relações complexas entre obesidade e depressão

O filme The Whale, muito antes de ser lançado já chamava a atenção. Tanto pelo retorno de Brendan Fraser às telas, quanto pelo tema. Apesar de ainda não ter conseguido assistir o filme, não preciso de muito para entender que se trata de uma jornada repleta de luta e sofrimento. Independente do mérito  da obra (  há críticas  de várias ordens pelas midias), trazer a questão para os holofotes é importante.

Obesidade e depressão

A  associação entre obesidade e depressão tem sido estudada repetidamente ao longo do tempo, com muitas hipóteses diferentes e vários mecanismos propostos, com a depressão causando obesidade ou como fator de risco e vice versa.

Depressão e obesidade são duas condições com grande impacto na saúde global. Isso se deve principalmente à sua alta prevalência e a morbimortalidade associada a ambas isoladamente e potencializado pela combinação.

Ademais, ambas são estigmatizadas, pouco compreendidas, ou pior, erroneamente compreendidas por grande parte da população e com isso, mal administradas em geral.

O peso na vida em geral

Há séculos a gula é tratada como pecado e falha de caráter.

De modo falsamente mais ameno mas não menos danoso, a visão centrada no poder pessoal de que a falta de controle sobre o peso é uma fraqueza ou somente decorrência de um momento de fragilidade, e que melhora apenas com a elevação da auto estima, lança um olhar paternalista sobre a questão, e desta forma, transportaas pessoas com obesidade para uma outra classe, subestimada em suas capacidades.

Esta visão se reflete em preconceitos mensuráveis como taxa de empregabilidade, salários oferecidos  e outros nem tanto, como nas relações interpessoais nas escolas ou nas universidades, a baixa expectativa em relação a  aderência ao tratamento interferindo na saúde de quem procura ajuda, e inclusive na própria busca por uma solução.

Acreditar que a perda de peso e a manutenção desta perda está exclusivamente sob  poder individual de tomada de decisões sobre o que comer e como comer é uma ideia que continua a ser difundida e certamente só acentua a culpa de estar com  obesidade, além de atrasar a procura por um tratamento adequado quando necessário.

Adicionalmente, o foco no indivíduo como principal controlador dos mecanismos de ganho e perda ponderal ( nem conhecemos todos, como controlar?????) assim como ideias imprecisas sobre as causas da obesidade podem interferir negativamente  nas politicas de saúde publica e diretrizes de  serviços de saúde.

Como consequência ainda observamos a rotulação dos  tratamentos medicamentosos e cirúrgicos  como recursos para fracos ou como ” muletas” ou então como última tábua de salvação.

Como se isso não fosse suficiente, há ainda uma prevalência aumentada de transtornos depressivos entre pacientes em tratamento de obesidade.

E aí chegamos no duplo preconceito.

Duplo preconceitoemaranhado de ideas

Tudo o que foi escrito aqui sobre preconceito em relação a obesidade é válido na hora de discorrer sobre preconceito em relação a transtornos psiquiátricos.

Existe ainda a cultura de que transtornos psiquiátricos também podem estar sob controle individual, apesar de todos os estudos apontarem para o contrario.

Sofrendo duplo preconceito, o tratamento fica complexo.

Mas afinal, quais são as relações?

  1. Pessoas com depressão tem maior dificuldade para e engajar em tratamentos de qualquer espécie, afinal uma das marcas da depressão é o desânimo.
  2. Pessoas com depressão podem ter alterações de apetite e redução das atividades diárias.
  3. Algumas medicações psiquiátricas podem em maior ou menos grau levar a ganho de peso.
  4. Algumas medicações utilizadas para perda de peso podem ter efeitos sobre humor e ansiedade
  5. As dietas para perda ponderal sem supervisão adequada podem levar a quadros de desnutrição qualitativa com repercussões sobre humor, cognição e ansiedade.
  6. Alguns sistemas biológicos estão alterados tanto na obesidade quanto na depressão  como eixo-hipotálamos-hipófise-adrenal, função imune e estado inflamatório.
  7. A desregulação do ritmo circadiano 

Em momento algum faço aqui a apologia a forma perfeita, mas uma vida com mais qualidade, mais saúde. Me preocupo muito com as pessoas que ficam perdidas no tiroteio de  informações que circulam nos meios de comunicação. Pensando nisso, deixo abaixo deixo alguns links interessantes para consulta.

www.psicofobia.com.br/

www.worldobesityday.org/

www.abeso.org.br

Bibliografia:

Blasco BV, García-Jiménez J, Bodoano I, Gutiérrez-Rojas L. Obesity and Depression: Its Prevalence and Influence as a Prognostic Factor: A Systematic Review. Psychiatry Investig. 2020 Aug;17(8):715-724. doi: 10.30773/pi.2020.0099. Epub 2020 Aug 12. PMID: 32777922; PMCID: PMC7449839.

Demétrio ,Frederico N.; Kussunoki ,Débora K.. Transtornos de Humor. In: Segal, Adriano; Kussunoki, Débora K.; Freire, Cristina C. Cirurgias Bariátricas e Metabólicas: Tópicos de Psicologia e Psiquiatria. Rio de Janeiro, Rubio, 2021 ;pág. 181 -189.