o anticoncepcional masculino
  1. O anticoncepcional masculino pode vir a ser uma realidade???

Dados mundiais mostram que em torno de 40% das gestações acontecem de forma não planejada!

Assim, melhores métodos de controle de natalidade precisam ser oferecidos a população, de modo que as pessoas possam fazer conscientemente suas escolhas nesta esfera de suas vidas.

Atualmente observamos que vem crescendo a demanda para que haja uma forma de contracepção que os homens possam utilizar e assim participar mais ativamente do processo  de programação de filhos.

Existem pesquisas que demonstraram que até 75% dos homens acreditam que ambos os parceiros devem dividir igualmente a responsabilidade sobre o planejamento familiar.

Hoje, um homem que queira evitar gravidez ativamente  tem apenas 2 opções: usar camisinha e fazer vasectomia.

Isto porque métodos comportamentais como o coito interrompido não possuem nenhuma evidência comprovada  para serem considerados métodos contraceptivos reais ou até eventualmente  melhores que a pura chance de um coito desprotegido. Não se arrisque aqui.

O que temos então na realidade do anticoncepcional masculino?

camisinha safe sex

I -Camisinha, Condom, Preservativo

O método de barreira mais conhecido do mundo, como método de prevenção de infecções genitais  é excelente.

Evita o contato maciço e  direto de fluidos biológicos potencialmente contaminantes entre os genitais dos parceiros.

Entretanto como método contraceptivo isolado, oferece uma taxa de falha alta se comparada aos demais métodos disponíveis para as mulheres (a média das pílulas oferece taxas de segurança de 97%)

A taxa de falha  da camisinha gira em torno de 15% na maioria dos estudos (o que significa que uma  a cada 6-7 relações usando exclusivamente preservativo pode terminar em gravidez…indesejada)

vasectomia

II -Vasectomia

Já a vasectomia é um método cirúrgico , invasivo e definitivo.

Em sua maioria irreversível, a vasectomia é uma cirurgia feita para interromper os ductos que levam os espermatozóides ao ejaculado final.

Sua eficácia é muito alta, em torno de 98%

Sabemos que a completa eliminação de espermatozóides do esperma ocorre em média após 60 dias do procedimento (período no qual manter outro método é recomendado)

Pensando em reversão, até 5 anos após o procedimento, podemos contar com técnicas de microcirurgia que chegam a apresentar a uma taxa de sucesso de 80-90%, porém, após 5 anos da cirurgia, a chance de reversão tende a ser menor que 60%, com resultado de gravidez natural em torno de 30%

Portanto,  a vasectomia tem que ser encarada com seriedade e a escolha deve ser feita como um método para ser definitivo.

Métodos Hormonais (!??)

Muitas pesquisas foram feitas há décadas (desde os anos 60) na tentativa de se buscar então um método contraceptivo hormonal, nas bases do que as mulheres têm com as pílulas anticoncepcionais, para uso masculino.

Alguns obstáculos importantes para esse desenvolvimento devem ser levados em conta:

Os homens vivem com  uma produção contínua de espermatozóides na células de Sertoli(testículos), e essa função está vinculada diretamente a produção testicular dos próprios hormônios masculinos, principalmente as Testosterona pelas células de Leydig.

Tais hormônios são essenciais para o bem estar e bom funcionamento do organismo do homem e até mesmo  para sua própria função sexual.

 

infografico do eixo hormonal masculino

Um método contraceptivo hormonal masculino precisaria ser capaz de inibir totalmente a produção de espermatozóides no testículo sem prejudicar a saúde do homem a longo prazo também.

Um homem normal produz em torno de 15-200 milhões de espermatozóides por mililitro de ejaculado e basta que 01 espermatozóide chegue ao óvulo para que a fecundação aconteça…

Assim, os estudos mostram que o medicamento pesquisado precisaria fazer com que o homem atingisse condição semelhante a oligospermia severa, ou seja, quantidade de até 3 milhões de espermatozóides por mililitro do ejaculado, para que seja eficaz.

