Dia Mundial do Transtorno Bipolar

“Força para hoje. Esperança para amanhã”

Todo dia 30 de março é celebrado o Dia Mundial do Transtorno Bipolar, uma inciativa da International Bipolar Foundation (IBPF), com o objetivo de aumentar a conscientização e reduzir o estigma sobre a doença.

A data escolhida é o aniversário de Vincent Van Gogh, genial pintor holandês, famoso por sua arte e por sua vida bastante atribulada. Em 29 de julho de 1890, aos 37 anos, Van Gogh morreu após tentativa de suicídio 2 dias antes. Desde antão, muitas teorias médicas e psicológicas foram sugeridas para tentar explicar sua trajetória de vida.

Muito provavelmente Van Gogh sofria de doenças comórbidas. Desde a idade adulta jovem, ele possivelmente desenvolveu um transtorno bipolar que pode ter se agravado por meio do uso de álcool combinado com desnutrição, e que, somado às tensões crescentes, o levou a uma crise quando ele cortou sua orelha. Depois disso, ele supostamente desenvolveu dois episódios de delírios relacionados à abstinência de álcool, seguidos de piora com episódios depressivos graves, dos quais ele não se recuperou totalmente, culminando com seu suicídio. Adicionalmente, a hipótese de existência de epilepsia focal (lobo temporal) também pode ser incluída.

“O que sou eu aos olhos da maioria das pessoas? Uma não entidade, ou um homem excêntrico e desagradável – alguém que não tem e nunca terá posição na vida, em suma, o menor dos menores. ” — Carta de Vincent ao irmão Théo (21 de julho de 1882).

Esta descrição desolada de si mesmo não é somente feita por Van Gogh. Entre as milhões de pessoas que sofrem com o Transtorno Bipolar, 77% se sentem solitárias e incompreendidas por causa da doença e 81% tem a sensação de não haver empatia  e de que ninguém entende as dificuldades que eles vivem.

Em outras palavras, há um enorme preconceito e desinformação, o que certamente prejudica o acesso ao tratamento adequado e a vida das pessoas que têm Transtorno Afetivo Bipolar.

Mas, afinal, o que é Transtorno Bipolar?

É uma doença que afeta o humor, provocando oscilações de um extremo a outro, da depressão à mania, com maior ou menor gravidade. Não há uma causa bem definida, mas parece existir uma correlação genética. Porém, embora não haja uma origem especifica, alguns eventos podem servir como gatilho. São as separações, lutos, problemas financeiros, assim como eventos positivos, como uma  promoção no trabalho, uma viagem importante, e outros como privação de sono, alterações de fuso horário e uso de álcool ou outras drogas.

O transtorno bipolar pode ocorrer em qualquer idade, embora muitas vezes se desenvolva entre os 15 e 19 anos e raramente se desenvolva após os 40.

 O padrão de mudanças de humor no transtorno bipolar varia muito, algumas pessoas têm apenas alguns episódios bipolares na vida e são estáveis ​​entre eles, enquanto outras têm muitos episódios seguidos, quase sem intervalos. 

E quais são os sintomas, como saber se tenho Transtorno Bipolar?

Nem sempre o diagnóstico é rápido e simples, muita gente demora até descobrir que tem realmente Transtorno Bipolar. Frequentemente há alguns episódios depressivos antes de algum episódio de mania ou hipomania.

Os episódios de depressão cursam com humor depressivo na maior parte do tempo, apatia, perda de interesse ou prazer nas coisas, sentimento de culpa ou de inutilidade, perda de energia, fadiga fácil, isolamento social alterações de sono e apetite (para mais ou para menos), além de cansaço mental, e em alguns casos, aumento de irritabilidade. Baixa autoestima, dores e alguns sintomas físicos também podem estar presentes. Os episódios mais leves podem passar despercebidos e não receberem a atenção necessária.

Já os episódios de mania costumam apresentar como principais sintomas e sinais a sensação de extremo bem estar, muita energia e disposição, pensamentos e fala acelerados, desinibição e impulsividade, pouca necessidade de sono, instabilidade de humor e irritabilidade, euforia, agitação e dificuldade de se manter concentrado, ideias de grandiosidade e poder, autoestima excessivamente elevada, gastos/compras excessivos. Também aqui, quando os episódios são de hipomania, como os sintomas e sinais podem ser menos intensos, com frequência são confundidos com a “personalidade ” da pessoa que ganha vários adjetivos ao longo da vida como pretensioso, fanfarrão, estourado, pavio curto, arrogante, insuportável, descontrolado, para citar alguns.

Tem tratamento? 

Sim, há tratamento! E quanto antes, melhor.

O Transtorno Bipolar tem consequências bastante adversas na vida das pessoas acometidas, interferindo nas relações pessoais, na vida acadêmica e  no trabalho, tanto de forma aguda durante uma crise, quanto cronicamente com as perdas acumuladas pelas situações difíceis que a doença pode trazer quando não adequadamente tratada.

Os sintomas podem remitir espontaneamente após algum tempo, contudo, com tratamento a recuperação é mais rápida e reduz a chance de novo episódio, além de melhorar o controle da evolução da doença, a intensidade de eventuais novos episódios e sobretudo diminui a chance de suicídio.

Há várias opções para o tratamento do transtorno bipolar. 

Eles visam controlar os efeitos dos episódios e ajudar a viver a vida da forma mais normal possível. Os medicamentos conhecidos como estabilizadores de humor, tratam e previnem novos episódios. Aprender a  reconhecer gatilhos e sinais de início de fase de depressão ou mania é bastante útil . Higiene do Sono é necessária e vital. 

Algumas associações como a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) tem como objetivo informar, educar, conscientizar pacientes, familiares e a sociedade sobre a natureza  dos transtornos afetivos do humor, além de reduzir o estigma e promover apoio psicossocial para quem precisar.

Familiares e amigos podem e devem se informar sobre a doença além de receber suporte. Querer ajudar é importante, mas saber como, vai fazer toda a diferença e facilitar muito o bom andamento do tratamento e a adesão às medidas necessárias.

Hoje use #bipolartogether ou #wbd2022 e entre em contato com pessoas que podem ajudar a compreender o que você pode estar vivendo ou ajude alguém que precisa.

Para quem quiser saber mais:

1.www.abrata.org.br

2. Nolen, W.A., van Meekeren, E., Voskuil, P. et al. New vision on the mental problems of Vincent van Gogh; results from a bottom-up approach using (semi-)structured diagnostic interviews. Int J Bipolar Disord 8, 30 (2020).

3.https://ibpf.org/about-international-bipolar-foundation/

4.Associação Psiquiátrica Americana. ( 2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ( 5 ª ed . ) . Arlington, VA: . American Psychiatric Publishing