Deeeeesde os gregos, os primeiros “registros” sobre o pensamento ocidental, antes até de Sócrates, o conhecimento referendado como verdadeiro é constatado pelo que enxergamos. Mas será que o conhecimento verdadeiro/científico é tudo na prática médica? Como se aplicássemos um manual de instruções?
A Prática Médica: sabedoria, conhecimento e informação
Existe uma diferença básica entre a sabedoria prática, o conhecimento científico e a informação. Agora, vou tentar aqui mostrar suas diferenças e onde se localizam na medicina. Sobretudo porque percebo que muito se confunde nos dias de hoje quando acessamos a internet (Dr. Google):
É da prática (do contato com o paciente) que estabelecemos a formulação de hipóteses sobre uma doença,
elaboramos protocolos científicos para estudá-las e,
enfim conseguimos ampliar e revalidar o conhecimento científico.
Ao lapidar o conhecimento científico, conseguimos estabelecer “manuais” através dos dados mensurados por uma metodologia robusta.
Ou seja, os “dados” ou a informação é a pontinha resultante minúscula do iceberg!
Por fim, vem a técnica: a aplicação prática dos dados.
Da mesma forma ocorre com as cirurgias, os aparelhos, os procedimentos técnicos. Todos, mas todos são elaborados ao fim destes passos:
Observação clínica
Formulação de hipóteses
Metodologia científica para garantir a veracidade e validade dos resultados
Conhecimento científico
Técnica (informações)
“Onde está a sabedoria que nós perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que nós perdemos na informação?” T.S.Eliot
Gente.. isso é assim desde Aristóteles!!! Mas onde fomos nos perder para pensar que os dados, ou a informação, são a mesma coisa que a essência do problema? Ou ainda.. da observação clínica já se aplica a informação, ou o manual de funcionamento? Ou a receita de bolo?
E aí vai: nas redes sociais, um moooonte de manuais de como fazer. Também os médicos têm sua culpa, principalmente aqueles eminentemente técnicos. Do mesmo modo, aqueles que só querem saber do manual, sem se preocupar com todos os passos aristotélicos anteriores. Como se, para “consertar uma doença” bastasse aplicar o manual de instruções. E aí parece que nem precisa ser médico para realizar os procedimentos técnicos (tão fácil como instalar uma máquina de lavar roupa…)
Ainda bem que a integridade do corpo e da saúde são garantidas pela legislação: foi a única mensagem que guardei das aulas de medicina legal: artigo 129, lesão corporal. O não médico pode ser punido por “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”. E o que cabe APENAS ao médico (ato médico)?
II – indicação e execução da intervenção cirúrgica e prescrição dos cuidados médicos pré e pós-operatórios; III – indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo os acessos vasculares profundos, as biópsias e as endoscopias;
A excelência técnica, infelizmente, não garante o sucesso prático de um cuidado. Afinal, cuidamos de gente! E cada um tem suas particularidades. Por isso, a base da medicina é a observação clínica: de acordo com estudiosos desta ciência, ela evoluiu ao redor de um “olhar loquaz”, ou um olhar que fala! Bom seria para o médico nunca se esquecer disso, porque deixaria de apreciar a prática como uma
“arte médica”:
clique abaixo para uma experiência mais imersiva…
“Nossos olhos passeiam junto aos nossos órgãos do sentido: o tato, a escuta, o olfato… e assim continuam nos exames subsidiários que captam com o auxílio de “amplificadores”, a imagem dos órgãos, tecidos e células, e o som da pulsação e fluidos internos.
Sem dúvida, é uma viagem incrível!!! A esta aventura, acrescenta-se a história do paciente, o modo como nos conta, como entende o que está fora de ordem…
E vem o desenho do estado de quem nos procura! E como cuidar do outro, de acordo com os últimos trabalhos científicos; ou até no suposto patológico ou na saúde desconfiada.
Não há encanto maior!!!”
“A medicina é a mais humana das ciências, a mais empírica das artes e a mais científica das humanidades” E. Pellegrino