Mama mia

mama

substantivo feminino

1.ANATOMIA GERAL
órgão glandular característico dos mamíferos, normalmente atrofiado no macho e, na fêmea, capaz de secretar leite; glândula mamária

2. ANATOMIA GERAL
na mulher, cada uma das duas projeções hemisféricas situadas sobre a camada subcutânea por cima do músculo peitoral maior; glândula mamária; seio, peito.

3.leite materno ou de ama, sugado pelas crianças durante o período de amamentação.

4.época da amamentação.

ETIM lat. mamma,ae ‘seio, mama’ (de homens, mulheres ou animais)

Oxford Languages

Somos Mamíferos afinal

Glândulas, temos muitas pelo corpo: sudoríparas, tireóide, Bartholin…mas nenhuma delas carrega tanto significado como as mamas femininas.

Mamas definem nossa classe dentre os animais sobre o planeta.

Passamos pela caracterização do “ser feminino”, desde a ansiedade adolescente (como será que serei?) ao papel das mamas na função reprodutiva, as mamas trazem no seu bojo: auto-afirmação, identidade,  beleza, maternidade e acolhimento.

Na gestação, as mamas muitas vezes são as primeiras a anunciar a gravidez da mulher, já que precocemente ficam inchadas e doloridas pela efusão hormonal.

Após o parto, são foco de toda uma fase de adaptação da amamentação, com suas dificuldades e conflitos (…tema para uma outra conversa).

Desde a antiguidade a relação das mulheres com suas mamas pode ser dita como ambígua.

As Amazonas dos mitos bem representam esta ambiguidade, pois da mesma forma como removiam voluntariamente a mama direita para melhor manejar suas armas de guerra, conservavam e exibiam orgulhosamente sua mama esquerda restante, ostentada como símbolo de seu poder feminino.

Até Hipócrates, em seu texto: “Sobre os Ares, as Águas e Lugares”, citou estas mulheres guerreiras que possuíam apenas um seio. As simbologias deste mito muito nos dizem sobre o significado das mamas em nossa sociedade.

…E por toda a vida das mulheres paira o medo. 

O “Big C”, o Câncer de Mama.

Todas conhecemos alguém que teve. Todas temos receio de vir a ter.

O Câncer Ginecológico Mais Frequente

 

O câncer de mama é a mais frequente das neoplasias ginecológicas, acometendo mais de 65.000 mulheres ao ano no Brasil. Ao longo da vida, com expectativa em torno de 75 anos,  pelo menos 1 cada 10 mulheres poderão desenvolver esta neoplasia.

E qual o papel do AUTOEXAME? 

Bom…1º de tudo: não esperamos que as mulheres façam seus diagnóstico através do auto-exame. Essa recomendação vem no bojo do AUTOCUIDADO, da consciência corporal que toda mulher deve ter. Fazer a palpação faz com que as mulheres entendam se alguma densidade ou nódulo surgiu, novo, e assim  buscar assistência de seus médicos para orientar a conduta.

Recomendação de Rastreamento

A MAMOGRAFIA, como rastreamento da população é recomendada pelo ministério da Saude a mulheres entre 50 e 70 anos. Antes disso, recomendamos o exame a mulheres que possuam risco aumentado para câncer de mama, a partir de 40 anos.

Antes de 40 anos, a Mamografia pode ter muitos fatores de confusão pelo fato das mamas serem muito densas. Isto atrapalha a eficácia do método.

Já a Ultrassonografia de Mamas não é nem considerada quando falamos em rastreamento. esse exame ajuda a diferenciar lesões sólidas (mais suspeitas) de lesões císticas e muitas vezes serve para guiar uma biópsia, quando a alteração vista na mamografia é visível pelo ultrassom.

É importantíssimo ressaltar que o Ultrassom das Mamas não substitui a Mamografia para rastrear Câncer de Mama.

Mamografia é  só o que temos?

É um dos poucos tumores femininos que possuem rastreamento populacional eficiente: a MAMOGRAFIA.

Este exame não é diagnóstico, mas sim tem a capacidade de selecionar as mulheres que merecem mais investigação de suas mamas e eventualmente devem ser submetidas a uma biópsia dirigida do local suspeito de doença, que é como fazemos o diagnóstico efetivo.

Como recurso de detecção populacional, a Mamografia é o único método que temos com a combinação adequada de viabilidade, custo benefício e acurácia para fazer a proteção dessa população.

Individualmente, com bases na medicina personalizada, já podemos adequar as melhores formas de diagnosticar precocemente os tumores de mama nas mulheres. Isto requer cuidados mais próximos, com médicos que estejam avaliando periodicamente cada mulher em particular e adaptando os cuidados a suas pacientes, de acordo com os riscos genéticos e pessoais envolvidos na gênese da doença.

Fatores de risco para Câncer de Mama

Menos de 10% dos Cânceres de mama são genéticos.

