coração inflamado

Você já deve ter escutado: Miocardite. Mas o que é?

Trata-se da inflamação das células do músculo cardíaco. Pode acontecer por uma infecção por vírus, como o da gripe (influenza A e B), ou o da COVID-19, dengue, hepatite, HIV, ou por bactérias e protozoários como o Chaga e a Ameba, ou por sensibilidade a certas substâncias como álcool, cocaína, antibióticos… A lista de causas é bem extensa.

imagem de fogo para ilustrar inflamação
A miocardite resulta de inflamação das células musculares.Photo by Cullan Smith on Unsplash

A inflamação das células do coração resulta da interação destes agentes biológicos ou não (como as toxinas e substâncias como cocaína e álcool) com o sistema imunológico da pessoa. Está modulado por fatores genéticos de cada um. O sistema imunológico é bastante complexo e é o responsável pela defesa de nosso corpo contra os vários fatores agressores, mas sua ação pode resultar também em lesão nas nossas próprias células.

O vídeo abaixo pode ajudar a entender como funciona o sistema imunológico:

 

A inflamação do músculo cardíaco pode ocorrer sem sintomas, ou de forma leve e mais raramente, de forma grave, podendo inclusive levar à morte.

Pode ocorrer de forma aguda, subaguda ou crônica. Com uma variação muito grande de sintomas. Muitas vezes há um estado gripal cerca de 1 ou 2 semanas antes dos primeiros sintomas. O paciente comumente queixa-se de dor no peito, falta de ar e cansaço desproporcional aos esforços. Os casos graves podem ter edema nos pulmões e dificuldade para manter a pressão arterial.

Na miocardite célula cardíaca responsável pela contração do coração pode ser substituída por tecido cicatricial. O coração se enfraquece para a sua primordial função de ejetar sangue na circulação.

O coração inflamado também é propício à arritmia e o paciente pode referir palpitações. Algumas vezes a arritmia na miocardite pode ser grave com risco de morte súbita, mas felizmente, esses casos são a exceção.

Durante a pandemia, observou-se miocardite em pessoas que receberam a vacina de mRNA contra o Covid-19. A miocardite pós-vacina acometeu pessoas entre 12 e 39 anos, principalmente do sexo masculino. De acordo com as últimas revisões, os casos foram raros e leves, o que é uma notícia tranquilizadora. Entre os homens, a prevalência foi de 41 por milhão e entre as mulheres de 4,2 por milhão. Os sintomas surgiram cerca de 7 dias após a vacina, principalmente após a segunda dose. A correlação de causa entre a miocardite e a vacina ainda está em estudo, sendo bastante complexa e ainda pouco entendida. A preocupação com a segurança das vacinas é justificável, pois diante da gravidade da pandemia, os processos de aprovação foram excepcionalmente rápidos. Em agosto 2021, pesquisadores israelenses publicaram numa renomada revista médica dados que demonstraram que a miocardite pós vacina é rara e oferece menos riscos cardiovasculares que a infecção pelo SARS-CoV. O vírus da Covid além de miocardite também pode causar outros riscos cardiovasculares como pericardite, infarto, trombose e embolia pulmonar. O risco de miocardite pós vacina não deve ser motivo para não se vacinar, pois até o momento em que escrevo este texto, acredita-se que as vacinas de mRNA contra a Covid-19 sejam eficientes e bastante seguras. No geral, a incidência de miocardite foi de 2,13/100.000 pessoas vacinadas.

Se quiser conhecer melhor como as vacinas mRNA contra o Covid-19, verifique o vídeo abaixo:

O tratamento para as miocardites depende da causa e dos sintomas. Muitas vezes pode ser necessária a internação, embora nas condições crônicas, o diagnóstico em geral é feito tardiamente, e o tratamento consista em minimizar as sequelas funcionais do coração. Deve ser orientado por uma cardiologista experiente. Algumas miocardites podem se resolver espontaneamente, outras podem requerer tratamentos específicos. Alguns pacientes podem ficar com sequelas, mantendo insuficiência cardíaca. No caso das miocardites pós vacina de mRNA, a grande maioria dos pacientes se recupera totalmente.

Referências:

1-Myocarditis after BNT162b2 mRNA Vaccine against Covid-19 in Israel. Mevorach D, Anis E, Cedar N, Bromberg M, Haas EJ, Nadir E, Olsha-Castell S, Arad D, Hasin T, Levi N, Asleh R, Amir O, Meir K, Cohen D, Dichtiar R, Novick D, Hershkovitz Y, Dagan R, Leitersdorf I, Ben-Ami R, Miskin I, Saliba W, Muhsen K, Levi Y, Green MS, Keinan-Boker L, Alroy-Preis S N Engl J Med. 2021;

2-Myocarditis after Covid-19 Vaccination in a Large Health Care Organization. Witberg G, Barda N, Hoss S, Richter I, Wiessman M, Aviv Y, Grinberg T, Auster O, Dagan N, Balicer RD, Kornowski R N Engl J Med. 2021;

3-Myocarditis and inflammatory cardiomyopathy: current evidence and future directions Tschope C, Ammirati E, Bozkurt B et al.Nat Rev Cardiol, 2021:18:169

4-Current state of knowledge on aetiology, diagnosis, management, and therapy of myocarditis: a position statement of the European Society of Cardiology Working Group on Myocardial and Pericardial Diseases. Caforio AL, Pankuweit S, Arbustini E, Basso C, Gimeno-Blanes J, Felix SB, Fu M, HeliöT, Heymans S, Jahns R, Klingel K, Linhart A, Maisch B, McKenna W, Mogensen J, Pinto YM, Ristic A, Schultheiss HP, Seggewiss H, Tavazzi L, Thiene G, Yilmaz A, Charron P, Elliott PM, European Society of Cardiology Working Group on Myocardial and Pericardial Diseases Eur Heart J. 2013 Sep;34(33):2636-48, 2648a-2648d. Epub 2013 Jul 3.