Tosse é problema muito comum, um dos principais motivos de procura ao atendimento médico. Quem nunca teve algum episódio de tosse? E quem nunca se sentiu constrangido, ainda mais nos tempos de hoje, de tossir em público? 

Pois é. A tosse crônica interfere sobremaneira na qualidade de vida, e ainda podendo comprometer as relações sociais .

Estima-se que a tosse crônica acomete cerca de 10% da população mundial. 

A tosse é apenas um sintoma e não propriamente uma doença. Trata-se de um reflexo fisiológico de proteção às vias respiratórias. Tossir quer dizer “limpar a garganta, laringe, traqueia e brônquios. e  protegendo de subsTancias ou agentes nocivos.  

A tosse pode ser aguda ou crônica, a depender da sua duração, ou dizemos que é crônica, quando dura mais de 3 semanas. 

Então? Mas o que causa a tosse? 

O mais comum é limpar a garganta. Sabe aquele catarrinho que incomoda? Tossiu, melhorou. 

Mas devemos ficar atentos, pois há muitas causas: 

  1. Infecções

As infecções da via respiratória. Sem dúvida esta é a causa mais comum, principalmente depois de um inverno como este, inúmeras viroses…

Assim, os quadros virais,  resfriados e gripes, ocupam o topo da lista, principalmente das crianças.  E ao contrário do que pode se pensar, o mais comum é a secreção no nariz e faringe (gotejamento retronasal) e nem sempre nos pulmões.

Geralmente, a tosse dura por volta de uma semana, mas alguns vírus como o Influenza podem dar uma tosse prolongada. Ou covid-19

Sinusites, de causa bacteriana, também são causadoras de tosse, e claro, sem dúvida as pneumonias. 

Ainda hoje a tuberculose é um problema endêmico em nosso meio, causada pela Micobacterium tuberculosis (ou Bacilo de Koch) foi responsável por por 68.271 novos casos de tuberculose em 2021 e foram registradas 85.219 mortes pela doença. 

Diferentemente dos tempos em que Manoel Bandeira escreve o poema Pneumotorax, a tuberculose hoje em dia é tratada com medicamentos. 

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

— Diga trinta e três.

— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…

— Respire.

 — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

— Não.

A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Pneumotorax  Publicado em 1930, no livro Libertinagem, o poema Pneumotórax, uma das obras-primas de Manuel Bandeira (1886-1968), se tornou um clássico do modernismo brasileiro.

2. Irritantes ambientais

Agentes irritantes ambientais também podem causar tosse. Assim é na exposição ocupacional, por exemplo substâncias químicas, ambiente da construção civil. Ou mesmo perfumes, cloro, pesticidas e ar frio.

O cigarro!! Não podemos deixar de lembrar que o tabagismo é um grande causador de tosse crônica.

3. Doenças pulmonares crônicas

Pacientes com asma apresentam normalmente chiado no peito e falta de ar, mas não menos frequentemente apresentam tosse. E em alguns casos podem apresentar apenas tosse crônica como principal sintoma. Neste quadro a tosse pode ser desencadeada também pelos irritantes acima, porém com maior intensidade. E há ainda a tosse da asma desencadeada por exercícios físicos.

Doença pulmonar obstrutiva crônica, enfisema, e outros também são causas de tosse.

4. Medicamentos 

Parece estranho, não? Mas alguns medicamentos podem dar tosse. E entre os principais estão os inibidores da enzima de conversão (inibidores da ECA), captopril, enalapril, muito usados no tratamento da hipertensão arterial. 

5. Refluxo gástrico: 

O refluxo gástrico também é uma causa de tosse crônica. Geralmente exacerba-se à noite devido a posição de decúbito ou depois das refeições.

O refluxo do ácido gástrico na garganta é o desencadeante desta tosse que é seca. Nem sempre está acompanhada da queimação ou azia que é o sintoma clássico do refluxo gástrico.

6. Tumores:

Dentre os tumores, os de pulmão são os que mais estão relacionados com tosse crônica. Mas tumores da laringe, faringe também podem ter este sintoma. Geralmente há outros relacionados como rouquidão, dificuldade de deglutir, etc. 

7. Outras causas: 

Menos frequentemente a tosse pode ter outras causas. tais como doenças neurológicas, doenças musculares, insuficiência cardíaca e até mesmo psicológicas. 

Quando investigar a tosse prolongada?

A tosse crônica persistente por mais de 3 semanas, deve sempre ser investigada. O médico deve investigá-la através de uma anamnese cuidadosa e ainda exame físico. De acordo com a suspeita diagnóstica alguns exames podem ser solicitados como raio X de torax, endoscopia digestiva das vias aéreas, broncoscopia, tomografia, entre outros

E como tratar a tosse? 

Deve-se usar medicamentos que inibam a tosse? 

O tratamento depende do diagnóstico. Por isso avaliação clínica detalhada é tão importante. Só assim poderá ser direcionado o melhor tratamento, visando propriamente a causa e/ou os sintomas. 

Medidas preventivas: 

  • parar de fumar;
  • evitar exposição a irritantes ambientais;
  • cuidar de doenças crônicas;
  • mudanças de hábitos alimentares em casos de refluxo.

Não deixe de investigar a tosse crônica. Ela pode ser o sinal de algo mais importante a ser tratado. 

 

Referências:

https://sbpt.org.br/portal/dia-mundial-de-combate-a-tuberculose-sbpt-2022/

Phung C. On, PharmD, BCPS. Overview of Chronic Cough. Am J Manag Care. 2022;28(suppl 9):S152-S158. https://doi.org/10.37765/ajmc.2022.89243

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).