E essa agora? O que é a Monkeypox? Outra ameaça viral?

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Sabemos muito pouco

Ainda conhecemos pouco sobre essa nova situação sanitária. Mas estamos todos traumatizados ainda com as perdas sofridas, com a solidão do isolamento, com as sequelas físicas e mentais na saúde, com a ruptura do dia-a-dia, com os estragos na econômica que o coronavirus deixou.

Muito estudo é necessário sobre vigilância epidemiológica
Ainda sabemos pouco e muito estudo é necessário.www.freepik.com/photos/photo created by freepik – www.freepik.com

Outra pandemia?

Será que viveremos outra pandemia? Há receio, pois não é para menos: as doenças hoje viajam de avião, circulam no globo sem fronteiras geográficas. No entanto, a transmissão da varíola por via respiratória pode se dar numa taxa menor que a do coronavirus.

A Varíola humana já foi um grave problema

E se tratando da varíola, o receio é ainda maior. Pois os mais velhos ainda se lembram de como era essa peste: deixava marcas permanentes na pele dos que sobreviviam, pois chegava a ter uma letalidade próxima de 30% e mudou o curso da história da humanidade muitas vezes. Reis sucumbiram à varíola, como Luís XV da França.

Quando os europeus descobriram o continente americano, trouxeram também novas doenças que o povo ameríndio desconhecia, pois havia passado milhares de anos isolado. A varíola foi uma das doenças que desembarcou junto com os colonos. E embora os registros sejam falhos, acredita-se que boa parte da população indígena tenha sido dizimada por essa doença.

Heróis

Há uma história pouco conhecida de heróis que vieram à América espanhola em 1803-1806 numa expedição de variolização. Pois na ocasião, a viabilidade econômica das colônias espanholas estava sob ameaça diante da devastação causada pela epidemia de varíola. Sim, a expedição foi heróica e inovadora para a época. O médico que a idealizou, liderou e viabilizou juntamente com sua equipe, que incluia uma senhora incrível chamada Izabel Zendal (as vezes reconhecida como a primeira enfermeira- um dia escreverei sobre ela) venceram inúmeros obstáculos técnicos, financeiros, políticos e de preconceito. Mas conseguiram imunizar milhares de pessoas no que hoje seriam o México, a América Central, Cuba, Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia e Chile.

O que é variolização?

Consiste em inocular em pacientes o vírus abrandado na expectativa de causar uma doença de manifestações clínicas leves e que confira imunidade à doença na sua forma mais grave.

Jenner observou que a doença bovina era mais branda que a humana e que evitava formas graves da doença. Óleo sobre tela de Credit…DEA Picture Library/Getty Images

Em 1796, o médico rural Edward Jenner inoculou em um garoto de 8 anos um líquido retirado da lesão de uma mulher que havia sido infectada pela varíola bovina. A varíola bovina era uma doença branda e quem a desenvolvia geralmente não adoecia da varíola humana. Esse foi o princípio das vacinas, depois desenvolvidas.

Para conhecer um pouco mais da história da Varíola humana assista ao vídeo:

Na Era das Vacinas

Com a vacinação, a varíola foi considerada erradicada em 8 de maio de 1980. Foi um daqueles momentos sublimes da história da humanidade. Por isso, aqui no Brasil, as pessoas com menos de 50 anos, provavelmente não mais foram vacinados contra a varíola.

O que é a Monkeypox e o que podemos esperar deste novo vírus?

Agora, passados 40 anos, se identificou inicialmente na Espanha, Portugal e Reino Unido casos que se assemelharam muito à varíola. Na investigação diagnóstica, encontrou-se o vírus do Monkeypox (varíola do macaco) que é endêmico na África. Casos isolados de Monkeypox já haviam ocorrido. A infecção ocorre após contato com o animal infectado. Há um período de incubação variável, mas mais frequentemente de 7 a 14 dias, e então surge febre, calafrios. Cerca de 3 dias depois do início dos sintomas, surgem lesões na pele em forma de vesículas no rosto que se espalham pelo corpo, acometendo também as mucosas. O processo regride em aproximadamente 4 semanas, deixando marcas nos locais das vesículas. A transmissão entre seres humanos ocorre pelo contato com essas lesões de pele, pelo trato respiratório e pelas mucosas (boca, nariz e olhos). Como o vírus é bastante resistente na natureza, roupas e outros objetos que estiveram em contato com as lesões também podem transmitir. Ainda não foi descrita a transmissão sexual, apesar dos primeiros pacientes diagnosticados em o Monkeypox terem sido homosexuais. O Monkeypox parece ter menor gravidade do que a varíola humana, podendo ser mais graves em crianças, causando pneumonite e sepsis. A letalidade da Monkeypox é estimada em 10%.

Se acredita que a vacina contra a varíola possa ter uma reação cruzada com o Monkeypox e oferecer alguma imunização. Mas depois da erradicação, estas vacinas não estão mais disponíveis. Teremos que acompanhar a evolução dos acontecimentos e acreditar nas estratégias dos governos para a prevenção da doença. Não será fácil… pois ainda estamos no rescaldo da politização do coronavírus… Será que aprendemos alguma lição na pandemia? Será que as lideranças mundiais estão prontas para mais esse desafio? Acredito que melhor comunicação entre todos os governos e entre os governantes e a população seja o primeiro passo para o rascunho de uma estratégia de prevenção eficaz. E por enquanto, sempre lavar as mãos e evitar levá-las à boca e olhos.

E essa agora…

Ao menos ainda não há nenhum caso confirmado de Monkeypox aqui no Brasil.

Referências: