desencontro

É muito comum presenciarmos um desencontro na sala de consulta, entre médicos e pacientes. Longe de dizer que somos médicas perfeitas: relações humanas são sempre únicas, e por vezes o santo não cruza mesmo. Entretanto, invariavelmente chega um paciente no consultório com os olhos vermelhos, inchados, lacrimejando… e com um saquinho CHEIO de colírios:

  • antibióticos
  • lubrificantes – vários
  • corticóides
  • antibióticos + corticóides

Desesperado!

Doutora, isso não melhora!! Já fui em vários médicos, fico de colírio em colírio, e isso não passa!

Examino, uma conjuntivite. Aqui vai uma dica: na grande maioria são virais, ou seja, o antibiótico de NADA adianta e… só piora.

Agora com a covid-19 fica mais fácil entender que quando o vírus entra no nosso corpo, cada um responde de uma maneira. Mas em geral, o adoecimento tem seu tempo demarcado:

  • vírus na corrente sanguínea sem se manifestar (pródromo)
  • virus se multiplicando (replicação viral)
  • resposta do nosso corpo ao vírus

E, em muitos casos, não há o que se fazer para alterar esta ordem! A gente precisa é reparar danos, ou seja, ir tratando o que vai aparecendo até que o vírus perca esta guerra.

O que sempre digo: mas como o paciente vai saber disso se ninguém lhe explica?

O desencontro técnico: a diferença entre illness e disease

O caso em que o paciente vai passando de médico em médico, benzedeira, farmacêutico, conversa de amigo que fez assim e melhorou, é um caso típico de desencontro na sala de consulta. Cabe ao médico entender o que o paciente entende do próprio adoecimento (illness) e explicar como é o curso da doença direitinho (disease). Estas diferentes percepções precisam ser alinhadas sempre!

O encontro: fusão de horizontes

Infelizmente estamos num momento em que a conversa perdeu seu sentido de troca. Agora o jogo de opiniões implica em aces, em “lacrar”, em derrotar o outro, e ninguém mais escuta ninguém…

Escuta atenta para o que o outro tem a dizer. Assim como em todas as relações, tentar uma fusão de horizontes: ou uma boa partida de frescobol

Para ler mais:

Couto, MT, Rev Med (São Paulo). 2012 jul.-set.;91(3):155-8.

Escrito por

Cassia Suzuki

Médica oftalmologista, quase filósofa, mãe de 2 filhas e 2 cachorrinhas