Suplementos polivitamínicos, alimentares prometem saúde, energia, beleza e vitalidade O que precisamos saber sobre polivitamínicos

“Todo mundo” está usando polivitamínicos!

Os polivitamínicos representam um mercado crescente, e movimentam bilhões de dólares todos os anos. Na Grã-Bretanha e nos EUA, metade da população adulta toma pelo menos um desses comprimidos todos os dias. Na Austrália, eles são 70%! E no Brasil, o consumo também cresce a olhos vistos.

Diversos “experts” asseguram os benefícios desses produtos e incentivam seu uso. Além disso, nas mídias sociais, influencers reafirmam que suplementar minerais, vitaminas e aminoácidos nos ajudará a atingirmos padrões ideais de beleza, energia e jovialidade. E não é diferente nas academias de ginástica e nas rodas de amigos, onde também nos deparamos com receitas e recomendações infalíveis. Por fim, nas prateleiras das farmácias e nos sites de compra eles estão lá, em frascos atraentes, e acenando com promessas de Saúde e Sucesso.

cápsulas de suplementos vitamínicos e alimentares
Suplementos vitamínicos e aminoácidos prometem saúde, beleza e vitalidade.

O que são polivitamínicos?

No Brasil, há duas categorias para os produtos à base de vitaminas e minerais, segundo orientação do Ministério da Saúde:
  1. Suplementos vitamínicos são alimentos que complementam nutrientes específicos na dieta de uma pessoa saudável. Eles contêm de 25 a 100% da Ingestão Diária Recomendada (IDR). E não podem substituir a refeição.
  2. Medicamentos à base de vitaminas e minerais contêm doses acima de 100% da IDR. A legislação exige que constem os dizeres:
    • “Consumir este produto conforme a Recomendação de Ingestão Diária constante da embalagem”
    • “Gestantes, nutrizes e crianças até 3 (três) anos somente devem consumir este produto sob orientação de nutricionista ou médico”.

Entretanto, na prática não é difícil que os produtos se confundam, já que podem estar nas mesmas prateleiras e são de venda livre. Por isso, quem se automedica está propenso a tomar doses elevadas desses compostos.

Mas, afinal de contas, o que esses produtos fazem pela nossa saúde?

Hoje sabemos que, em altas doses, beta-caroteno, vitamina E e vitamina A são prejudiciais à saúde. Outros antioxidantes, ácido fólico e vitaminas do complexo B, além de multivitaminas e suplementos minerais não protegem de doenças, nem de causas de morte pela maioria das doenças.
Com base nesses conhecimentos, o editorial de Guallar e cols na prestigiada revista médica científica Annals of Internal Medicine, em 2013, foi taxativo.
“Basta: parem de desperdiçar dinheiro com suplementos vitamínicos e minerais”.
Gerou, claro, forte repercussão no meio acadêmico e na mídia leiga, entre apoiadores e contestadores.
Na mesma linha, o Dr Gannon, presidente da Associação Médica Australiana também se posicionou de maneira contundente, em 2017. Em rede nacional, fez a seguinte declaração:
“Polivitamínicos não beneficiam a maioria das pessoas, apenas produzem uma ´urina muito cara´”.
Essa foi uma alusão ao fato de que o organismo excreta pelos rins vários dos minerais e vitaminas excedentes, um desperdício de recursos!

Os polivitamínicos são seguros, pelo menos?

Ao contrário do que costuma ser apregoado, é preciso dizer: nem sempre são seguros.
Por exemplo, em uma recente publicação na Biblioteca Cochrane, Cortés-Jofré  e cols concluíram que os suplementos à base de vitamina A aumentaram a incidência e a mortalidade por câncer de pulmão em fumantes ou pessoas que foram expostas a asbestos. Outro resultado inesperado foi o achado que a vitamina C aumentou o risco de câncer de pulmão em mulheres. Já a vitamina E aumentou o risco de acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH).  E o selênio intensificou dermatites e alopecia (perda de cabelos) em homens.
Também é preciso lembrar que doses abusivas de vitamina D causam elevações do nível de cálcio no sangue. Quando isso acontece, a pessoa pode sentir náuseas e vômitos, cansaço e vontade de urinar com frequência. E mais os problemas nos ossos e nos rins que decorrem do excesso de vitamina D por tempo prolongado.
Menos grave, mas igualmente relevante, é tomar conhecimento que já se tem estabelecido que os polivitamínicos não evitam doença cardiovascular, nem demência senil. Tampouco vitamina C, D e zinco protegem da covid-19.
Por outro lado, alguns estudos ainda deixam a esperança de se consiga comprovar que a suplementação protege os homens contra diversos tipos de câncer.

E quais são os benefícios do uso de polivitamínicos?

Fabricantes e vendedores dos polivitamínicos argumentam que seus produtos são úteis porque a maioria dos adultos não se alimenta adequadamente, isto é, não consome quantidades saudáveis de frutas e vegetais no dia-a-dia.
A verdade é que, independente das reais necessidades orgânicas, o consumo de polivitamínicos passou a fazer parte de um conjunto de comportamentos de um estilo de vida. Incorporou-se como um hábito daqueles que buscam uma saúde melhor.
Entretanto, do ponto-de-vista médico, as recomendações são claras. Deve-se repor vitaminas e minerais para aqueles que não conseguem obter o suficiente da dieta, ou que sofrem perdas excessivas.
Por exemplo, após uma cirurgia bariátrica. Ou nos portadores de doença celíaca, doenças inflamatórias intestinais, alcoolismo, gastrite atrófica e hemorragias intensas por miomas no útero.
É importante destacar também a importância do ácido fólico para mulheres em idade gestacional. Sim, está provado que o ácido fólico previne defeitos no tubo neural de bebês, no período antes de engravidar e naqueles primeiros dias da gestação. Também não podemos deixar de mencionar que a suplementação de vitamina D e cálcio é fundamental no combate à osteoporose, o que deve ser feito sob supervisão médica.

Resumindo…

  1. Uma dieta balanceada provê todas as vitaminas e minerais que o organismo de uma pessoa saudável necessita.
  2. Dosagens excessivas de algumas vitaminas, além do desperdício financeiro, podem prejudicar a saúde seriamente.
  3. Suplementos vitamínicos não aumentam longevidade, não evitam infarto, derrame nem câncer em pessoas saudáveis.
  4. Manter o peso, praticar atividade física e cuidar da alimentação ainda são a via mais eficiente e segura para uma boa saúde!

 

“Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio.”

(Hipócrates, Pai da Medicina, 500 a.C)

cápsula contendo frutas e vegetais no interior

Referências

1. Cortés-Jofré et al. Drugs for preventing lung cancer in heathy people. Cochrane Database Syst Rev 2020 doi: 10.1002/14651858.CD002141.pub3
2. Fortmann et al. Vitamin and mineral supplements in the primary prevention of cardiovascular disease and cancer: An updated systematic evidence review for the U.S. Preventive Services Task Force. Ann Intern Med 2003. doi10.7326/0003-4819-159-12-201312170-00729
3. Guallar et al. Enough is enough: stop wasting money on vitamin and mineral supplements. Ann Intern Med 2013. doi: 10.7326/0003-4819-159-12-201312170-00011.

Escrito por

Marta Deguti

Médica hepatologista, nipo-paulistana de nascimento e de coração, casada, mãe de dois filhos, de um cãozinho e de uma gatinha.