“Sofro de um zumbido permanente….o que significa ter um apito constantemente em minhas orelhas, que de certa forma também me faz um pouco surdo. É como um “biiiiip” na minha cabeça o tempo todo. Acho que eu deveria ter usado protetores de ouvido!
Ozzi Osbourne (músico, compositor e vocalista americano)

 

Parece estranho, não? Mas você já deve ter experimentado esta sensação pelo menos após um show ou festa, devido à exposição a sons altos e que na maioria das vezes não é mais percebida no dia seguinte. Isto é um zumbido ou tinitus. Mas saiba que cerca de 10% a  20% das pessoas têm esta sensação diariamente.

O convívio com o zumbido pode gerar frustração, aborrecimento, ansiedade, depressão, insônia, estresse e exaustão emocional e dessa forma compromete  a qualidade de vida e pode até mesmo influenciar a vida profissional e econômica. Portanto, merece investigação e aconselhamento!!

O zumbido é um barulho em uma ou ambas as orelhas, de timbre frequentemente agudo e caracterizados como chiado, apito, sirene, panela de pressão, etc.; pode ser constante ou intermitente, contínuo ou pulsátil.

As causas mais comuns do zumbido:

Primeiramente é importante saber que as causas são inúmeras. Por exemplo, uma lesão em qualquer porção da orelha ou nas vias auditivas, ou seja os neurônios que ligam o ouvido ao cérebro. Sendo assim, sem dúvida a perda auditiva é a mais comum, às vezes tão discreta que ainda nem foi percebida.

Exposição a sons altos é o principal desencadente da perda auditiva que pode ser evitada! Não pensem que apenas os ruídos desagradáveis podem levar a perda auditiva. Música, também. E aí temos exemplos de famosos com zumbido por exposição a música em alta intensidade: Chris Martin, vocalista do Cold Play, Will.i.am, rapper, Eric Clapton vocalista, entre outros.

“Não sei mais como é o silêncio”

Will.i.am (rapper americano)

Igualmente pode ocorrer com a presbiacusia (perda auditiva pelo avançar da idade) ou mesmo na perda auditiva pós-infecções, otosclerose, etc. Não devemos esquecer dos medicamentos chamados de ototóxicos ou seja tóxicos para o ouvido. Por isso deve-se utilizar medicamentos sempre com orientação médica. E até tumores do ouvido ou do nervo auditivo.

Outras causas de zumbido:

Como falamos, qualquer alteração na orelha pode causar zumbido. Acreditem: até mesmo uma rolha de cerúmen impactado no canal do ouvido.

Não menos desconfortável é o zumbido chamado secundário, que tem origem fora da orelha. Pode ser uma contratura muscular ou questões  dietéticas como ingestão de cafeína ou dietas ricas em açúcares. E ainda, o zumbido que,  quando pulsátil, pode ter como causa lesões do tipo vasculares ou simplesmente ser decorrente da transmissão do som de artérias localizadas próximas do ouvido.

O diagnóstico:

O seu médico deve avaliar com cuidado as características do zumbido, assim como outros sintomas associados: dor de ouvido, infecções, sensação de ouvido tampado ou mesmo vertigem. Importante ainda, informá-lo sobre uso de medicações, trauma acústico ou mesmo trauma cranioencefálico e  claro, exposição a ruído.

E mais, pode haver uma relação com sintomas de ansiedade e depressão.

Examinar o ouvido é fundamental para se identificar anormalidades na orelha média ou externa. No caso de cerúmen: removê-lo.

Avaliar a audição é obrigatório para identificar possível perda auditiva e até mesmo exames de imagem, tal como tomografia ou ressonância magnética, podem ser necessários.

Nada disso substitui uma conversa detalhada sobre o estilo de vida, alimentação e todos os aspectos que podem ser relevantes

Mas o zumbido tem tratamento?

Sempre tratar a causa quando identificada. Para cada uma, um tipo específico de tratamento deve ser indicado.

Na presença de perda auditiva a reabilitação da audição é a chave, em muitos casos pode ser necessária a adaptação de um aparelho auditivo.

Em outros casos a orientação médica pode ser uso de medicamentos ou procedimentos cirúrgicos.

Há ainda o mascaramento. Adaptação de aparelhos geradores de som como ruído branco, para reduzir a percepção do zumbido.

Outra alternativa é a terapia de retreinamento do zumbido, cujo objetivo é habituar o sistema auditivo aos sinais do zumbido tornando-os menos perceptíveis e portanto menos incômodos. Incluem-se aqui o aconselhamento e a terapia sonora.

Sem aprovação regulatória, há inúmeros aplicativos de smartphones que prometem aliviar o zumbido. São geradores de sons, tipo ruído branco. Outros sons também podem ajudar como: som de água (cachoeira, chuva), vento, ondas do mar.

Dicas:

  • Proteja-se sempre de sons altos;
  • Evite longo tempo de exposição em shows e festas. Procure sempre a cada meia a 1 hora sair para o silêncio por uns 10 minutos. Quando inevitável, use protetores auriculares;
  • Evite fones de ouvido por longo tempo com volume elevado;
  • Mantenha uma dieta regrada, evite cafeína em excesso;
  • Controle doenças de base como diabetes, colesterol alto, hipertensão arterial;
  • Exercite-se;
  • Inclua em seu dia a dia atividades de relaxamento;
  • Evite automedicação.

Procure avaliação adequada, seu zumbido pode ser controlado!!

 

Referências:

Esmaili AA. A review of tinnitus.  AJGP. 2018; 47, APRIL.

Kleinjung T et al. Avenue for Future Tinnitus Treatments. Otolaryngol Clin N Am. 2020; 53 667–683.

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).