As pesquisas feitas com combinações de testosterona se mostraram impraticáveis para uso geral pela dificuldade da via injetável  e dos efeitos colaterais como toxicidade ao fígado, alterações graves de humor (depressão clínica), redução da libido, aumento do colesterol ruim, ganho de peso, acne severa e até aumento do risco para câncer de próstata e mamas masculino.

Também a taxa de falha de tais métodos tende a ser preocupante, podendo ficar na faixa de 10% , que é bem alta se comparada aos 15% da camisinha apenas.

Além de tudo isso, pelas características de espermatogênese masculina, os métodos hormonais estudados até hoje demoram de 2 a 4 meses de uso para estarem em seu pleno efeito contraceptivo, ou seja, a supressão da produção dos espermatozóides a níveis aceitáveis como eficazes.

Por isso, até hoje, praticamente nenhuma avanço concreto foi alcançado nesta área .

Existem algumas pesquisas em curso que estão desenvolvendo um medicamento em gel transdérmico de auto-aplicação  diária para contracepção masculina hormonal.

Este possível novo produto é composto de uma combinação de testosterona e uma progestina potente, que demonstrou ser capaz de levar a produção espermática a níveis abaixo de 1 milhão/ml, que é mais do que o desejado para um método aprovado. Os resultados desses estudos ainda estão por vir (estimados para >2025).

Resumindo: métodos contraceptivos eficazes e reversíveis para uso masculino, infelizmente, até hoje não são disponíveis .

A novidade:

Pesquisas recentes reacenderam o interesse pelos métodos contraceptivos masculinos, quando cientistas anunciaram um novo produto para contracepção reversível  masculino.

O anúncio dizia respeito a um tipo de substância:  RI-SUG (Reversible Inhibition of Sperm Under Guidance) e Vasalgel, que consistem em métodos que bloqueiam a passagem dos espermatozóides pelos ductos testiculares deferentes.

Dessa forma, funcionaria como uma “vasectomia virtual reversível”.

A medicação, em apresentação gel, é injetada nos dutos testiculares em dose única de cada lado, para criar  uma espécie de “rolha” que obstrui a passagem dos dutos e impede os espermatozóide de chegarem ao ejaculado.

O produto promete também alterar o pH local, causando alterações funcionais nos espermatozóides demoro a comprometer sua função de fecundar.

Os estudos preliminares mostraram que este novo tipo de tratamento traz eficácia completa de 1 a 3 meses após as injeções (levando a maioria dos candidatos a ausência de espermatozóides nas amostras do ejaculado: azoospermia).

As aplicações tendem a durar por até 1 ano e podem ser revertidas por aplicação de uma outra medicação local que reverte a obstrução dos dutos, entretanto não há dados ainda para avaliar a qualidade do esperma após a reversão.

Os maiores efeitos adversos relatados na pesquisa foram edema e dor na bolsa escrotal de alguns homens, sendo que estes sintomas  apresentaram reversão espontanea em até 1 mês da injeção.

Infelizmente, nenhuma destas duas alternativas está ainda disponível para uso humano fora dos protocolos de estudo aprovados para as pesquisas que mencionamos.

Outras substâncias também são cogitadas e estudadas e em breve poderemos ter mais avanços nesta área.

Cuide de seus dentes e do coração e sorria

O que fica de mais importante é a mudança de paradigmas.

Pensamentos antiquados,  onde apenas a mulher se preocuparia com a prevenção de uma gestação não programada não podem ter mais lugar.

Em nossos dias, apenas a mulher sente no corpo as consequências de usar medicamentos para evitar a gravidez.

É também das mulheres o fardo de uma gestação fora dos planos e muitas vezes o risco para sua saúde que reside em qualquer procedimento feito na tentativa de reverter a situação.

É essencial que os parceiros tomem mesmo para si a atitude de participar ativamente da contracepção, entendendo que esta é uma responsabilidade partilhada.

Esse é o caminho: respeito, solidariedade e parceria.

 

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/09/21/vacina-anticoncepcional-masculina-sera-lancada-em-2023-projetam-cientistas.htm

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7513428/pdf/yjbm_93_4_603.pdf

a realidade do anticoncepcional masculino