Será que a gravidez pode revelar o futuro do coração da mulher?

”Depois que um corpo comporta outro corpo, nenhum coração suporta o pouco.”Alice Ruiz – Dois em Um

Os fatores de risco mais conhecidos para as doenças cardiovasculares, como a pressão alta, o colesterol elevado, a presença de diabetes e o tabagismo, impactam desproporcionalmente mais as mulheres do que os homens.

Além disso, a ocorrência de parto prematuro ou do nascimento de um bebê muito pequeno para uma gestação a termo também são fatores independentes que aumentam o risco para o desenvolvimento das doenças do coração na mulher.

Mas como será que a gravidez pode alertar sobre a saúde do coração da mulher hoje e no futuro?

A gravidez é um teste de esforço

Na gravidez, existem várias mudanças no corpo feminino que sobrecarregam o coração e que funcionam como um verdadeiro teste de esforço!

Desde a concepção, os vasos sanguíneos da futura mãe começam a se dilatar, enquanto seu coração trabalha para ejetar um maior volume de sangue a cada batimento.

Para preencher estes vasos dilatados, o volume do sangue materno também precisa ser maior: tanto o plasma quanto os glóbulos vermelhos aumentam.

A frequência dos batimentos cardíacos cresce até o final do último trimestre da gravidez e fica cerca de 24% acima dos valores de antes da gestação.

Quando o útero cresce, ele comprime os vasos sanguíneos do abdome, dificultando o retorno do sangue para o coração da gestante e provocando queda de pressão. Só durante o último trimestre da gravidez é que a pressão volta aos níveis anteriores à gravidez.

Ainda, as necessidades metabólicas da mãe e do feto aumentam à medida que a gravidez progride.

No parto, o coração trabalha ainda mais! Ele ejeta um volume 15% maior de sangue no inicio e 25% maior na fase ativa do trabalho de parto. A pressão arterial também sobe a cada contração uterina. Um esforço e tanto!

A pré-eclâmpsia, o coração e a inflamação

A pré-eclâmpsia é uma complicação da gravidez que ocorre por desequilíbrio na formação de novos vasos sanguíneos, por inflamação e por alteração na função do revestimento interno dos vasos sanguíneos, o endotélio.

Causa hipertensão geralmente na segunda metade da gestação e afeta de 3 a 5% das grávidas em todo o mundo. Portanto, é uma das principais causas da morte materna.

São as mulheres com história de doença da placenta que evoluem com pré-eclâmpsia e restrição do crescimento do feto.

Mas de que forma isso se relaciona ao coração?

O desenvolvimento de pré-eclâmpsia pode realmente impactar a saúde da mulher. As alterações nos vasos sanguíneos são contínuas e podem se tornar perceptíveis cerca de 20 a até 40 anos depois do parto!

Recentemente, um grande estudo demonstrou que, nas mulheres que tiveram pré-eclâmpsia, foram encontradas muito mais placas calcificadas na parede das coronárias, artérias que nutrem o músculo cardíaco, se comparadas àquelas que tiveram pressão normal na gravidez.

Neste mesmo estudo, outras complicações da gravidez também se relacionaram ao aumento da formação de placas nas artérias do coração:

  • A hipertensão gestacional
  • O parto prematuro
  • O diabetes durante a gravidez
  • O nascimento de bebês pequenos para a idade gestacional.

A gravidez hoje e o coração no futuro

A gravidez, por ser um verdadeiro teste de esforço, pode evidenciar doenças do coração da gestante, antes silenciosas.

Além disso, as complicações da gravidez correlacionam-se intimamente ao futuro aparecimento de placas nas coronárias e ao aumento do risco cardiovascular.

Por isso, as mulheres que desenvolvem pré-eclâmpsia ou outras complicações da gravidez devem ser acompanhadas e avaliadas com mais rigor durante e após a gestação.

Praticar exercícios, cuidar da alimentação, abandonar o tabagismo, controlar o colesterol, diminuir o estresse, além de consultas médicas periódicas, podem ajudar a manter o coração  saudável!

Quer conhecer um pouco mais sobre os efeitos surpreendentes da gravidez sobre o corpo? Assista ao vídeo abaixo!

Para saber mais:

https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/paulo-chaccur/2021/02/14/quais-os-riscos-que-a-gestacao-pode-trazer-para-o-coracao-da-mulher.htm

https://www.tuasaude.com/sintomas-de-pre-eclampsia/

Referências:

https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCIMAGING.119.01034

Meah VL, Cockcroft JR, Backx K, et al. Cardiac output and related haemodynamics during pregnancy: a series of meta-analyses. Heart 2016; 102:518.

Bernstein IM, Ziegler W, Badger GJ. Plasma volume expansion in early pregnancy. Obstet Gynecol 2001; 97:669.