Carta para o estudante de Medicina escrita em outubro de 2022.

Querido estudante,

Começo esta carta citando Hipócrates:

“Onde quer que a arte da Medicina seja amada, haverá também amor pela humanidade.”

Ele, considerado o pai da Medicina, sedimentou os dois alicerces fundamentais da profissão: a empatia e a ciência.

Quando pensei no que gostaria de dizer a você, no que considero importante saber antes de, durante e após a escolha da Medicina como profissão, só consegui pensar no amor que sinto pelo que faço. No amor que sinto ao cuidar de gente.

Começamos cedo, eu sei, a estudar muito, a passar longas horas no hospital, privados de sono e de descanso. Mas o que faz com que exista satisfação em dedicar grande parte da sua vida ao próximo, com menos lazer, longe da família e dos amigos? Para mim, a resposta é amor. O amor pela arte médica transcende e se transforma em empatia, na capacidade de se identificar emocionalmente com o outro, de compreender o que sente e o que pensa. Não existe um bom cuidado quando não há empatia. Por isso, guardo com carinho as palavras de um professor: “é preciso olhar com olhos de querer ver e escutar com ouvidos de querer ouvir”. Guarde-as também e reflita sobre elas sempre.

É fundamental estudar e atualizar-se continuamente para que se concretize a boa prática médica. A ciência evolui muito mais rapidamente hoje com o auxílio da tecnologia. É preciso apropriar-se dela com sabedoria, com espírito crítico e com humildade. Sim, humildade! Ser humilde para entender que é impossível saber tudo ou acertar sempre. Para saber que podemos, e devemos, dividir as angústias, as incertezas e contar com ajuda.

Lembre-se, ainda, que de nada adianta saber muito se o seu conhecimento não consegue ser transmitido para quem dele precisa. É importante que se fale a “mesma língua”: o paciente que compreende a doença é aquele que confiará sua vida a você. Portanto, seja gentil, firme, mas solidário.

Tudo o que se vivencia, tudo o que se aprende, dentro ou fora da profissão, servirá para a boa Medicina. Afinal, o conhecimento está em toda a parte. Sejamos sempre curiosos, com olhos e ouvidos atentos. E, sobretudo, de braços acolhedores bem abertos!

Seja feliz, futuro colega!

“O conhecimento humano nunca está contido em uma só pessoa. Ele cresce a partir dos relacionamentos que criamos entre nós e com o mundo, e ainda assim nunca está completo.” Paul Kalanithi