mao coçando ilustranto dermatotilexomania ou skin picking ou transtorno de escoriação

Não consigo parar de coçar….

Quase todo mundo já  ficou se coçando depois das picadas de insetos na praia, tirou aquela casquinha da ferida, não aguentou e “espremeu” um cravinho.

Mas para algumas pessoas a proporção de se coçar alcança outros patamares. Estamos falando de distúrbio de escoriação ou  a dermatotilexomania, ou ainda skin picking um comportamento repetitivo focado no corpo com lesões provocadas  recorrentes e compulsivas  na pele .

Dermatotilexomania

Os comportamentos da dermatotilexomania incluem tocar, esfregar, coçar, cutucar e cavar a pele repetitivamente, podendo atingir pele saudável ou não saudável, crostas, lesões, espinhas ou outras manchas.

A maior parte das das pessoas que sofre com este transtorno, tem uma vontade incontrolável de ferir ou beliscar o rosto, os braços e as mãos. Habitualmente utilizam as próprias unhas e porém algumas usam ferramentas para cutucar, espremer ou perfurar a pele, como pinças, alfinetes, clipes, e outros objetos. Além de beliscar a pele, pode haver comportamentos de esfregar, espremer e morder.

Muitas vezes, inclusive, não percebem que estão coçando ou beliscando a pele e deixando marcas e feridas.

As lesões resultantes incluem descoloração da pele, cicatrizes,  inclusive nos casos mais dramáticos, danos graves aos tecidos. ou infecções perigosas e preocupantes.

Além das implicações orgânicas, concomitantemente pode haver grande sofrimento psíquico. E na direção inversa de forma somatória, quando sofrem de ansiedade ou há aumento do estresse, intensifica-se esse tipo de ação. Há  em geral uma sensação de perda de controle, constrangimento e vergonha

É bastante frequente estar associado a quadros de ansiedade ou depressão, além de mais comum em indivíduos com TOC ( Transtorno Obsessivo Compulsivo) e em seus  familiares de primeiro grau .

Quem convive com este problema muitas vezes camufla, esconde  as áreas atingidas, quando é possível, ou então, evita situações sociais aonde possam ficar expostas, ou ainda evitam qualquer situação social em si.

A perda de tempo gasto beliscando a pele, pensando em beliscá-la e resistindo ao impulso de fazê-lo chega a ser pelo menos uma hora por dia, atrapalhando a rotina.

O transtorno de escoriação é com frequência acompanhado de outros transtornos mentais. Como TOC e tricotilomania (transtorno de arrancar o cabelo), transtorno depressivo, além de outros comportamentos repetitivos focados no corpo, por exemplo roer as unhas ( onicofagia)

Como saber se é transtorno de escoriação?

De acordo com o DSM-V (Diagnostic and statistical manual of mental disorders), os critérios diagnósticos para o Skin Picking iu Transtorno de Escoriação são:

  1. Beliscões recorrentes que resultam em lesões de pele.
  2. Repetidas tentativas de parar ou diminuir os beliscões.
  3. Os beliscões causam sofrimento clinicamente significativo em nível social, ocupacional e em outras áreas importantes
  4. O skin picking não está associado ao uso de drogas ou outras condições médicas.
  5. O skin picking não é melhor explicado por sintomas de outros transtornos mentais.

A prevalência gira em torno de 1,4% da população adulta, sendo a maioria mulheres na proporção de 3:1. Embora o início ocorra em qualquer idade, é mais frequentemente visto na adolescência, concomitante ao aparecimento de acne.

Por se tratar de uma condição crônica, os sintomas podem ser intermitentes, ir e vir por semanas, meses ou anos.

 

 

Escala de Dermatotilexomania Revisada (SPS-R) ²,³

Esta é uma escala auto aplicável.

Como as pessoas  podem procurar ajuda de diferentes tipos de profissionais, muitos dos quais não são psiquiatras, ela é bastante útil, pois pode ser utilizados por profissionais de saúde mesmo que não sejam psiquiatras, dermatologistas ou psicólogos,.

 Na última semana: 

1. Com que frequência você sente o impulso de lesar sua pele?

0 – Sem impulsos.
1 – Leve, ocasionalmente sinto impulsos de lesar a pele, menos de 1h/dia.
2 – Moderada, frequentemente sinto impulsos de lesar a pele, 1-3h/dia.
3 – Intensa, com muita frequência sinto impulsos de lesar a pele, maior do que 3 e até
8h/dia.
4 – Extrema, constantemente ou quase sempre sinto impulsos de lesar a pele.

2. Quão intensos ou fortes são os impulsos de lesar a sua pele?

0 – Mínimos ou inexistentes.
1 – Leves.
2 – Moderados.
3 – Intensos.
4 – Extremos.

3. Quanto tempo você gasta lesando sua pele por dia?

0 – Nenhum.
1 – Pouco, gasto menos do que 1h/dia lesando a pele, ou lesiono ocasionalmente.
2 – Moderado, gasto de 1-3h/dia lesando minha pele, ou lesiono frequentemente.
3 – Muito, gasto mais do que 3 e até 8h/dia lesando minha pele, ou lesiono muito
frequentemente.
4 – Exagerado, gasto mais do que 8h/dia lesando minha pele, ou quase
constantemente lesiono minha pele.

4. Quanto controle você tem sobre o seu impulso de lesar a pele? Em qual grau
você consegue evitar lesar sua pele?

0 – Controle completo. Sou sempre capaz de evitar que eu lese minha pele.
1 – Muito controle. Eu normalmente consigo evitar lesar minha pele.
2 – Médio controle. Eu às vezes consigo evitar lesar minha pele.
3 – Pouco controle. Eu sou raramente capaz de evitar lesar minha pele.
4 – Sem controle. Eu nunca sou capaz de evitar lesar minha pele.

