“O essencial é invisível aos olhos”

Linda frase de Antoine de Saint Exupery, presente no livro O Pequeno Príncipe.  Contém uma mensagem especial.

Hoje gostaria de falar com meus colegas médicos, e especialmente com os jovens estudantes de medicina.

Na vontade de curar alguém, podemos ser excessivamente técnicos, e isso não nos faz bons médicos.

Para ser bom médico precisamos estar atentos às pessoas, as suas necessidades físicas e afetivas, a sua capacidade de entender o tratamento e os riscos envolvidos.

nem semore o essencial é palpável
O essencial se esconde na alma

Invisíveis

Será que quando os pacientes vão a uma consulta médica para resolverem dúvidas a respeito da sua saúde, eles são de fato compreendidos? Que importância isso tem?

O Oráculo do século XXI

As orientações recebidas ali, naquele instante, podem e muitas vezes de fato mudam o curso de nossas vidas. Propõem novos hábitos, novos comportamentos, decidem sobre tratamentos e prognósticos. É um momento, como frente a um oráculo, no qual podemos vislumbrar o futuro.

Essas decisões terão impacto não apenas para o paciente, mas também para a família e para aqueles que amam aquela pessoa.

Labirito

Tomadas de decisão podem nos deixar perdidos
Tomadas de decisão podem nos deixar perdidos

O médico precisa se guiar entre um emaranhado de diagnósticos, de possibilidades terapêuticas, e trabalhos científicos para fazer o melhor para aquela pessoa.

Mas o essencial é invisível aos olhos. O essencial vem do coração. Dos múltiplos significados daquela doença naquela pessoa, naquele momento. O médico precisa compreender tudo isso.

O contexto afetivo se estende ao médico. O paciente precisa confiar.

É necessário se criar um laço, estreito, apertado com o paciente e sua família. O médico estará de mãos dadas com seu paciente nos períodos mais difíceis.

Como criar essa confiança?

Ter confiança é importante para tomada de decisão importantes
Ter confiança é importante para tomada de decisão importantes

Olhe.

As pessoas precisam de compreensão. Seus sentimentos podem ser confusos. E mesmo o médico precisa de espaço para exercer sua humanidade e seus próprios sentimentos.

Não podemos esquecer que embora o essencial seja invisível aos olhos, é pelos olhos que começamos a entender uma pessoa. Não nos esqueçamos de olharmos nos olhos de cada um. Às vezes é tão difícil se deixar tomar pelas emoções, mas tratar de doença, é cuidar da vida, é cuidar das emoções também. Não se fara uma boa medicina sem alma.

Escute.

Ver uma pessoa nem sempre é com os olhos, às vezes é ouví-la. Não vemos apenas a imagem de alguém. Construímos com vários elementos um estofo para esta imagem, que afinal será a pessoa. Ao ouvirmos, construímos a narrativa dos problemas, entendemos a história natural da doença, mas também da pessoa. A voz e o jeito de falar contam sobre a ansiedade, a dor, sobre os pensamentos do indivíduo. Ouvir alguém é uma maneira de conhecê-la.

Estabeleça laços.

Conexões afetivas são os instrumentos, as ferramentas para de fato cuidar da saúde de alguém e da sua própria saúde.

Cuidar é dar importância afetiva, é saber se comunicar, saber informar, saber perguntar. Dentro de um consultório, uma pessoa fica tão exposta que a consulta até pode ser uma experiência invasiva, agressiva. Falar de si, se desnudar, se deixar tocar. Nem todo paciente está disposto a fazer isso de maneira franca. Mas isso também é um direito dele.

O seu médico não precisa ser seu amigo, seu chapa. Mas precisa ser outra pessoa, no sentido amplo, alguém com sentimentos para se espelhar, para dar continência a seus medos e raiva. Sim, estar doente, seriamente doente assusta, e pode dar raiva.

Por que precisamos de amor e compaixão?

Se quiser ouvir uma breve explicação, veja o vídeo abaixo.

É difícil ser médico.

A vaidade é com frequência um entrave à uma boa comunicação. Não raro, os médicos podem assumir posições vaidosas, arrogantes, donos do conhecimento. Deve-se ter cuidado e analisar se esse traço muito humano não está estragando a comunicação com seu paciente. Deve-se dar a oportunidade do paciente perguntar, sem medo, escalrecer suas dúvidas. Posturas vaidosas podem ser uma barreira.

Em tempo, os pacientes também podem ser vaidosos. Mas a boa postura médica, deve reconhecer esses obstáculos ao bom tratamento e contornar.

A beleza.

Eu sou amante da literatura. Acredito que a beleza da fala é importante na comunicação e na capacidade de convencimento. Uma fala com palavras e modo adequados pode cativar e abraçar um paciente. A beleza traz esperança.

Tempo.

Tenha tempo para conversar com seus pacientes. estamos tão acostumados a uma vida imediata, no tempo de um click, que desacostumamos a pensar que o entendimento precisa de tempo.

Os efeitos sobre a saúde

Vários estudos demonstraram que pacientes que recebem cuidados de provedores de saúde que consideram empáticos, têm melhores resultados terapêuticos: sintomas menos graves, recuperação mais rápida. Os pesquisadores desses estudos ponderam que provedores de saúde empáticos oferecem um nível mais alto de cuidados gerais e completo. As decisões terapêuticas tendem a ser mais compartilhadas e por isso mesmo, os pacientes são mais aderentes ao tratamento. O cuidado geral é de melhor qualidade.

O essencial é invisível aos olhos. Mas não ao coração.