Carta a jovem médico: a transformação: borboleta na luz

Nesta série nos propusemos a escrever cartas para os jovens médicos de hoje, aqueles que buscam, como nós mesmas já buscamos um dia, uma grande transformação em suas vidas. Dedicadas àqueles que  cuidarão do futuro.

 

o Ovo

Em que momento a gente se torna Médico?

Certamente, nossa familia acha que isso acontece na hora que a gente entra na Faculdade.

Logo já perguntam pra você sobre aquele remédio que a tia tem que tomar, ou te pedem para ler a bula para explicar para a tia.

Despretenciosamente, te convidam a participar da consulta do avô, porque você entende mais.

Pedem para o médico da mãe deixar você assistir a cirurgia dela.Carta a jovem médico: a transformação

Mal sabem eles que seu primeiro receio foi saber se você conseguia lidar com as aulas de anatomia!

Na minha época de graduação minha faculdade tinha material humano para trabalharmos.

Portanto, já na primeira semana, “ganhamos” um saco de ossos. Verdade! Eram outros tempos, não existiam o Homem a a Mulher Virtual.

Um esqueleto inteirinho para a gente poder estudar todas as curvas, recessos e forames dos ossos.

Não preciso dizer que meus pais não me deixaram entrar em casa com ‘aquilo’.

Até mesmo as roupas que eu usava nas aulas de laboratório, (que é claro ficavam com o familiar odor de formol) , eles me faziam tirar na lavanderia…

Mas era o começo. Eu fazia coisas das quais as outras pessoas têm medo ou asco até de imaginar.

Ainda no primeiro ano, chegou a oportunidade maravilhosa de fazer trabalho voluntário na Liga da Sífilis e outras IST’s. Que orgulho! De aventalzinho branco, sentanda atrás da mesa…ajudando efetivamente a atender os pacientes: fazer as entrevistas, proceder as coletas, rodar os exames, orientar os medicamentos  (claro, sempre com supervisão dos professores). Ainda assim, não era médica ainda…mas sim colaboradora da saúde.

 

a Lagarta

Era nosso quarto ano e já sabendo que queria ser GO, partimos para os estágios nas maternidades.

Primeiro plantão: Meu Deus! Eu que sempre adorei dormir!!!

Será que vou aguentar trabalhar a noite toda?

Aguentei, a responsabilidade foi quem sempre falou mais alto. A gente se acostuma.

A empolgação de aprender fazendo. A felicidade de ajudar os bebês a nascerem. A satisfação de mais uma missão cumprida foram me mostrando que o caminho seria mesmo esse.

Nesse momento era como uma parteira, bem feliz por sinal, mas médica não ainda.

E entre plantões, provas, provações , a gente vai se tornando uma pessoa diferente, alguém que olha para outro ser humano e enxerga o que tem lá dentro.

A gente vê as engrenagens dessas lindas máquinas biológicas, sabe como funcionam e podemos nos maravilhar com o milagre da vida todo dia.

transformando de ovo a crisalida

a Crisálida

Um dia, sem tanta pompa e circunstância, comparecemos ao CRM para buscar o tão sonhado registro definitivo na entidade suprema da classe médica.

Sim! Eu estava graduada então!!!!

Assim, veio o primeiro ambulatório, meu mesmo,  onde atendi a primeira pessoa, totalmente sob a minha responsabilidade e carimbei a primeira receita com o meu número do conselho.

Borboletas no estômago, quase igual ao dia que vi meu nome na lista da FUVEST.

Me vi médica e a realização veio mesmo mesmo quando esta primeira paciente que eu havia atendido voltou e disse que tinha melhorado! Aí sim!

Eu tinha resolvido o problema dela e esse momento eu soube o que era realmente ter curado alguém!

medico de homens e de almasDesde então essa é a minha maior fonte de alegria nesta vida: Curar.

Quer seja medicando, indicando condutas e orientando as investigações a seguir. 

Da mesma forma curando o corpo com as minhas próprias mãos operando, tirando a doença, corrigindo os problemas.

Ou também aconselhando, acolhendo, tratando de uma alma perturbada, uma mente confusa, uma dor.

farol na tempestadeNossa presença deve ser como um farol na tempestade, dando direção, iluminando o caminho, proporcionando segurança, dando fé, até fazendo rir.

Oferecemos remédios para o corpo e para o espírito. Esse é o nosso propósito.

 

a (linda) Borboleta

Carta a jovem médico: a transformação:borboletas brancas em flor azulE a cada dia é mais recompensador. Frequentemente aprendemos com cada história,  nos lapidamos.

Dessa forma, quando nos abrimos  para a verdadeira conexão com nossas pacientes acontece a mágica da empatia.

Sempre fazendo cursos, aperfeiçoamentos, pós-graduações, congressos…cada um se tornando mais um  pequeno passo na direção de uma excelência sempre buscada, nunca totalmente atingida.

Sabemos resolver os enigmas dos organismos vivos, criando soluções específicas para cada problema, respeitando as particularidades de cada pessoa.

Assim fazemos nosso nobre trabalho conforme  as possibilidades e desejos de cada um, pois nessa sintonia fina com sua paciente reside o segredo do sucesso dos tratamentos.

 

Seja o médico que você gostaria de ter!

Diariamente procure se transformar no médico que você escolheria para sua mãe.

Portanto, como conselho lhe digo: não replique informações que você mesmo não verificou em uma fonte acadêmica de respeito. O antigo “Orelhal clinics“ou a velha “Conferência de corredor” devem ser abandonados.

E nunca, nunca, nunca mesmo pare de estudar.

Sempre ouvi que “ a Medicina é a ciência das verdades transitórias “

transformação: borboleta verde voandoA cada dia se produz mais conhecimento médico que no último século, então para não cometer enganos, é necessário muito saber.

Jamais permita que alguma deficiência sua se coloque entre seu paciente e as melhores chances!

Também não deixe seu ego se transformar em seu maior inimigo.

Como regra  precisamos  nos manter vigilantes e humildes. Somos servidores, cuidadores, cientistas, sempre questionando, sempre atentos. Assim perseveramos.

Se você sempre caminhar em frente, perceberá que quem parou jamais poderá alcançá-lo.