A testosterona, o principal hormônio masculino, tem sido usada para melhorar força muscular, ereção e libido, humor e energia em homens que apresentam diminuição significativa do nível deste hormônio. Porém, será que a testosterona gera efeitos cardiovasculares que comprometem seu uso?

“O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo.” H. Balzac

A testosterona e a idade

Os níveis da testosterona caem progressivamente à medida que a idade do homem avança, principalmente a partir dos 60 anos, numa taxa de 2% por ano. Além disso, portadores de doenças crônicas como HIV e homens obesos também têm níveis reduzidos deste hormônio.

A testosterona baixa associa-se à inflamação, à alteração no colesterol e à aterosclerose. Entretanto, a segurança do uso deste hormônio ainda é assunto controverso. Por isso, em 2014, a agência americana que controla medicamentos (FDA), alertou para um possível aumento do risco cardiovascular com a suplementação de testosterona, restringindo seu uso para homens com níveis baixos e que apresentam sintomas relacionados, como osteoporose, anemia, diminuição dos pelos e dos testículos e disfunção sexual.

O uso de testosterona pode ter riscos à saude
O uso de testosterona pode oferecer risco à saúde?

Efeitos cardiovasculares da testosterona

A testosterona exerce vários efeitos no
coração e nos vasos sanguíneos, alguns
com potencial de diminuir e outros que
poderiam aumentar o risco cardiovascular.
Alguns estudos relacionaram o uso de
testosterona com o aumento do risco de
infarto agudo do miocárdio, acidente
vascular cerebral e morte.

Possíveis benefícios:

  • Dilatação das coronárias,
    artérias que nutrem o coração
  • Aumento da massa muscular
  • Diminuição da gordura visceral
  • Diminuição dos níveis de açúcar
    no sangue

Efeitos com provável aumento
do risco cardiovascular:

  • Aumento dos glóbulos
    vermelhos e maior chance de
    trombose, pois o sangue fica
    mais viscoso (“grosso”)
  • Redução do HDL-colesterol, o
    colesterol bom, e aumento do
    LDL-colesterol, o ruim
  • Aumento da atividade das
    plaquetas, parte do sangue
    responsável pela formação de
    coágulos
  • Aumento da frequência cardíaca
  • Aumento da pressão arterial
  • Aumento da retenção de líquidos
  • Possível diminuição da força de
    contração do músculo cardíaco
  • Possível associação com
    arritmias

Atletas e o uso de androgênios

Androgênios são os hormônios masculinos
e a testosterona é o mais importante deles.
Alguns atletas usam este tipo de droga na
tentativa de melhorar sua performance.
Porém, a maioria dos indivíduos que utilizam
hormônios é composta por atletas não
competitivos.
O uso de androgênios, hormônio do
crescimento ou outras drogas para melhorar
a performance é frequente, mesmo entre
adolescentes, e tornou-se um problema de
saúde pública.

A maioria dos usuários compra os suplementos com androgênios pela internet, consumindo-os em doses crescentes ou combinando dois ou mais tipos de substâncias.

E são eficazes?

A administração de doses elevadas de testosterona em homens jovens aumenta a massa e a força muscular.

No entanto, os hormônios precursores de testosterona, como a androstenediona, embora aumentem a massa muscular, não promovem melhora na força dos músculos.

Para mulheres?

Atualmente, há indicação de reposição de testosterona para mulheres na menopausa que tenham baixo interesse sexual e diminuição de libido. Outros androgênios não estão indicados.

Efeitos colaterais e complicações

Todos os androgênios têm alguns efeitos colaterais quando tomados em altas doses, enquanto outros efeitos são desenvolvidos pelo tipo de androgênio consumido:

  • Lípides: ocorre queda do HDL-colesterol (colesterol “bom”) e aumento do LDL-colesterol (“ruim”)
  • Coagulação: ocorre ativação do sistema de coagulação
  • Hemácias: ocorre aumento da produção dos glóbulos vermelhos, deixando o sangue mais viscoso (grosso)
  • Hipertrofia cardíaca: embora existam vários casos de morte súbita de atletas jovens, com hipertrofia cardíaca à necrópsia, sem doença cardíaca prévia e em uso de anabolizantes, os estudos são limitados pelo baixo número de pacientes

Além do coração e do sistema cardiovascular, outros órgãos e sistemas podem ser afetados:

  • Reprodução: em homens, pode ocorrer atrofia dos testículos e diminuição na produção de espermatozoides, gerando infertilidade
  • Próstata: pode ocorrer crescimento da próstata.
  • Em adolescentes, pode ocorrer fechamento das cartilagens de crescimento
  • Em mulheres, pode promover virilização e alteração da voz (esta, irreversível)

A reversibilidade dos efeitos colaterais depende da dose utilizada e do tempo de uso.

Em resumo:

A reposição de testosterona está indicada para homens quando:

  • 3 medições de testosterona entre 8 e 10h da manhã estiverem baixas
  • não forem vítimas de infarto ou derrame antes da reposição
  • houver sintomas como cansaço e baixa libido, diminuição da ereção matinal, diminuição nos testículos, perda de pelos do corpo e diminuição da massa óssea
  • os sintomas não forem ocasionados por nenhuma outra doença

São contraindicações para a reposição:

  • câncer de próstata
  • câncer de mama
  • apneia do sono severa e não tratada
  • insuficiência cardíaca não controlada

Para saber se existe ou não necessidade de repor a testosterona, consulte seu médico!

Quer saber mais?

Referências:

  1. Bhasin S, Brito JP, Cunningham GR, et al. Testosterone Therapy in Men With Hypogonadism: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab 2018; 103:1715.
  2. Layton JB, Kim Y, Alexander GC, Emery SL. Association Between Direct-to-Consumer Advertising and Testosterone Testing and Initiation in the United States, 2009-2013. JAMA 2017; 317:1159.
  3. https://www.fda.gov/drugs/drug-safety-and-availability/fda-drug-safety-communication-fda-cautions-about-using-testosterone-products-low-testosterone-due (Accessed on January 06, 2020).
  4. Yeap BB, Marriott RJ, Antonio L, Raj S, Dwivedi G, Reid CM, Anawalt BD, Bhasin S, Dobs AS, Handelsman DJ, Hankey GJ, Haring R, Matsumoto AM, Norman PE, O’Neill TW, Ohlsson C, Orwoll ES, Vanderschueren D, Wittert GA, Wu FCW, Murray K. Associations of Serum Testosterone and Sex Hormone-Binding Globulin With Incident Cardiovascular Events in Middle-Aged to Older Men. Ann Intern Med. 2022 Feb;175(2):159-170. doi: 10.7326/M21-0551. Epub 2021 Dec 28. PMID: 34958606.