ANSIEDADE – a nossa ansiedade de todo dia

A nossa ansiedade de todo dia

Eu tenho Ansiedade, você deve ter seus momentos também e alguém que você conhece pode ter ou estar ansioso agora. A nossa ansiedade de todo dia ao mesmo tempo que incomoda, também nos impulsiona. Sem ela poderíamos ficar estáticos, apenas desfrutando do conforto de não sentir urgência ou necessidade de nada.

A Ansiedade é um sentimento difícil de explicar, desconfortável, acompanhado de medo ou apreensão, antecipando-se  em relação a um evento, às vezes desconhecido, às vezes não.

Ela faz parte do nosso rol de emoções habituais e de certa forma é protetora, pois tem relação com a nossa capacidade de planejamento, assim como projeção de futuro, além da preparação para fuga se necessário, ou então, da idealização de sonhos. Não dizem que o melhor da festa é esperar por ela?

Mas quando em excesso, nos paralisa, prende, sufoca, desorganiza, promove o caos interno e transborda para o externo por fim. Entramos no campo do Transtornos Ansiosos e Ansiedade além do saudável.

Transtornos Ansiosos    

Primordialmente, os Transtornos Ansiosos se diferenciam do medo ou dos aspectos puramente adaptativos da ansiedade pela sua intensidade e persistência além do esperado para determinada situação, dentro de um contexto sociocultural.

Há estudos apontando para um aumento de sintomas ansiosos no último ano desde o início da crise provocada pela pandemia de covid-19, além de uma maior incidência de Transtornos Ansiosos  em pessoas que apresentaram  covid-19 nos 6 meses consecutivos ao evento.

Além disso  de acordo com a OMS, o Brasil é o país aonde maior número de pessoas apresentam ansiedade. Em uma pesquisa recente, publicada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), 52% dos entrevistados referem que a ansiedade é a emoção que mais frequentemente sentem enquanto trabalham.

É normal ficar mais ansioso neste tipo de situação completamente inédita que vivemos, porém, a sequência ininterrupta de mudanças acaba exaurindo a nossa capacidade de lidar com tantas novidades ao mesmo tempo, dessa forma, impedindo qualquer tipo de planejamento e, consequentemente, deixando muita gente insegura e perdida.

Atenção aos sintomas que vão além da nossa ansiedade de todo dia

Os Transtornos Ansiosos englobam várias síndromes diferentes, mas aqui vamos falar apenas de três entre as mais conhecidas, que são a Ansiedade Generalizada, Transtorno do Pânico e Agorafobia.

Na Ansiedade Generalizada você tem uma preocupação excessiva durante a maior parte do tempo na maior parte dos dias, e acima de tudo, esta inquietação provoca alterações na sua capacidade de produzir, de trabalhar bem como pode ter impacto na sua rotina de sono e alimentação.

No Transtorno de Ansiedade Generalizada você pode sentir que:

1. Sua ansiedade e preocupação parecem excessivas na maioria dos dias e com difícil controle
2. Além desta sensação você sente-se inquieto e com nervos a flor da pele
3. Da mesma forma percebe dificuldade  em se concentrar ou tem “brancos”
4. Irritabilidade
5. Cansaço fácil e tensão muscular
6. Alterações do sono

No Transtorno do Pânico:

No Transtorno do Pânico há crises ansiosas ao mesmo tempo que comportamentos para evitar determinadas situações, por receio de que estas desencadeiem novas crise de pânico.
Desta forma, se estabelece um ciclo de medo do medo, que acima de tudo vai alimentando e aumentando a sensação de ansiedade e disparando  mais ataques.

O ataque de pânico é em geral tanto assustador, quanto angustiante, apresentando sintomas físicos e mentais muito intensos.

Os sintomas incluem:

• aumento súbito do medo
• coração acelerado
• sudorese, tremores
• falta de ar
• pressão ou desconforto no peito
• formigamento
• medo de morrer ou enlouquecer
• náusea, desconforto abdominal
• calafrio
• tonturas, zumbido

Agorafobia

Já na Agorafobia, há um medo intenso de sair de casa ou de estar em espaços onde a fuga pode ser difícil ou em que a ajuda não estará disponível se houver algum problema.
Apesar do nome agorafobia significar medo de espaços abertos, na verdade é uma condição mais complexa em que pode haver medo também de viajar em transporte público ou ir a um shopping, ou, simplesmente, sair de casa.

A gravidade da agorafobia pode variar bastante entre as pessoas.

Alguém com agorafobia grave pode não conseguir sair de casa, enquanto alguém com sintomas mais leves pode ser capaz de fazer pequenas saídas em curtas distâncias sem problemas.

Em suma podemos organizar os sintomas em três categorias:

1. Sensação física: a crise de ansiedade, crise de pânico.

2. Pensamentos comuns: receio de ficar louco, medo de envergonhar-se em público por causa dos sintomas, ou de se sentir mal e não ter a quem recorrer, tanto quanto o medo de não conseguir escapar do local se necessário, um grande medo de perder o controle, enfim.

3. Comportamento: a pessoa muda seus hábitos. Começa a evitar lugares onde há aglomerações, transporte público e filas, permanece nas proximidades da sua casa, bem como sai somente em companhia de alguém em quem confia.

Algumas pessoas podem aumentar ingestão de álcool sem perceber enquanto  outras, usar drogas ilícitas ou lícitas inadequadamente na tentativa de se acalmar, eventualmente podendo levar a um agravamento do quadro com a adição de mais um problema como resultado.

Se você conhece alguém que mudou sua rotina a fim de evitar situação que causem estas crises e ansiedade, mostre informações sobre o quadro. Apenas evite falar que é exagero ou bobagem,  saiba que pode ser incontrolável e muito o difícil para ela e por fim use a empatia para ajudar.

E antes de mais nada, se você tem ansiedade e acha que pode se beneficiar de um tratamento, não hesite em procurar ajuda. Várias outras doenças podem se parecer com Transtornos Ansiosos, e um  médico pode fazer a avaliação adequadamente.

O tratamento geralmente compreende combinação de medicações e terapia específica.

Algumas medidas simples no dia a dia também podem colaborar para reduzir a ansiedade. Atividade física frequente, evitar bebidas como café e chás em excesso, pausas bem distribuídas durante as atividades, sono em horários regulares são bons parceiros na redução da ansiedade global.

Acredite, pode melhorar!

1. American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.).
2. Taquet M, Geddes JR, Husain M, Luciano S, Harrison PJ. 6-month neurological and psychiatric outcomes in 236 379 survivors of COVID-19: a retrospective cohort study using electronic health records. Lancet Psychiatry. 2021 May;8(5):416-427. doi: 10.1016/S2215-0366(21)00084-5.
3. Taquet M, Luciano S, Geddes JR, Harrison PJ. Bidirectional associations between COVID-19 and psychiatric disorder: retrospective cohort studies of 62 354 COVID-19 cases in the USA. Lancet Psychiatry. 2021 Feb;8(2):130-140. doi: 10.1016/S2215-0366(20)30462-4.