É cedo pela manhã e você sai para trabalhar, preocupado com o horário, vê o totem próximo ao semáforo que mostra o horário e logo abaixo: qualidade do ar regular! E,  então, pensa: deve estar poluído, melhor ficar em um ambiente fechado.

Mas você sabia que também existe poluição em ambientes fechados?

E as questões meteorológicas? o  ar seco? Como o ar que respiramos pode influenciar a nossa saúde?

O ar nosso de todos os dias

A poluição do ar pode estar presente em ambientes internos  ou externos.

De uma forma geral, a qualidade do ar é o produto da interação de um conjunto de fatores onde destacam-se a magnitude das emissões, a topografia e as condições meteorológicas da região, favoráveis ou não ä dispersão dos poluentes.

Para nós que morarmos em grandes cidades, convivemos com o trânsito é a queima de combustíveis fósseis que talvez seja a principal causa da poluição do ar.

Entretanto, há outras formas de poluição como ruído, o calor, o excesso de luzes e ainda a contaminação do solo e em alguns locais até mesmo da água.

A poluição do tráfego é ubíqua e composta pelas fases gasosas: oxido nitroso e monóxido de carbono e ainda é composta por materiais particulados e metais  como zinco e cobre que se originam dos freios e pneus.

A poluição de ambientes externos é uma mistura de O3 (ozônio), NOS (dióxido de nitrogênio), material particulado  com diâmetros de <2.5 μm (PM2.5) and<10 μm (PM10).

1 PM já é o suficiente para deflagar o mecanismo de estresse oxidativo em humanos e animais.

O ozônio (O3) é reconhecido como um dos mais importantes poluentes, pois tem como precursor os óxidos do nitrogênio (combustão dos automóveis) e os ácidos orgânicos voláteis que interagem na presença da luz solar. A exposição ao ozônio causa irritação e alterações do epitélio nasal causando obstrução nasal, coriza, sangramento nasal, fazendo piorar as rinites e aumentando a incidência de rinossinusites. Há ainda relação com piora da rinite, asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica e dermatite atópica.

Mas a poluição de ambientes externos não apenas piora as doenças respiratórias, exercem influencia também sobre as doenças cardiovasculares possuem um potencial carcinogênico.

A condição meteorológica

A concentração de poluentes está fortemente relacionada às condições meteorológicas. Períodos com ventos fracos, inversões térmicas, baixa altitudes levam a uma piora da poluição. É o que comumente vivemos aqui no inverno paulista, quando as noites são frias e a temperatura tende a se elevar rapidamente durante o dia, provocando alteração no resfriamento natural do ar.

inversão térmica se caracteriza por uma camada de ar quente que se forma sobre a cidade, impedindo a dispersão dos poluentes. As mudanças bruscas na temperatura  do ar também levam a inflamação da mucosa respiratória, podendo deflagrar várias doenças.

A mudança climática

Não podemos esquecer do impacto da mudança climática na gênese das doenças respiratórias. Trata-se de um processo complexo que não acontece apenas pelas variações meteorológicas, mas também pela mudança do comportamento das substâncias alergênicas no ar. Sem contar que o efeito estufa leva a uma pior dispersão dos poluentes.

E dentro de casa?

Pequenas ações do dia a dia poluem o ambiente doméstico como produtos de limpeza, o cozimento de alimentos, e tudo pode ser ainda pior quando há queima de combustíveis sólidos como lenha ou carvão para aquecimento dos ambientes ou em  fogões.

Até mesmo uma simples vela acessa em devoção a um santo querido  ou uso de incensos, o fogão,  o aquecedor enriquecem o ambientes com monóxido de carbono, gás carbônico e dióxido de enxofre.

Destacam-se, também, substâncias voláteis que são utilizadas em coberturas de móveis, pisos e produtos de limpeza.

Os poluentes são irritantes para a mucosa respiratória que levando a processos inflamatórios predispondo a rinites e infecções.

