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O que é intolerância a lactose?
Chamamos de intolerância a lactose quando o intestino delgado não consegue digerir bem o leite ou seus derivados pela falta de lactase. Lactase é a enzima que quebra o carboidrato contido no leite e nos seus derivados. E esse carboidrato contido no leite é a lactose.
A capacidade de produzir lactase no intestino delgado é uma característica genética herdada dos nossos ancestrais. Mas isso não quer dizer que a pessoa já seja intolerante a lactose desde que nasce! Então vamos entender um pouco melhor abaixo.
Qual a causa da intolerância a lactose?
Existem duas causas principais:
- Hereditária: é a forma mais comum. Ao nascer, como todo mamífero, a criança produz lactase para digerir o leite materno. Conforme cresce, essa capacidade vai minguando. Algumas pessoas já se tornam intolerantes na infância, enquanto outras, só na idade adulta. E entre os idosos, é ainda mais comum a dificuldade de digerir o leite ou seus derivados.
- Adquirida: como a lactase é produzida no intestino delgado, doenças que afetam essa região do intestino prejudicam também a produção da lactase.
Intolerância a lactose é o mesmo que alergia a leite?
Não! O alérgico não pode ter nenhum contato com a substância que sofre uma reação imunológica intensa. Já na intolerância a lactose, o que acontece é que, pela falta da enzima digestora, a lactose fica no interior do intestino ocupando volume, sofrendo fermentação e provocando desconforto.
Quais são os sintomas da intolerância a lactose?
Variam bastante. Podem ser desde leve desconforto, até cólicas que levam a pessoa a procurar o pronto socorro.
As principais manifestações são:
- dor, desconforto e inchaço no abdômen
- cólicas intestinais e ruídos de gases e líquidos se movimentando
- flatulência
- náuseas
- diarreia
É comum que os sintomas comecem meia-hora ou até duas horas após a refeição. Não existe um padrão fixo. Há pessoas que um dia fazem uma refeição com queijos ou molho de creme de leite e não passam mal. E no outro dia, os mesmos alimentos causam sintomas intensos. Isso dificulta o reconhecimento dessa condição.
E porque nem sempre é fácil mesmo reconhecer a intolerância a lactose… os sintomas dependem não somente da quantidade de lactose ingerida, mas da quantidade de enzima disponível no intestino naquele momento! E há ainda outros fatores que influenciam. Por exemplo, os sintomas podem se agravar quando há excesso de gorduras, proteínas ou álcool… Se a pessoa comeu rápido demais, se está tensa (sim, sabemos que aspectos emocionais influenciam a sensibilidade intestinal também!), se ingeriu alimentos fermentativos (ricos em FODMAP)…
Quando procurar o médico?
Quando os sintomas prejudicarem sua qualidade de vida, e se houver dúvidas que a retirada de lácteos possa melhorar seus sintomas. As crianças e adolescentes em crescimento precisam de especial atenção para não sofrer prejuízo no seu desenvolvimento. Na consulta, além de caracterizar os sintomas digestivos e os tipos de alimentos desencadeantes de crises, faz parte questionar se pais, irmãos e avós também apresentam padrões digestivos semelhantes. A intolerância a lactose é mais comum em famílias de origem não europeia (não caucasoide).
Como se diagnostica a intolerância a lactose?
Na maioria das vezes, a avaliação médica cuidadosa pode dar o diagnóstico.
Os testes laboratoriais também ajudam a comprovar a suspeita:
Teste de tolerância a lactose. É uma prova funcional. O paciente dosa a glicemia no jejum. A seguir, toma lactose e vai dosando a glicemia a cada 30 minutos. Se produzir lactase, a glicemia vai subir significativamente dentro das próximas duas horas.
Teste respiratório de hidrogênio marcado. Também é uma prova funcional, em que o paciente ingere lactose e tem os gases expirados pelo pulmão medidos em um aparelho. Se não produzir lactase, a lactose sofre fermentação e o ar exalado tem maior teor de hidrogênio.
Esses testes funcionais podem gerar sintomas intensos em quem é intolerante a lactose. Por isso, às vezes a opção é pelo teste genético.
O teste molecular de tolerância a lactose aponta se a pessoa tem perfil genético com tendência a parar de produzir a lactase ao longo de sua vida.
E é importante lembrar que a intolerância a lactose pode acontecer em consequência a uma doença intestinal, ou sobreposta a ela. São exemplos de diagnósticos diferenciais: doença celíaca, doenças inflamatórias intestinais, síndrome do intestino irritável e parasitoses intestinais. Esses casos precisam ser reconhecidos e tratados adequadamente!
Sobre o tratamento…
Você já percebeu quantos alimentos contêm lácteos “ocultos”?
De fato, às vezes, as pessoas param de tomar leite e comer queijo, mas os sintomas persistem. É que nem sempre nos damos conta de quantos alimentos são preparados com leite ou derivados. Por exemplo, há lácteos ocultos em tortas, pães, bolos, doces, recheios, molhos e etc. A manteiga contém lactose em mínima quantidade. Já o whey protein, tão utilizado entre praticantes de esportes, é rico nesse carboidrato.
É preciso tirar todos os leites e derivados da dieta?
Não necessariamente. Intolerância a lactose não é alergia!
O manejo é mais pautado pelo conhecimento do próprio grau de tolerância. A ideia é buscar se alimentar conforme a aceitação do organismo. A retirada total de lácteos empobrece a dieta de cálcio e proteínas , e pode até “prender” excessivamente o intestino.
Pode-se retirar a lactose totalmente da dieta até ficar sem sintomas. Depois, reintroduzir gradativamente os lácteos em pequenas quantidades, observando as reações. Os derivados lácteos fermentados ou curados tendem a ter melhor aceitação que o leite propriamente dito. Administrados em meio às refeições, com outros alimentos, também podem provocar menos desconforto.
Felizmente, hoje existem no mercado muitas opções de produtos sem lactose que suprem as necessidades do paladar e dos nutrientes necessários à nossa saúde. E também há o recurso de se administrar comprimidos de lactase nas refeições com alimentos lácteos.
Video recomendado:
Veja como a Dra Ana Maria Escobar explica de maneira bem didática a intolerância a lactose no video abaixo:
Leitura Recomendada:
www.bbc.com/portuguese/vert-cap-47599056
Referências bibliográficas
https://www.hopkinsmedicine.org/health/conditions-and-diseases/lactose-intolerance
Deng Y, Misselwitz B, Dai N, Fox M. Lactose Intolerance in Adults: Biological Mechanism and Dietary Management. Nutrients. 2015 Sep 18;7(9):8020-35. doi: 10.3390/nu7095380. PMID: 26393648; PMCID: PMC4586575.
Szilagyi A, Ishayek N. Lactose Intolerance, Dairy Avoidance, and Treatment Options. Nutrients. 2018 Dec 15;10(12):1994. doi: 10.3390/nu10121994. PMID: 30558337; PMCID: PMC6316316.
Di Costanzo M, Berni Canani R. Lactose Intolerance: Common Misunderstandings. Ann Nutr Metab. 2018;73 Suppl 4:30-37. doi: 10.1159/000493669. Epub 2019 Feb 19. PMID: 30783042.