, expressão do olhar, do corpo, a linguagem de sinais de sinais ou mesmo um texto

Quando desconfiar do atraso da fala?

Uma criança de 2 anos têm um vocabulário de cerca de 50 palavras e deve formar pequenas frases de 2 a 3 palavras. E já aos 3 anos de idade seu vocabulário aumenta muito e já deve ser compreendida por qualquer pessoa, mesmos fora de seu núcleo familiar.
Estes marcos são muito importantes no desenvolvimento da criança e mesmo que cada uma tenha seu tempo, deve-se ficar bem atento estiverem fora deste período.

Marcos do desenvolvimento da fala*:

  • 6 meses: reconhece a voz humana com diferentes entonações e balbucio
  • 12 meses: primeiras palavras e compreensão de pedidos e ordens simples
  • 18 meses: uso de palavras simples para pedidos e perguntas “dá”, “quer”,  “este”
  • 24 meses: frases simples (2 a 3 palavras) para pedir e perguntar.
  • 36 meses: cria frases mais longas e conta eventos passados.

* adaptado de: Ferlin Filho & Favero. In: Favero& Pirana, Tratado de Foniatria, 2020

O que pode ocasionar o atraso da fala?

Vários fatores podem interferir tais como perda auditiva, transtornos do desenvolvimento (aqui entra o autismo) e mesmo outros, assim como a falta de estímulo das crianças.

Mas e o atraso de linguagem?

Como citado anteriormente, a linguagem é a forma como nos comunicamos.
E ai sim pode ser um problema do transtorno do espectro autista. A criança não fixa o olhar, não responde ao chamado, dificuldade na interação social. Em crianças maiores pode-se observar ainda movimentos ou frases repetitivas e até mesmo involução da fala. Outras problemas neurológicos também podem cursar com problemas da linguagem como alguns tipos de paralisia
cerebral, entre outros.

Atraso de Linguagem**

  • Não retorna o sorriso
  • Não percebe que tem gente próximo
  • Não percebem alguns barulhos do ambiente
  • Preferem brincar sozinhos
  • Nem sempre gostam de brincar com brinquedos e preferem outros
  • objetos da casa ou usam os brinquedos de forma inadequada,
  • Interesse intenso e específico por alguns objetos
  • Repetem palavras isoladas e fora de contexto, mas não conseguem se comunicar com elas
    **adaptado de American Academy of Pediatrics (www.healhtychildren.org)

E a audição é importante?

A audição é um elemento chave para o desenvolvimento da fala. É importante ouvir para perceber e reproduzir os sons. Entretanto mesmo crianças surdas apresentam linguagem, como por gestos indicativos por exemplo. Apesar de importante, perda auditiva não é o único fator a se relacionar com o atraso da fala. Outras questões do desenvolvimento, estímulo, socialização são também necessários.

A pandemia atrasou o desenvolvimento da fala?

O desenvolvimento da linguagem e da fala geralmente ocorrem nos primeiros anos de via. de forma gradual com a aquisição gradual e de habilidade receptivas e expressivas.

Recentemente passamos por um longo período de isolamento social e escolas fechadas que pode levar a alguma impacto neste processo. O isolamento social, a menor interação entre pessoas, o uso de máscaras e o uso excessivo e telas mostram influenciar em pior desenvolvimento da fala.

Uso de telas atrasa o desenvolvimento da linguagem?

Um estudo de revisão de antes da pandemia já mostrava que o maior a quantidade de uso de tele (horas por dia/semana) está associado negativamente ao desenvolvimento da linguagem. Quando as crianças ficam expostas às telas não há engajamento verbal outros de turnos da fala e mesmo a imitação de fala de outras pessoas, principalmente adultos.

O que fazer para estimular a fala dos bebês?

O adulto deve estar sempre interagindo verbalmente com os bebês. Deve nomear tudo ao seu redor. Um exemplo é falar as partes do corpo enquanto dá o banho na criança. Nomear os alimentos no momento das refeições, etc. Responder aos balbucios, este é o início para o bebê perceber que esta ação (balbucio) e tem uma reação: a resposta da mãe ou cuidador.
Falar sempre de frente e forma bem articulada. As crianças aprendem pela imitação dos movimentos dos lábios.

Ao se perceber algum sinal de atraso seja na linguagem ou na fala, a investigação médica é mandatória. A fim de se iniciar o estímulo terapêutico o mais rápido possível.

Deve estar sempre atento ao desenvolvimento infantil: nem todo atraso de fala é autismo.

Referências:

Favero & Pirana. Tratado de Foniatria. Elsevier, 2020.

https://www.healthychildren.org/English/ages-stages/toddler/Pages/language-delay.aspx

Paulo Marcos Brasil RochaThe Covid-19 pandemic and its possible consequences to language/speech development and delay in children: an urgent issue.Audiol Commun Res. 2021;26:e2566https://doi.org/10.1590/2317-6431-2021-2566

Madigan S, McArthur BA, Anhorn C, Eirich R, Christakis DA. Associations Between Screen Use and Child Language Skills: A Systematic Review and Meta-analysis [published correction appears in JAMA Pediatr. 2022 Mar 28;:]. JAMA Pediatr. 2020;174(7):665-675. doi:10.1001/jamapediatrics.2020.0327

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).