A pandemia de COVID desviou a atenção do vírus do HIV

Após o SARS-CoV 19 assombrar o mundo em uma trágica pandemia, o vírus do HIV ficou esquecido, eclipsado.

A pandemia de COVID desviou a atenção do vírus do HIV
H O Covid eclipsou o HIV

Esquecemos a pandemia do HIV: lições do passado

Há 40 anos o HIV também rompia barreiras geográficas, sociais, culturais e se espalhou pelo mundo causando muitas mortes. Era comum nos plantões de pronto-socorro clínico pacientes chegarem em insuficiência respiratória por Pneumociste carinii e fazerem o diagnostico de AIDS.

Nestas décadas a compreensão do HIV permitiu grandes avanços médicos e essas situações como da pneumocistose hoje são raras. Embora ainda não haja cura para o HIV, escolhas adequadas de estilo de vida e aderência ao tratamento, tornam a infecçãpo pelo HIV uma condição crônica compatível com uma vida muito próxima da vida das pessoas não infectadas.

O vírus do HIV ficou esquecido, mas resiste…

No entanto, apesar de todo o conhecimento fisiopatológico da infecção pelo HIV e desenvolvimento de novos antivirais, o número de casos novos nos EUA caiu somente 7% entre 2014 e 2018.

O que é a AIDS?

O vírus do HIV ao infectar o corpo humano destrói as células de defesa chamadas de linfócitos CD4, tornando o organismo vulnerável a infecções por bactérias, outros vírus e com menores chances de combater células tumorais. Ao desenvolver essas doenças o paciente com o HIV desenvolve a AIDS ( Síndrome da ImunoDeficiência Adquerida).

A transmissão se mantem em parte porque as pessoa desconhecem seu status

Estima-se que 38% dos novos casos sejam transmitidos por pessoas que desconhecem seu status de portador do vírus. Essa proporção de portadores que desconhecem seu diagnóstico nos EUA é de 1:7 pessoas contaminadas.

Quem deve testar?

O tratamento e a prevenção precisam do primeiro passo: o diagnóstico
O diagnóstico é importante para o tratamento e para evitar a transmissão do vírus (foto por pixabay.com/users/belova).

Toda pessoa sexualmente ativa deve ser testada ao menos 1 vez para o HIV. E aquelas que estejam mais expostas ao vírus como usuários de drogas endovenosas e aqueles com múltiplos parceiros sexuais, devem ser testados ao menos anualmente.

Como fazer o diagnóstico?

O método para o diagnóstico depende da fase da infecção em que o paciente se encontra. Nos primeiros 5 dias após a infecção, ainda não há viremia (vírus no sangue) e não conseguimos detectá-lo. Após o sexto dia, já é possível identificar os ácidos nucleicos do vírus no sangue. Proteínas virais se tornam detectáveis entre o décimo terceiro e o vigésimo dia de infecção. A partir de então, os anticorpos IgM estão presentes no soro e os IgG somente após trigésimo dia. A imensa maioria dos pacientes quando faz o diagnóstico já tem um longo tempo da infecção viral inicial, identificando na sorologia o IgG.

E… o que mais?

Sempre que o diagnóstico de HIV é feito, o paciente também deve ser avaliado para outras doenças concomitantes:

  • Abuso de álcool e drogas,
  • Distúrbios mentais,
  • Infecções oportunistas,
  • Sarcoma de Kaposi
  • Linfoadenopatia
  • Retinopatia,
  • Outras doenças sexualmente transmissíveis.

O HIV e o Coração:

Com o desenvolvimento e uso dos retrovirais, as doenças infecciosas oportunistas se tornaram menos frequentes e as doenças coronarianas passaram a crescer entre os pacientes com HIV. Cerca de 10% das mortes em pacientes com HIV se devem a doenças coronarianas, como infarto.

Os retrovirais podem acentuar as dislipidemias, a resistência à insulina o que acelera o desenvolvimento da aterosclerose. O estado de inflamação crônica destes pacientes também pode justificar o aumento das doenças coronarianas.

Antes do uso dos retrovirais, o acometimento pela infecção do HIV do músculo cardíaco era mais frequente, com casos de miocardite e insuficiência cardíaca.

A vida continua

o tratamento pode manter a doença contolada
O tratamento controla a doença e impede a transmissão a outras pessoas ( foto por Alexei Kutsar em  pixabay.com).

O tratamento com retrovirais deve ser iniciado o mais breve possível. O paciente deve ser orientado que com o acompanhamento médico e uso dos antivirais, o vírus pode ser suprimido e sua vida pode ser praticamente normal, inclusive com expectativa de vida bastante semelhante ao das pessoas não contaminadas. Hoje nos EUA, mais de 50% das pessoas com HIV positivo tem mais de 50 anos. A supressão viral impede a transmissão do vírus a outras pessoas. O tratamento com retrovirais deve ser acompanhado com contagem de RNA viral e de CD4, além da função hepática, renal e cardíaca. Pois doenças cardiovasculares, renais e hepáticas ocorrem com frequência maior e mais cedo nestes pacientes. Estudos clínicos indicam que mais de 90% dos pacientes em uso contínuo e correto dos antivirais conseguem a supressão viral.

Lembre do vírus esquecido do HIV e viva bem!

Com o tratamento e um estilo de vida saudável a infecção pelo HIV pode ser controlada
A infecção pode ser controlada: viva bem! ( foto por pixabay.com/users/silviarita).

Assim, hoje não temos mais a tristeza de tantos pacientes jovens com pneumocistose nos pronto-antendimentos médicos. Mas não podemos esquecer que a AIDS, se não cuidada, é doença  fatal e a infecção pelo HIV não deve ser desconsiderada. O vírus do HIV ficou esquecido nos últimos anos devido à pandemia de Covid. A melhor maneira de erradicar a epidemia de HIV é a prevenção e o tratamento. Previna a infecção e não deixe de procurar fazer o diagnóstico. Ainda não temos uma vacina para o HIV. Tão pouco há uma cura para a infecção do HIV. Com o tratamento e escolhas mais saudáveis de estilo de vida, a infecção pelo HIV pode passar a ser uma doença crônica controlada, sem grandes prejuízos à qualidade de vida do portador e sem transmissão do vírus aos outros. Procure auxílio médico caso haja dúvidas. Use camisinhas e não compartilhe agulhas.

Para saber um pouco mais, assista ao vídeo abaixo:

1-Boccara F, Lang S, Meuleman C, et al. HIV and coronary heart disease: time for a better understanding. J Am Coll Cardiol 2013; 61:511. 2-DAD Study Group, Friis-Møller N, Reiss P, et al. Class of antiretroviral drugs and the risk of myocardial infarction. N Engl J Med 2007; 356:1723. 3- Michael S. Saag, M.D. n engl j med 384;22 nejm.org June 3, 2021