Não se pode deixar de falar na fumaça do cigarro, ainda muito presente em algumas casas, apesar de proibidas hoje em dia em ambientes fechados, como shoppings, restaurantes, empresas, festas etc.

O cigarro não apenas faz mal aos que fumam, mas também aos contactantes, chamados de fumantes passivos. Crianças fumantes passivas são ainda mais suscetiveis e apresentam um a maior incidência, de asma, bronquites e infecções das vias aéreas superiores,  em especial otites!

E os alérgenos?

Alérgenos são substâncias biológicas que provocam alergia em pessoas predispostas. O principal alérgeno inalante domésticos está em todas as casas, o ácaro. Estes se alimentam da descamação da pele humana. Portanto onde há gente, há ácaros.

Sabemos que tecidos e tapetes, assim como bichinhos de pelúcia, cobertores são reservatórios destes pequenos artrópodes que tanto podem piorar a rinite alérgica. 

E há outros, não tão menos frequentes como o mofo, e lembrando também a descamação da pele de cães e gatos.

O ar seco

Em algumas épocas do ano, algumas regiões passam por períodos de seca. O ar seco contribui para ressecamento dos olhos, do nariz, da garganta  favorecendo a maior incidência de doenças respiratórias.

Se umidade relativa do ar estiver entre 20 e 30%, deve-se evitar exercícios físicos ao ar livre entre 11 e 15 horas. Em situações de umidade ainda menor, entre 20 e 12%, é recomendável suspender exercícios físicos e trabalhos ao ar livre entre 10 e 16 horas.

Mas, se a umidade for menor do que 12% é preciso interromper qualquer atividade ao ar livre entre 10 e 16 horas; determinar a suspensão de atividades que exijam aglomerações de pessoas em recintos fechados.

O uso de umidificadores  previnem estas doenças. Umidificar o ambiente por meio de vaporizadores, toalhas molhadas, recipientes com água, umidificação de jardins etc.,  amenizam a secura do ar e sempre que possível permanecer em locais protegidos do sol ou em áreas arborizadas.

Como evitar as doenças respiratórias?

  • Evitar os alérgenos inalantes. Limpeza da casa, sem produtos de limpeza poluentes, preferir o uso de aspirados com filtro HEPA. Se tiver alergia a ácaros evite materiais que os acumulam ou que sejam de difícil higienização.
  • Abrir as janelas para permitir a ventilação dos ambientes (se a qualidade externa do ar for adequada) favorecendo reduzir a umidade, evitando o crescimento de mofos.
  • Em regiões de alta polinização, permanecer em casa e evitar a exposição ao pólen
  • Evitar o cigarro/tabaco em todas as usas formas
  • Evitar acender velas ou queimar incensos em locais pequenos e pouco ventilados
  • Eliminar o mofo do ambiente interno da casa, corrigindo as infiltrações e umidade. Uma boa opção é a limpeza com soluções contento hipoclorito.
    Umidificar a mucosa nasal e os olhos.
  • Evitar atividade física ao ar livre em momentos de baixa umidade ou qualidade do ar.
    Procure passeios em ambientes com boa qualidade do ar e arborizados.
  • Contribua também para reduzir a poluição. Deixe o carro em casa e prefira o transporte público, evite a queima de combustíveis sólidos em casa
  • Faça  a sua parte e contribua para respirar em um planeta melhor.

Referências:

Ratajczak A, Badyda A, Czechowski PO, Czarnecki A, Dubrawski M, Feleszko W. Air Pollution Increases the Incidence of Upper Respiratory Tract Symptoms among Polish Children. J Clin Med. 2021 May 16;10(10):2150. doi: 10.3390/jcm10102150. PMID: 34065636; PMCID: PMC8156299.

https://cetesb.sp.gov.br/ar/poluentes/

Naclerio R et al. International expert consensus on the management of allergic rhinitis (AR) aggravated by air pollutants: Impact of air pollution on patients with AR: Current knowledge and future strategies. World Allergy Organ J. 2020 Apr 3;13(3):100106.

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).