Uma nova arma para combater o colesterol ruim foi recentemente aprovada pela ANVISA e deverá chegar logo às farmácias brasileiras. Sua importância? Este novo remédio pode diminuir o risco de desenvolver doenças cardiovasculares como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC) em quem já foi vítima destas doenças.

De acordo com a Associação Americana de AVC (American Stroke Association), um a cada quatro sobreviventes de derrame ou de infarto enfrentará um novo evento. Por isso, é muito importante controlar os fatores de risco como o sedentarismo, a obesidade, o tabagismo, a pressão alta, o diabetes e, principalmente, o colesterol.

“Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto para mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente.”B.F. Skinner

As doenças cardiovasculares e o colesterol ruim

Apesar de todas as pesquisas científicas, as doenças cardiovasculares permanecem como a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

Estas doenças ocorrem pelo depósito do colesterol ruim, o LDL, na parede dos vasos sanguíneos. Assim, os vasos sanguíneos ficam estreitos e o fluxo de sangue diminui, podendo formar um coágulo, entupir e levar ao infarto e ao AVC.

Desde muito tempo sabe-se que o LDL é um fator de risco muito importante para a formação de placas de gordura na parede dos vasos, a chamada aterosclerose.

Estudos recentes demonstraram que quanto mais baixo o LDL, maior a diminuição do risco de infarto ou AVC. E não parece haver um limite abaixo do qual a diminuição do LDL deixe de trazer benefício.

Clique no link abaixo para ver como se formam e crescem as placas de gordura. (American College of Cardiology – CardioSmart)

Aterosclerose – como se formam as placas de gordura

Controlar o colesterol ruim é um desafio

O tempo que o colesterol fica alto é cumulativo, isto é, quanto mais tempo alterado, maior a chance de desenvolver placas de gordura. Quanto mais cedo controlar, mais tempo de vida sem entupimentos de vasos sanguíneos. Isto é conhecido como “anos de colesterol” – quanto menor e mais baixo, melhor.

As estatinas ainda são as medicações de primeira escolha para reduzir o colesterol, mas nem sempre atingem a meta do LDL sozinhas. Quando isso acontece, devem ser associadas outras medicações e todas precisam ser tomadas todos os dias.

Ainda, cerca de 10% dos indivíduos têm intolerância às estatinas.

Mas, é difícil tomar remédio todos os dias…

No Brasil, a média de uso dos remédios para reduzir o colesterol não ultrapassa 90 dias. Porém, o benefício da redução do LDL começa a partir de um ano do uso contínuo das medicações.

Além disso, mais de 90% dos pacientes que sofreram derrame ou infarto não estão com o colesterol LDL adequadamente tratado.

A proteína PCSK9 – o que é isso?!?

A proteína PCSK9 é produzida no fígado e tem um papel muito importante na formação de placas de gordura. Ela aumenta o LDL na circulação porque destrói os receptores que tiram o LDL do sangue para ser eliminado no fígado.

Os anticorpos que podem bloquear a PCSK9 circulante

Há vários anos estão nas farmácias anticorpos que bloqueiam a PCSK9 temporariamente e provocam queda significativa do colesterol circulante, diminuindo o risco de infarto e AVC em 50%. São injeções subcutâneas que devem ser tomadas mensalmente durante a vida toda e têm alto custo.

E a “nova arma”?

A inclisirana foi capaz de reduzir o colesterol LDL em média 52% com apenas duas injeções subcutâneas por ano, depois de 1 dose a cada 3 meses no primeiro ano de uso. Seu mecanismo de ação é inovador: é um RNA pequeno (siRNA) que interfere na produção da proteína PCSK9, com vários estudos demonstrando segurança e eficácia em pacientes de alto risco para as doenças cardiovasculares.
Já está no mercado europeu desde 2021 e nos Estados Unidos da América desde 2022

Quem quer viver 100 anos sem infarto ou AVC?

Um remédio bem tolerado, administrado uma ou duas vezes por ano, mesmo para quem nunca teve infarto ou AVC, pode ser um caminho real na diminuição das mortes por doenças cardiovasculares.

Porém, é claro que ainda não se conhecem os efeitos colaterais a longo prazo, nem o que pode ocorrer com as variações do LDL ao longo de décadas de redução.

Entusiasmo e olho no futuro!

Numa publicação recente, um dos nomes mais importantes da cardiologia mundial, Eugene Braunwald, sugere que, no futuro, possa haver uma injeção anual – como a vacina de gripe,  capaz de permitir que se viva 100 anos sem infarto ou AVC!

Quem sabe!

Esperança para a redução das mortes por doenças cardiovasculares- Imagem de Tom -Pixabay

Referências:

European Heart Journal (2022) 43, 249-250

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9345156/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10332363/