Pais e Filhos
“…É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há…” (Renato Russo)
Como médica ginecologista, tive o privilégio de acompanhar muitas mulheres incríveis em suas jornadas pelas diversas fases da vida e hoje decidi falar um pouquinho a respeito dessas delicadas relações entre ascendentes e descendentes.
Desafio dos pais e filhos
Um desafio que muitas vezes não é mencionado, mas muito vivido é nossa relação com pais idosos, senis, às vezes doentes, enfraquecidos…
Em especial para as mulheres, que não são apenas filhas, mas também mães (muitas vezes de filhos adolescentes nesse momento) e cuidadoras de seus pais, tudo isso enquanto navegam nas águas turbulentas da chegada da menopausa.
As demandas que vêm do fato de precisarmos ajudar a todos a se cuidar podem ser extremamente desgastantes, tanto emocional como fisicamente. Esta responsabilidade recai boa parte das sobre as filhas , que só somam mais algumas atribuições aquelas que já possuem no seu dia-a-dia.
É um trabalho de amor, mas pode vir acompanhado de estresse e turbulência emocional.
Ainda mais se tudo acontece durante transição do climatério feminino ( que geralmente ocorre a partir no final dos 40 anos ou início dos 50) e acrescenta outra camada de complexidade a esse momento. A proximidade da menopausa não envolve apenas mudanças fisiológicas, mas também é frequentemente acompanhada por mudanças na dinâmica familiar, na vida profissional, nas relações com maridos e filhos, e um grande trabalho mental de aceitação das mudanças dentro de si própria. É muito difícil fazer tudo isso e “manter os pratos no ar” e é totalmente normal sentir-se sobrecarregado e exasperada às vezes.
Muitas pacientes me dizem que se sentem como um celular antigo, aqueles que a bateria não consegue durar o dia todo, sabe? Se se pudessem tiravam férias da propria vida ou fariam uma ‘sonoterapia’ prolongada…Mas como a gente faz, se não temos outra escolha além de seguir em frente?
Aqui estão algumas dicas para te ajudar a enfrentar esses desafios com menos dificuldades…:
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O autocuidado não é negociável:
Você não pode cuidar dos outros de maneira eficaz se não cuidar de si mesmo. Faça do autocuidado uma prioridade, seja por meio de meditação, exercícios, hobbies ou simplesmente reservando um tempo para relaxar. Lembre-se sempre da máxima do avião: “Coloque primeiro a máscara em você!’
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Procure apoio:
Não hesite em pedir ajuda a irmãos, outros familiares ou amigos. Você não precisa carregar o fardo sozinha. Considere grupos de apoio ou aconselhamento para ajudá-la a lidar com todos os aspectos das múltiplas facetas da sua vida agora.
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Planejar e comunicar:
Uma comunicação aberta e honesta com seus pais, cônjuge e filhos é essencial. Discuta responsabilidades e expectativas. Aprenda a cobrar dos demais membros da família o mesmo compromisso que você lhes oferece: reciprocidade! Planejem juntos como administrar os deveres do cada um, desde a contribuição com as tarefas domésticas até a auto-suficiência em muitas das tarefas que a mãe/esposa ainda faz , mas que poderia muito bem delegar. É hora de todos crescerem juntos.
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Estabeleça limites:
Não há problema em dizer não quando necessário. Tente ir apenas até o factível, pois o burnout familiar também existe.
Aprenda a estabelecer limites e eleger prioridades. Sua energia tem limite. Deixe isso claro o quanto antes. Inclusive antes que seu corpo manifeste a estafa com adoecimento.
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Ajuda Profissional:
Considere assistência profissional, se necessário. Tanto os prestadores de cuidados de saúde domiciliares como as ajudas administrativas e funcionais podem aliviar algumas das responsabilidades diárias mais pesadas tanto com a própria manutenção e viabilização das tarefas diárias com o gerenciamento da sua própria casa e filhos como também com as necessidades nas casas dos pais.
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Aceite a mudança:
Entenda que o climatério é uma fase natural da vida. Aceite as mudanças em seu corpo e emoções e procure orientação médica, se necessário, para controlar os sintomas de maneira eficaz. Muitas vezes as mulheres se sentem mais exaustas ainda pois não conseguem se organizar em meio a tantas demandas e noites mal dormidas, ondas de calor, ‘mental-fog’, falhas de memória, dores pelo corpo…Às vezes, tratando esses sintomas o dia-a-dia se torna menos exaustivo.
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Manter relacionamentos:
Muitas vezes julgamos que não devemos “incomodar os outros com nossos problemas”. Pensamos em enfrentar sozinhas. Algumas até se tendem a se isolar nesses momentos mais difíceis, mas isso não é salutar.
Cultive seus relacionamentos como plantinhas delicadas que são. Relacionamentos precisam de atenção, paciência e nutrição.
Passar um tempo de qualidade juntos pode fortalecer os laços em tempos de mudança e gerar o suporte emocional necessário para enfrentar tantos malabarismos e armadilhas que a vida nos impõe.
Lembre das amigas, ninguém melhor que outra mulher passando pela mesma fase para trocar figurinhas, desabafar, trocar experiências e quem sabe ajudar com alguma ideia brilhante que pode funcionar pra você também.
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Informação é ouro:
Conhecimento é poder. Eduque-se .
Tanto é importante adquirir entendimento sobre as transições de vida que acontecem nessa fase da sua própria vida como também busque informações em como lidar com as questões trazidas pelo avanço da idade dos pais.
- Como contratar ajuda, cuidadoras, home care ou eventualmente residenciais especializados (para internação);
- Como administrar a saúde frágil dos idosos que muitas vezes são resistentes aos cuidados e orientações Geriatricas ;
- Onde, quando, como e com quem buscar apoio e consultorias a respeito de questões difíceis de família relativas a questões burocráticas e legais a respeito de pensões, heranças e bens;
- O quê fazer nos casos de falecimento (hospitalar, institucional ou domiciliar);
como lidar com as particularidades e idiossincrasias de cada situação e estar preparados como família para lidas com essas praticalidades complexas nada disso é fácil nem automático. Mas temos que enfrentar e resolver e para temos que saber como.
Eu sempre digo por aqui que a mulher precisa ter algo somente seu dentro do seu dia, 1 hora, 2 horas de pura auto-estima e auto-indulgência, tão necessárias para sua sobrevivência enquanto pessoa.
Seja o que for, faça algo que te lembre quem você realmente é, da sua essência, do seu ‘core’.
Do quê você gosta?
O quê faz você levantar de manhã!
Carregar suas ”baterias da alma” é essencial para levar cada dia adiante com graça e resiliência.
Lembre-se de que você não está sozinha ao enfrentar esses desafios. Muitas mulheres estão em jornadas semelhantes . É essencial abordar esta fase da vida com compaixão por você mesmo e muita paciência com aqueles de quem você cuida. Busque o equilíbrio, cultive a calma, encontre refúgios de paz dentro do seu dia turbulento, senão fica difícil continuar.
Desejo a você toda força e sabedoria necessárias para este capítulo da vida.