5. Quanta angústia emocional (ansiedade/preocupação, frustração, depressão,
desesperança, ou sentimentos de baixa auto-estima) você experiencia a partir do
ato de lesar sua pele?

0 – Sem angústia emocional ao lesar a pele.
1 – Leve, apenas uma ligeira angústia emocional ao lesar a pele. Eu ocasionalmente
me sinto emocionalmente angustiado(a) a partir do ato, mas apenas em pequeno grau.
2 – Moderada, uma quantidade significativa de angústia emocional ao lesar a pele. Eu,
com frequência, sinto angústia emocional a partir do ato.
3 – Intensa, uma grande quantidade de angústia emocional ao lesar a pele. Eu quase
sempre sinto angústia emocional por causa do ato.
4 – Extrema, angústia emocional constante. Eu sinto uma constante angústia
emocional e não tenho esperanças de que isso mude.

6. O quanto o seu ato de lesar a própria pele interfere na sua vida social,
trabalho (ou funcionalidade)? (Se não está trabalhando no momento, determine
o quanto sua performance seria afetada caso fosse empregado.)

0 – Não interfere.
1 – Pouco, ligeira interferência em atividades sociais ou ocupacionais, mas, no geral, a
performance não é prejudicada.
2 – Moderadamente, definitiva interferência nas performances social e ocupacional,
mas ainda administrável.
3 – Muito, causa dano substancial nas performances social ou ocupacional.
4 – Extremamente, incapacitante.

7. Você tem evitado fazer qualquer coisa, ir a qualquer lugar, ou estar com
qualquer pessoa por causa do ato de lesar a sua pele? Se sim, o quanto você
evita?

0 – Não evito.
1 – Pouco, evitação ocasional em situações sociais ou de trabalho.
2 – Moderadamente, evitação frequente em situações sociais ou de trabalho.
3 – Muito, evitação muito frequente em situações sociais ou de trabalho.
4 – Extremamente, evitação em todas as situações sociais ou de trabalho em
decorrência do ato de lesar a própria pele.

8. Quanto dano você tem na pele atualmente por causa do ato de lesar a própria
pele? Considerar somente danos produzidos pelo ato de lesar.

0 – Nenhum (sem dano na pele pelo ato de lesar).
1 – Leve (ligeiro dano na forma de pequenas crostas, feridas, arranhões etc. Dano
cobre uma área muito pequena e não há tentativa de cobri-lo ou tratá-lo).
2 – Moderado (notáveis cicatrizes, crostas ou pequenas feridas abertas (< 1cm de
diâmetro)). O ato de lesar a pele resulta em tentativas de cobrir ou tratar o dano com
remédios caseiros (por exemplo, ataduras, cremes, pomadas) os quais não exigem
assistência de um médico.
3 – Intenso (grandes cicatrizes, crostas ou feridas abertas (>1cm de diâmetro)), áreas
infectadas e/ou notável pele desfigurada. O ato de lesar a pele resulta em tentativas
extensas de cobrir o dano e talvez exija tratamento periódico por um profissional
médico (por exemplo, prescrição de antibióticos, dermoabrasão etc).
4 – Extremo (grandes feridas abertas ou crateras, sangramento frequente, grandes
áreas com cicatrizes). Dano talvez exija cobertura extensiva e intervenção médica (por
exemplo, cirurgia plástica, pontos, hospitalização etc).

 

Lidando com o problema

  1. Conheça seus gatilhos e aprenda a lidar com eles: tédio, coceira, acne, emoções negativas, olhar ou tocar, sentir a textura da sua pele detalhadamente, buscando pequenas imperfeições ou saliências por exemplo.
  2. Dificultar a escoriação – alterar as condições ambientais para dificultar o hábito de escoriar. Vale manter as unhas curtas, usar luvas, mangas compridas, meias, algo para “distrair as mãos como bolinhas antiestresse, pinceis, objetos lúdicos, até arrancar “matinhos” do jardim. Cubra os locais lesionáveis e mantenha as mãos ocupadas!
  3. Terapia Cognitivo Comportamental. A TCC é uma abordagem terapêutica com foco na               identificação de pensamentos, sentimentos e comportamentos problemáticos e na mudança destes elementos para reduzir o estresse e ter um melhor funcionamento.
  4. Tratamento medicamentosos–tratar as condições psiquiátricas associadas pode facilitar o processo, alguns fármacos também podem melhorar o controle do comportamento. Procure um psiquiatra, não fique ofendido se alguém encaminhar você para um, ninguém está desconsiderando seu problema.
  5. Não fique só, há grupos de apoio para skin picking, veja lista abaixo alguns exemplos:

 

Embora nenhum tratamento tenha sido eficaz para todos, várias opções de tratamento baseadas em evidências têm se mostrado promissoras.

 

 

Referências

 

  1. American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.).
  2. Brazilian Journal of Psychiatry – Online-Only Supplementary Material http://doi.org/10.47626/1516-4446-2021-2400 Comorbidity of psychiatric and dermatologic disorders with skin picking disorder and validation of the Skin Picking Scale Revised for Brazilian Portuguese – Xavier ACM et al.
  3. Comorbidity of psychiatric and dermatologic disorders with skin picking disorder and validation of the Skin Picking Scale Revised for Brazilian Portuguese

    Xavier ACM, Prati C, Brandão MG, Ebert AB, de Macedo MJA, Fernandes MJB, et al. Comorbidity of psychiatric and dermatologic disorders with skin picking disorder and validation of the Skin Picking Scale Revised for Brazilian Portuguese. Braz J Psychiatry.2022;44(6):621-627 Epub August 23 2022