Quando o ferro está em excesso

Estamos acostumados a ouvir que o ferro é um nutriente muito importante. Nos supermercados, os alimentos enriquecidos com ferro anunciam em seus rótulos essa virtude. E os vegetarianos incluem cuidadosamente alimentos como feijão, azuki, brócolis, espinafre e couve para evitar a anemia.

Realmente, o ferro é um mineral essencial. Ele está presente na hemoglobina das células vermelhas do sangue. E é a hemoglobina que oxigena todos os nossos órgãos. É por isso que existe um sofisticado mecanismo que controla os níveis de ferro, para que ele não falte no nosso organismo.

Como é o mecanismo que equilibra a quantidade de ferro no nosso corpo?

Nosso organismo obtém quase todo o ferro necessário por reciclagem interna. Apenas 1% do ferro que precisamos provém da dieta. Quando os estoques de ferro estão em baixa, o intestino fica ávido por captar o metal dos alimentos ingeridos. Mas quando já há quantidade suficiente, o fígado produz um hormônio chamado hepcidina. A hepcidina avisa o intestino para que bloqueie a absorção do ferro da dieta. E assim se preserva o equilíbrio no nosso corpo.

Você sabia que o ferro em excesso é tóxico?

Quando, por algum problema, esse sistema falha, o ferro começa a se acumular no nosso corpo. Essa condição se chama hemocromatose.

Os órgãos que mais sofrem na hemocromatose são: fígado, pâncreas, ossos, gônadas e coração.

O vídeo abaixo explica detalhadamente como é a hemocromatose hereditária clássica.

(Você pode ativar a legenda em português clicando nas configurações no rodapé do video.)

O que causa a hemocromatose?

Existe a hemocromatose hereditária, uma doença genética. Ela é frequente entre homens do norte da Europa. No Brasil, é bem mais rara. Mulheres que menstruam, que tiveram várias gestações e vegetarianos são os menos propensos a sofrer de hemocromatose.

Mutações no DNA, no gene HFE da hemocromatose hereditária facilitam o acúmulo de ferro. As causas mais comuns de hemocromatose em nosso meio são:

– consumo regular de álcool,

– ingestão excessiva ou prolongada de suplemento de ferro,

– abuso de vitamina C.

Além disso, hepatites, insuficiência renal, hemólise, porfiria, transfusões sanguíneas e diversas outras doenças também podem levar a acúmulo de ferro no organismo.

Ferritina alta significa ferro em excesso?

Nem sempre…

Ferritina é uma proteína que tem duas funções:

1. Armazena ferro. Quando o ferro está em excesso no organismo, ele guarda no seu interior uma quantidade imensa de átomos de ferro.
2. Responde à inflamação.

Na maioria das vezes, a ferritina está elevada por causa de alguma infecção, por sobrepeso ou obesidade, ou por consumo excessivo de álcool.

Ferritina alta é motivo para tirar fontes de ferro da dieta?

Não, exceto se houver exageros na dieta. Quando a ferritina está elevada, deve-se buscar a causa dessa elevação. Como na maioria das vezes a causa não é nem mesmo ligada a excesso de ferro no organismo, mas sim a condições de inflamação, ou de consumo alcoólico ou de excesso de peso, a retirada de fontes de ferro da dieta não costuma trazer benefícios. Restrições na dieta devem ser realizadas de maneira individualizada e cuidadosa, pois existe  risco de trazer mais prejuízo que benefício.

Como saber se tenho excesso de ferro no meu corpo?

O teste de saturação de ferro da transferrina, conhecido também por saturação da transferrina é um exame de triagem. Quando está elevado, deve-se reconfirmar. Ainda mais se a ferritina também estiver elevada. Se somente a ferritina está elevada, com saturação da transferrina normal, deve-se suspeitar mais de inflamação.

Se a suspeita se confirmar, o especialista pode pedir um teste genético, exames de imagem, e até mesmo uma biópsia do fígado. Mas cada caso precisa ser avaliado considerando idade, gênero, histórico de saúde pessoal e familiar, estilo de vida, medicações e suplementos em uso.

O que é a sangria?

Sangria ou flebotomia é um processo de retirada de sangue por punção – geralmente da veia do braço. É semelhante à doação de sangue. Com a diferença que o sangue removido da pessoa com excesso de ferro acaba sendo descartado, aqui no Brasil. Apesar de ser seguro, esse procedimento deve ser feito somente para tratamento de pessoas que têm ferro em excesso organismo. Porque nem todas as pessoas com excesso de ferro suportam a sangria. E mais: apenas a ferritina elevada não é critério suficiente para realizar sangria. Enfim, o tratamento precisa ser monitorado criteriosamente por um médico especialista.

Concluindo…

1. O ferro é necessário, mas em excesso é tóxico.
2. Suplementos de ferro, vitamina C e álcool podem provocar acúmulo de ferro no organismo em pessoas propensas.
3. Hemocromatose hereditária é a doença genética que faz acumular ferro excessivo, provocando cirrose e diabetes, entre outros problemas de saúde.
4. Ferritina alta nem sempre significa excesso de ferro. Na maioria das vezes, é provocado por obesidade, consumo de álcool e inflamação.
5. A restrição de alimentos ricos em ferro não costuma ser útil para  tratamento da hemocromatose, nem da ferritina alta.
6. A sangria, quando bem indicada, sob orientação de médico especialista, é segura e eficaz para remover o ferro excessivo no organismo.

Referências bibliográficas

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