A insuficiência cardíaca é uma condição na qual o coração não bombeia direito ou não se enche de sangue adequadamente. Como resultado, ele deixa de cumprir sua função de ejetar o sangue, gerando sintomas como cansaço, falta de ar, inchaço nos pés e nas pernas. Pode ser causada por doenças do músculo cardíaco, das valvas, do pericárdio (membrana que envolve o coração) e dos vasos que nutrem o coração (as coronárias) ou por doenças metabólicas.
No Brasil, a insuficiência cardíaca atinge 3 milhões de brasileiros e é a terceira causa de internação em pacientes acima de 60 anos. Em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde, são cerca de 26 milhões de casos. Está presente em 10% da população acima de 65 anos.
Como funciona o coração
O coração nunca fica completamente vazio após bombear o sangue em cada batimento: sempre permanece uma quantidade de sangue no seu interior. Então, chamamos de fração de ejeção a porcentagem do sangue que é ejetada do coração para a circulação a cada batimento. O ventrículo esquerdo normal ejeta cerca de 55 a 65% do sangue no seu interior.
Veja este vídeo para entender como o coração funciona!
Coração é terra que ninguém vê – diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não […]
Cora Coralina
Tipos de insuficiência cardíaca, sinais e sintomas comuns
Há 2 tipos principais de insuficiência cardíaca:
- Com fração de ejeção preservada: nestes casos, o coração é rígido e não relaxa para se encher normalmente. Este tipo de insuficiência cardíaca é portanto conhecida como “insuficiência diastólica”.
- Com fração de ejeção reduzida: nesta condição, o coração é fraco e não contrai normalmente. Assim, isso é conhecido como “insuficiência sistólica”.
Os sinais e sintomas mais frequentes são:
- Falta de ar com exercício que progride e pode aparecer mesmo em repouso
- Falta de ar ao deitar
- Dor no peito e palpitações
- Taquicardia (coração acelerado)
- Fadiga e fraqueza
- Diminuição na quantidade de urina eliminada
- Perda de apetite, perda de peso e náusea
- Palidez
- Inchaço
- tontura ou desmaio (síncope)
Assista ao vídeo abaixo para entender um pouco mais (legendas disponíveis em Português):
Causas mais frequentes de insuficiência cardíaca:
- Doença coronária: O Infarto Agudo do Miocárdio é uma das principais causas de insuficiência cardíaca.
- Hipertensão arterial não controlada
- Doença de Chagas: a doença de Chagas é provocada por um protozoário chamado Trypanosoma cruzi. É endêmica do sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Transmitida por um vetor, o “barbeiro”, uma espécie de besouro que, se contaminado, libera o protozoário através das suas fezes.
- Doença das valvas cardíacas: as valvas podem ficar estreitadas (com estenose), impedindo a abertura e a passagem de sangue; também podem ficar frouxas, deixando que o sangue volte para o coração.
- Miocardites virais ( inclusive por HIV e covid-19)
- Doenças congênitas do coração
- Cardiotoxicidade: abuso de drogas, alguns tipos de quimioterapia
- Álcool
- Doenças extra-cardíacas: endócrinas, autoimunes, doença renal
- Cardiomiopatias: amiloidose, sarcoidose, hemocromatose, entre outras
Alguns fatores aumentam o risco para a insuficiência cardíaca, como o tabagismo, a obesidade, o diabetes e a idade avançada.
Nos idosos
As alterações no coração e no sistema cardiovascular relacionadas à idade baixam o limiar para expressão da insuficiência cardíaca. O colágeno no miocárdio aumenta, o miocárdio endurece. Essas alterações levam a redução significativa da função diastólica ventricular esquerda, mesmo em pessoas idosas saudáveis. Um declínio modesto na função sistólica também ocorre com o envelhecimento.
Como resultado dessas alterações, o pico de capacidade para o exercício diminui significativamente (cerca de 8%/década após os 30 anos). Esse declínio pode ser retardado por exercício físico regular. Portanto, os pacientes idosos são mais propensos que os mais jovens a desenvolver insuficiência cardíaca. Causadores de estresse que precipitam os sintomas de insuficiência cardíaca incluem infecções (particularmente pneumonia), hipertireoidismo, anemia, hipertensão, isquemia miocárdica, queda de oxigenação, febre, insuficiência renal, a não adesão a medicações ou a dietas com baixo teor de sal e o uso de certos fármacos (especialmente os anti-inflamatórios).
Complicações da Insuficiência Cardíaca
Algumas das complicações podem levar a um risco aumentado de morte:
- arritmias cardíacas
- prejuízo da função dos rins
- alteração da função do fígado
- acúmulo de líquidos nos pulmões
- queda da pressão arterial
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico depende dos sintomas e dos sinais clínicos, do exame físico e de alguns testes. Eles podem dizer como o coração está funcionando, assim como ajudar a determinar a causa da insuficiência cardíaca. Uma vez diagnosticada, o médico pode organizar e gerenciar a melhor a condução da doença e seu seguimento.
Como tratar?
Corrigir a causa da insuficiência cardíaca, sempre que possível (como as obstruções coronárias ou as alterações das válvulas) é parte importante do tratamento. Porém, também é fundamental mudar o estilo de vida, usar medicamentos para melhorar a função do músculo cardíaco, bem como medicamentos para melhorar os sintomas da insuficiência cardíaca e, assim, proporcionar qualidade de vida ao paciente.
Em alguns casos, dispositivos de assistência artificiais, marca-passo, ressincronizadores, cárdio-desfibriladores implantáveis e até o transplante cardíaco podem ser necessários.
Ainda, algumas atitudes dependem do paciente:
- Controlar o peso.
- Diminuir o consumo de sal.
- Diminuir o consumo de álcool. Se a insuficiência for severa, o melhor é o parar de beber.
- Parar de fumar.
- Exercícios físicos com orientação e sob supervisão médica podem ser seguros e melhorar os sintomas de falta de ar e de fadiga.
A insuficiência cardíaca geralmente é um quadro clínico crônico e as alterações no estilo de vida podem ajudar a pessoa a se sentir melhor. É importante tomar regularmente a medicação prescrita. Caso não se sinta bem ou apresente efeitos colaterais, converse com seu médico para que sejam feitos ajustes ou substituições. Fique atento aos sinais de alerta: piora do fôlego, piora do inchaço, falta de ar, palpitações, tontura, desmaios e dor no peito. Avise seu médico imediatamente se perceber que está piorando.
A relação médico-paciente é fundamental para a boa evolução e condução do tratamento. Sempre.
Referências:
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