cuidados paliativos são como cuidar de seu jardim
borboletas e abelhas em flores
A saúde cuidada com amor será como um jardim cheio de borboletas

A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final.“ —  Fernando Pessoa

Você já ouviu falar em Medicina Paliativa?

Esse é o nome do conjunto de práticas médicas multidisciplinares que são utilizadas para tratar as pessoas e seus familiares que estão passando por doenças graves e que ameaçam sua vida, para alívio de seu sofrimento e melhoria da qualidade de vida.

Em geral associamos esses cuidados a etapa final da vida de uma pessoa com uma doença intratável, mas na verdade, esses cuidados devem fazer parte de todas as fases da vivência de uma doença, desde o momento de seu princípio ao seu final. É também a parte da prática médica que se estende às pessoas amadas pelo paciente, para que suportem melhor todo o processo e tenham atitudes positivas e construtivas ao longo do percurso.

O jardim secreto de cada um

 narrow pathway in a garden surrounded by a lot of colorful flowers
Cada pessoa é um jardim maravilhoso

Imagine que cada pessoa é um jardim maravilhoso, que devemos cuidar. Plantar, regar, retirar as ervas, adubar, podar os galhos mais velhos, fazer brotar os novos. Esse exercício de cuidados é de responsabilidade de cada pessoa, mas também de cada profissional de saúde que ela procura num momento difícil como de uma doença grave, um momento de pedir ajuda.

A medicina deveria sempre respeitar os valores individuais de cada pessoa, e isso á ainda mais sensível na medicina paliativa, requerendo do médico uma comunicação clara e sensível com o paciente para entender o que causa nele mais dor e quais são suas prioridades, suas escolhas.

Não é fácil andar num jardim florido sem pisar em nenhuma flor.

Delicadeza e detalhe são parte do tratamento médico paliativo.

Quantas flores diferentes enfeitam o jardim?

Existem tantas flores diferentes!!!

Um paciente gravemente doente tem um sofrimento físico, um outro psicológico, outro social, espiritual e muitas vezes também familiar, econômico… A medicina paliativa quer cuidar de amenizar todas essas dores em conjunto.

Cravos ou Rosas? As Rosas têm espinhos…

Trata-se de ajudar o paciente a encarar muitas escolhas difíceis, que devem ser individualizadas, pois as pessoas são muito diversas entre si, e podem também mudar de entendimento ao longo do curso de uma doença.  Nem mesmo a dor física é vivenciada da mesma forma entre pacientes com a mesma doença.

Estão em questão a agressividade de um tratamento versus prolongamento da expectativa de vida, local para o tratamento casa ou hospital, local para se morrer, momento de sedar… e muitas vezes o médico tem uma concepção de prioridades e benefícios diferente da concepção do paciente.

Sementes ao vento…

Quem pode se beneficiar da Medicina Paliativa?

  • Pacientes idosos e frágeis,
  • Pacientes com demência e dependentes,
  • Aqueles que necessitam de oxigênio domiciliar,
  • Aqueles com doença avançada ou intratável,
  • Aqueles sem suporte familiar ou com doença mental limitante…

O jardineiro e as mudinhas

O médico é mais um jardineiro deste frágil canteiro.

Caso algum leitor do Panacea seja médico, vale lembrar que um bom médico não deve ser distante afetivamente de seu paciente, mas que na medicina paliativa a sobrecarga emocional de um relacionamento muito forte interpessoal entre médico e doente pode sim interferir em tomadas de decisões clínicas importantes e impactar em prognóstico.

Pragas devem ser cortas pela raiz

A depressão é uma praga bastante comum entre os doentes gravemente acometidos, sendo mais comum em jovens, mulheres e naqueles onde o alívio de outros sintomas como dor não é bem controlado. O estresse que estados depressivos causam pode impedir o paciente de realizar um bom tratamento e de ter uma boa qualidade de vida durante o processo de doença. A depressão deve ser prontamente diagnosticada, prevenida e agressivamente tratada.

Caracóis e joaninhas para alegrar o jardim

Joaninhas voando alegres e rápidas pelo jardim ou caracóis caminhando lentos pelas verdes folhas… A atividade física é importante para a manutenção do bem-estar e da qualidade de vida. A maioria dos pacientes em cuidados paliativos tem múltiplos sintomas que podem contribuir para a redução da atividade física. A reabilitação física durante o tratamento ou mesmo no prolongamento da vida é considerada um importante instrumento para restaurar as funções físicas e psicológicas do paciente, reduzindo seu sofrimento.

A confiança na equipe médica deve ser solidamente construída, pois em doenças graves que evoluam apesar do tratamento, há a possibilidade de se gerar desconforto, e na medicina paliativa isso também deve ser contemplado e abarcado.

Veja que bonita essa palestra da Dra Ana Claudia

Céu azul para o nosso jardim

Estamos tão acostumados hoje em dia com uma expectativa de vida longa, produtiva, sem dor, que não podemos imaginar um caminho diferente, e muitas vezes criamos um pensamento mágico com relação aos resultados de um tratamento. Muito importante desenvolver a sensibilidade e a verdade. Tanto os profissionais de saúde como os próprios doentes.

Com a inovação dos tratamentos e o prolongamento da vida, a medicina paliativa tem sido um capítulo cada vez mais importante dentro da prática médica.  Será, como dizia o Mario Quintana, cada vez mais importante cuidarmos de nosso jardim para que as borboletas venham.