E hoje é o Dia Internacional da Mulher. A sua história vem da resistência e luta por nossos direitos, mais do que tudo. Mulheres mobilizadas e unidas. 

E a saúde feminina? A cada ano mais campanhas são lançadas sobre a saúde da mulher. São exames anuais de mamografia, Papanicolau, conscientização da menopausa. 

Mas a saúde da mulher vai muito além do sistema reprodutor!

Sabemos que há diferenças de como as doenças acometem os sexos masculino e feminino, mas não podemos resumir isso apenas pelas nossas diferenças cromossômicas. Mulheres são XX e os homens XY. 

As diferenças entre os sexos podem incluir as diferenças hormonais, mas devemos lembrar ainda que há diferenças sócio-culturais atribuídas a cada um e portanto, atribuídas ao gênero. 

Comportamento, estresse, estilo de vida são importantes fatores que influenciam a saúde da mulher; por outro lado há ainda as situações pouco representadas tais como violência, opressão, conflitos éticos, discriminação, que podem afetar diferentemente cada um dos gêneros e portanto a expressão da saúde e doença. 

Doenças na mulher

No meu dia a dia como otorrinolaringologista sei bem que algumas doenças do labirinto, popularmente conhecidas como labirintite são mais comuns em mulheres, assim como a enxaqueca (migrânea). 

Apesar das mulheres terem um sistema auditivo mais sensível, sabemos que nos idosos a perda auditiva é mais prevalente e intensa nos homens, o que também pode estar relacionado não apenas ao sexo masculino, mas também aos ambientes mais ruidosos que se expões durante a vida, tanto em situações de trabalho como lazer. 

A sensibilidade da dor pode ter diferentes expressões entre homens e mulheres. As mulheres podem expressar mais dor, de forma mais intensa e menor tolerância, gerando mais visitas a médicos.  Por outro lado, não devemos esquecer que pode haver uma questão cultural envolvida na forma de manifestação da dor entre os gêneros.

Já é bem conhecido que as doenças autoimunes  e outras doenças inflamatórias são mais frequentes em mulheres; tais como osteoartrite, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Joegren. Já que a resposta inflamatória é mais intensa no sexo feminino. 

Mas falando aqui de músculos e ossos, é importante enfatizar que as mulheres apresentam menor massa muscular, ligamentos mais frágeis, menor densidade óssea e cartilagens menos resistentes. Dessa forma, mesmo mulheres jovens  lesões do joelho e do quadril. O tipo de atividade física e prática esportiva e também influenciam bastante, portanto tanto o diagnóstico com a reabilitação deve ser diferenciada. 

Sob o mesmo ponto de vista, não podemos deixar de falar sobre o sono. Apesar de todos apresentarmos as mesmas necessidades de sono, mas sabemos que há alguma diferenças e que estas variam também de acordo com a fase da vida mulher e aqui também devem ser consideradas tanto as diferenças hormonais quanto o estilo de vida, as mulheres relatam mais dificuldade para dormir do que os homens. Lembrando que há diferenças sócio-culturais, são as mães que em sua grande maioria cuidam ou amamentam os filhos na madrugada. 

Tantas outras condições clínicas poderiam ser citadas aqui. 

Mas um marco na medicina de gênero foi a melhor identificação das doenças cardiovasculares em mulheres, quando em 2004 a Associação Médica Americana iniciou uma camapnha com objetivo de esclarecer médicos e leigos sobre a importância da prevenção da Doença Cardiovascular na Mulher, o que que resultou importante redução dos infartos fatais!

A saúde da mulher

Dessa forma, a saúde da mulher deve ser pensada de forma integral. Lembrando sempre que sua saúde vai além dos órgãos reprodutores. 

A prevenção e tratamento das doenças na mulher  incluir a predisposição genética, história pessoal, situação psico social e sem dúvida os fatores de sexo e gênero. 

Não se trata de celebrar diferenças, mas sim personalizar o cuidado com a saúde e atingir a equidade!

Referências: 

  • Melo, Marilene.Principais doenças que se apresentam de forma diferente em HOMENS e MULHERES, In: http://abmmnacional.com/pdf Principais_doencas_ACADEMIA_de_Medicina_Aula1.pdf
  • Gianakos AL, George N, Pinninti A, Kwan S, LaPorte D, Mulcahey MK. Sex- and Gender-specific Analysis in Orthopaedic Studies. Clin Orthop Relat Res. 2020 Jul;478(7):1482-1488. doi: 10.1097/CORR.0000000000001172. PMID: 32281769; PMCID: PMC7310522.
  • Zanon A, Martini A. Gender differences in otolaryngology: an overview. In: https://www.gendermedjournal.it/archivio/3035/articoli/30353/
  • Ann Ist Super Sanità 2016 | Vol. 52, No. 2: 184-189 DOI: 10.4415/ANN_16_02_09
  • Gender differences in pain and its relief
  • Pieretti S, Di Giannuario A, Di Giovannandrea R et al.How Is Sleep Different For Men and Women?https://www.sleepfoundation.org/how-sleep-works/how-is-sleep-different-for-men-and-women
  • Arain FA, Kuniyoshi FH, Abdalrhim AD, Miller VM. Sex/gender medicine. The biological basis for personalized care in cardiovascular medicine. Circ J. 2009 Oct;73(10):1774-82. doi: 10.1253/circj.cj-09-0588. Epub 2009 Sep 4. PMID: 19729858; PMCID: PMC2941262.

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).