antibiótico: amigo ou inimigo

A história nos conta que, já na antiguidade,  as civilizações usavam substâncias naturais tais como ervas, mel, etc  para tratar infecções. O uso tópico de pão mofado para tratar feridas no  Egito, China, Sérvia, Grécia e Roma é descrito como tratamento  o de maior sucesso. Kate Gould

Antibióticos são drogas que matam bactérias.  O que seria do mundo se, ainda hoje, não houvesse  tratamento para a peste negra ou a peste bubônica, difteria, sífilis ou tuberculose?  Ou mesmo para meningite ou até amigdalite?

Antibióticos são substâncias naturais?

Poucos sabem, mas grande parte destas medicamentos, hoje produzidos em larga escala nos laboratórios, foram  desenvolvidas a partir de substâncias naturais produzidas por fungos. Isso mesmo: mofo!

O mais conhecido, sem dúvida,  é a  penicilina, produzida pelo fungo Penicillium. Esta descoberta concedeu o prêmio Nobel ao cientista escocês Alexandre Flemming em 1945.

Todavia, foi partir da Segunda Grande Guerra Mundial que os antibióticos começaram a ser  produzidos  em larga escala. Assim, iniciava a “Era de Ouro dos Antibióticos”. Uma grande revolução tanto para a qualidade, quanto para a  expectativa de vida. Posteriormente,  vieram a tetraciclina, estreptomicina, vancomicina, e tantos outros. Muitos destes também a partir de fungos.

Quando usá-los?

Acima de tudo, é importante saber que as infecções mais comuns são das vias respiratórias e são causadas principalmente por vírus!!! E dessa forma, mesmo na presença de febre ou tosse não há necessidade de antibióticos.

Menos frequentemente, há pneumonias, rinossinusites, otites e estas, sim, causadas por bactérias e  portanto merecem tratamento com antibióticos.

Há, ainda, outras  infecções bacterianas,  por exemplo, infecções urinárias, abscessos,  meningite, apendicite, etc.   Não usar antibióticos em infecções  bacterianas graves ser fatal.

Os antibióticos possuem efeitos colaterais?

Alergias, desconforto gástrico e diarréia são efeitos colaterais comuns.

E  mais.  Quando tomamos um antibiótico, ele mata as bactérias causadoras da infecção, mas também mata as bactérias boas, aquelas que moram  em nosso intestino, em simbiose. Dessa forma, o uso inadequado ou frequente pode levar uma disbiose, ou seja desequilíbrio da microbiota intestinal.

Resistência a antibióticos e superbactérias:

Desde 2012, a venda destas remédios no Brasil só é possível mediante receita médica.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o uso inadequado de antibióticos é considerado o principal motivo para a geração de resistência bacteriana.

As bactérias são espertas e  em sua evolução podem se transformar em bactérias resistentes, não apenas pelo uso inadequado, mas também indicação incorreta.

Você sabia que usar antibióticos por um tempo inferior ao prescrito também leva formação de  bactérias resistentes? Pois é, os sintomas geralmente melhoram antes da eliminação  total  das bactérias e as que sobrevivem são as que potencialmente podem se tornar resistentes. Portanto,  deve-se seguir o tratamento  exatamente como prescrito.

E por tudo isso que eles devem ser usados quando os benefícios superam seu risco.

E  então…antibiótico: amigo ou inimigo?

Os antibióticos são amigos, quando utilizados corretamente. 

Referências

Mohr KI.History of Antibiotics Research. Curr Top Microbiol Immunol. 2016;398:237-272. doi: 10.1007/82_2016_499.PMID: 27738915 Review.

Gould K. Antibiotics: from prehistory to the present day.J Antimicrob Chemother. 2016 Mar;71(3):572-5. doi: 10.1093/jac/dkv484.PMID: 26851273 Review.

https://www.cdc.gov/antibiotic-use/community/about/should-know.html

Piltcher O et al. How to avoid the inappropriate use of antibiotics in upper respiratory tract infections? A position statement from an expert panel. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology.  2018;84(3):265-279,

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).