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“Injeção NO OLHO? É isso mesmo? Não pode ser de outra maneira?”

O olho é um compartimento fechado, sua imunologia é diferente, o suprimento sanguíneo ídem (como explicado no post anterior: “Transparência”). Deste modo, uma medicação por boca ou via endovenosa dificilmente chega dentro do olho. Mesmo os colírios, atingem apenas a parte superficial dos olhos. E isso tudo, de novo, pelo compromisso de manter suas estruturas transparentes.

Portanto, quando precisamos conter uma infecção ou inflamação ou neovasos no vítreo ou retina, as injeções intraoculares são necessárias.

Simples assim:

  1. Para as infecções, injetamos antibióticos
  2. Para as inflamações, agentes anti-inflamatórios
  3. Para neovasos, quimioterápicos anti-VEGF

Anti-VEGF

Já temos uma certa familiaridade com os antibióticos e anti-inflamatórios. Mas o que seria esse anti-VEGF?

Inicialmente usado para tratar tumor de intestino, super vascularizados, o AVASTIN ou Bevacizumab é um quimioterápico usado para combatê-los ao diminuir estes vasos nutridores. Em 2005, um grande oftalmologista do Bascom Palmer Eye Institute, Philip J Rosenfeld, teve a grande sacada de injetar 1/10 da ampola dentro do olho, escapando dos efeitos colaterais das altas doses da medicação intravenosa. Deste modo, mais do que a descoberta da droga, o pulo do gato foi justamente a injeção no olho.

A genentech, empresa farmacêutica responsável pela medicação, rapidinho produziu uma variação específica para o olho, LUCENTIS ou Ranibizumab, obviamente beeeem mais cara. Em termos práticos, os estudos comparativos entre Lucentis e Avastin não mostraram diferença de eficácia. Funcionam bem, da mesma maneira.

ENTRETANTO…

A empresa farmacêutica responsável pelas medicações foi processada na Itália por dificultar o uso do Avastin em 2018.

E quem duvidaria de que isso ocorreria, não?

Próximos passos

A medicação persiste ativa apenas 1-2 meses. Deste modo, inevitavelmente precisamos repetir a injeção. Procuramos implantes de liberação contínua da medicação que fiquem por mais tempo dentro do olho ou algum outro modo farmacológico de penetração intraocular via colírio… quem sabe?

O que digo para meus pacientes: a agulha é finiiiiinha, a picadinha menor que de uma abelhinha. E vale muito a pena!!!

 

Fontes interessantes:

https://exame.com/ciencia/novartis-e-roche-sao-multadas-por-conspiracao-em-venda-de-remedio/

Five-Year Outcomes with Anti-Vascular Endothelial Growth Factor Treatment of Neovascular Age-Related Macular Degeneration: The Comparison of Age-Related Macular Degeneration Treatments Trials. Ophthalmology. 2016 Aug;123(8):1751-1761. doi: 10.1016/j.ophtha.2016.03.045. Epub 2016 May 2. PMID: 27156698; PMCID: PMC4958614.

The Path to Intravitreal Bevacizumab: A logical decision based on scientific facts and clinical intuition. BY PHILIP J. ROSENFELD, MD, PHD. Retina Today, May/June 2009

Escrito por

Cassia Suzuki

Médica oftalmologista, quase filósofa, mãe de 2 filhas e 2 cachorrinhas