_Os fatores genéticos/hereditários foram relacionados à presença de mutações em determinados genes. Essas mutações são mais comumente encontradas nos genes BRCA1 e BRCA2, mas também são frequentes em outros genes como: PALB2, CHEK2, BARD1, ATM, RAD51C, RAD51D e TP53 (Breast Cancer Association Consortium, 2021; Garber et al., 1991). Mulheres que possuem vários casos de câncer de mama e/ou pelo menos um caso de câncer de ovário em parentes consanguíneos, sobretudo em idade jovem, ou câncer de mama em homem também em parente consanguíneo, podem ter predisposição hereditária e são consideradas de risco elevado para a doença_                                                             INCA

Todos os outros fatores que elevam o risco para as neoplasias de mama estão envolvidos em transformações das mamas que vão ocorrendo no decorrer da vida.

Podemos dizer que a epidemia de Câncer de mama que observamos atualmente torna esta doença praticamente comportamental!

• Idade acima de 50 anos (principal população de risco)
• Primeira menstruação precoce (com menos de 12 anos)
• Primeira gestação tardia (com mais de 30 anos)
• Ausência de gestação (nuliparidade)
• Menopausa tardia (com mais de 55 anos)
• Obesidade (aumenta o risco para câncer de mama em 10 vezes)
• Alcoolismo
• Tabagismo
• Sedentarismo
• Diabetes
• Exposição ambiental e profissional (desde agrotóxicos até radiação ionizante )
• Tratamentos hormonais (pílulas anticoncepcionais, tratamento estroprogestogênico de reposição)

 

Plástica de Mama X Câncer

 

Mulheres portadoras de próteses mamárias ou submetidas a plásticas das mamas têm um fator maior de confusão e portanto maior dificuldade para o diagnóstico das lesões mamárias, devido aos processos cicatriciais do tecido operados. Sabemos que muitas pessoas submetidas a estas cirurgias têm inclusive receio de que os exames possam atrapalhar seu resultado estético, entretanto isso não é verdadeiro. Como especialistas, sabemos individualizar e investigar estas mulheres também.

Exames mais sofisticados como a Ressonância Magnética podem nos ajudar a elucidar casos mais difíceis.

Quando procurar ajuda?

• Qualquer nódulo mamário que persista por mais de 2 ciclos menstruais (nas mulheres) ou na pós menopausa em qualquer momento e qualquer nódulo nas mamas dos homens
• Lesão de pele da mama, com vermelhidão e “grosseirão”na pele, que não melhora com cremes prescritos
• Tumores nas axilas, nodulares
• Aumento inexplicável do tamanho da mama
• Alteração no mamilo (que pode ser retração, afundamento, vermelhidão…)
• Saída de secreção pelos mamilos, principalmente se houver sangue nessa descarga papilar

 

 

A Pandemia e suas repercussões

Sabemos que durante a Pandemia do COVID19, muitas mulheres deixaram de fazer seus exames preventivos por muitos motivos, mas principalmente a necessidade de isolamento social requerida para proteção das pessoas.  Por muitos meses o medo afastou todos de suas rotinas de saúde habituais… mas todas as doenças que haviam antes da pandemia continuaram existindo, evoluindo nas sombras de uma catástrofe global que ofuscou a atenção do resto.

Dessa forma, os rastreamentos que foram adiados, tiveram repercussões nos diagnósticos  dos casos novos de câncer, que hoje estão chegando para nós em estádios bem mais avançados do que seria o ideal para a cura.

Câncer de mama é tratável. Câncer de mama é curável, mas precisamos que as mulheres sejam antes de tudo diagnosticadas.

Conseguimos atingir taxas de cura de até 95% quando o diagnóstico é feito precocemente.

 

Medo: o pior inimigo

Observamos que muitas mulheres, em última instância, têm mais medo do tratamento que propriamente da doença, e isso acaba por atrapalhar muito sua cura.

Quando a pessoa está num processo de investigação e tratamento de uma neoplasia, o apoio de sua família e amigos é fundamental para que ela consiga ultrapassar cada etapa com tranquilidade e dignidade. O apoio dos entes queridos dando suporte para que ela se sinta acolhida e cuidada nessa jornada faz toda a diferença do mundo, então que este mês nos lembre a todos de cuidar e apoiar.

Estamos juntos nessa jornada!

 

 

REFERÊNCIAS:

https://www.femama.org.br/site/br/noticia/o-cancer-de-mama-em-numeros

https://noticias.r7.com/saude/fatalidade-genetica-leva-1-em-cada-8-mulheres-a-ter-cancer-de-mama-02102018

https://www.inca.gov.br/noticias/confira-recomendacoes-do-ministerio-da-saude-para-o-rastreamento-do-cancer-de-mama

Incidência de mulheres com câncer de mama e menos de 35 anos está entre 4% e 5%

http://www.ial.sp.gov.br/resources/insituto-adolfo-lutz/publicacoes/rial/2000/rial68_3_completa/1246.pdf

Inumaru et al., 2011; Anothaisintawee et al., 2013; WHO, 2018; WCRF/AICR, 2018; INCA, 2020, IARC, 2021a e b

https://www.mastology.org/wp-content/uploads/2015/12/MAS-v25n4_141-145.pdf