Recentemente, têm-se falado sobre os benefícios da dieta pobre em FODMAP para aliviar os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável. A dieta foi registrada como uma marca da Monash University, e está sendo popularizada nas redes sociais e em aplicativos para celulares. Então vamos entender o porquê desta dieta, e avaliar se existem evidências científicas, hoje, para fazer tais restrições.
Cerca de 10 a 15% das pessoas, no mundo inteiro, sofrem com essa síndrome. Contudo, são sintomas que também acontecem em outras doenças, que precisam ser diferenciadas. É importante que o diagnóstico de Síndrome do Intestino Irritável seja bem definido por um médico. Na consulta, é importante relatar os sintomas, incluindo padrões de funcionamento intestinal, características da dor, tempo de início e periodicidade das crises. O seu médico irá complementar a avaliação com o exame físico e, se necessário, com exames laboratoriais e de imagem.
O tratamento da Síndrome do Intestino Irritável inclui, inicialmente, adequações de
- peso e de prática de atividade física;
- padrão alimentar: evitar excesso de condimentos, pimenta, alimentos gordurosos, industrializados, álcool e cafeína; enriquecer em fibras e hidratar-se;
- condições de saúde: reconhecer alergias e intolerâncias alimentares, atentar aos efeitos colaterais de medicamentos, compensar diabetes e outras doenças.
A dieta pobre em alimentos FODMAP tem se mostrado eficaz em cerca de 70% dos pacientes. Medicamentos, probióticos, psicoterapia e outras medidas para alívio do estresse emocional também fazem parte das opções de tratamento da Síndrome do Intestino Irritável.
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O que significa “FODMAP”
FODMAP é um acrônimo:
F: fermentativos
O: oligossacarídeos
D: dissacarídeos (lactose)
M: monossacarídeos (frutose)
P: polióis
A seguir, listamos os principais exemplos desses alimentos:
ALIMENTOS RICOS EM FODMAP
- Lácteos: leite de vaca, iogurte, sorvete, nata, creme, queijo fresco, ricota, cottage
- Trigo: pão, biscoitos, farelo de trigo, massas
- Feijão, lentilha, ervilha, grão integral de soja
- Cebola, alho, alho poró, alcachofra, beterraba, chicória, couve, quiabo, couve-flor, cogumelos
- Maçã, pera, pêssego, cereja, caqui, melancia, damasco, nectarina, ameixa, abacate, amora, lichia
- Xilitol, manitol, sorbitol, mel
ALIMENTOS POBRES EM FODMAP
- Ovos, carnes, peixe
- Queijos como brie, camembert, feta, cheddar, parmesão
- Leite de amêndoas, arroz, sem lactose
- Arroz, quinoa, batata, tapioca
- Berinjela, tomate, abóbora, abobrinha, alface
- Laranja, abacaxi, morango
Sem glúten, sem lactose, sem fibras?
Se prestarmos atenção, a dieta pobre em FODMAP restringe fibras e cálcio, entre nutrientes importantes. Dos queijos, dá preferência justamente a alguns ricos em colesterol. Por isso, é preciso ter muito cuidado. Os alimentos não podem ser classificados em “bons” ou “maus”. Depende não somente do tipo de alimento, mas da quantidade total ingerida por refeição e da frequência. Outros fatores, como aspectos étnicos, culturais, regionais, o paladar individual, a idade, as comorbidades, além dos medicamentos em uso também são relevantes.
Estamos imersos em um mundo repleto de apelos gastronômicos e alimentos processados pouco saudáveis. Por outro lado, o mercado também lança continuamente produtos que visam cuidados diferenciados: sem glúten, sem lactose, sem alérgenos… E sem contar as muitas opções de prebióticos e probióticos, de alimentos enriquecidos e de suplementos.
Em muitas situações, respeitar as demandas do próprio corpo pode ajudar mais do que adicionar medidas!
Em conclusão…
A dieta pobre em FODMAP vem se estabelecendo como importante pilar do tratamento na Síndrome do Intestino Irritável. As restrições rigorosas não devem extrapolar 4 a 6 semanas, e precisam ser bem orientadas, a fim de evitar prejuízos à saúde. O certo é que a dieta deve ser planejada de maneira individualizada.
Os estudos atuais também buscam comprovar o papel da dieta pobre em FODMAP para aliviar os sintomas nas doenças inflamatórias intestinais e na fibromialgia. Nesse terreno promissor, muito temos a estudar e aprender nos próximos tempos.
Referências
Gibson PR. History of the low FODMAP diet. J Gastroenterol Hepatol. 2017 Mar;32 Suppl 1:5-7. doi: 10.1111/jgh.13685. PMID: 28244673.
Bellini M, Tonarelli S, Nagy AG, Pancetti A, Costa F, Ricchiuti A, de Bortoli N, Mosca M, Marchi S, Rossi A. Low FODMAP Diet: Evidence, Doubts, and Hopes. Nutrients. 2020 Jan 4;12(1):148. doi: 10.3390/nu12010148.
Schumann D, Klose P, Lauche R, Dobos G, Langhorst J, Cramer H. Low fermentable, oligo-, di-, mono-saccharides and polyol diet in the treatment of irritable bowel syndrome: A systematic review and meta-analysis. Nutrition. 2018 Jan;45:24-31. doi: 10.1016/j.nut.2017.07.004. Epub 2017 Jul 13. PMID: 29129233.
Xie CR, Tang B, Shi YZ, Peng WY, Ye K, Tao QF, Yu SG, Zheng H, Chen M. Low FODMAP Diet and Probiotics in Irritable Bowel Syndrome: A Systematic Review With Network Meta-analysis. Front Pharmacol. 2022 Mar 9;13:853011. doi: 10.3389/fphar.2022.853011. PMID: 35355730; PMCID: PMC8959572.
https://www.monashfodmap.com/
https://www.hopkinsmedicine.org/health/wellness-and-prevention/fodmap-diet-what-you-need-to-know