arte e medicina
Saímos da faculdade sabendo direitinho como tratar e prevenir uma doença.
Estudamos sua causa, o que a facilita e o que a dificulta, assim como o que a extermina. Ou ainda, como conviver com ela da melhor maneira possível.

Este é o conhecimento técnico e científico da medicina. E daí sua elaboração desde a genética à mais avançada técnica cirúrgica: as universidades com seus centros de pesquisa são as maiores responsáveis para garantir todo o rigor em estabelecer cada passo de formiguinha entre as evidências científicas.

Mas… e quando estamos frente a frente com o paciente? Aí se trata de relacionamento humano, um pouco diferente de nos relacionarmos com o conhecimento (ou com o google…).

Sujeito – Objeto

Pelo menos, deveria ser: quantas vezes não nos deparamos com um profissional que nem nos olha na cara e já vai pedindo exames… ou ainda quando uma criança entra no consultório e o acompanhante não tira os olhos do celular. Nestes casos, infelizmente, um dos sujeitos da relação se comporta como “objeto”: corpo presente e espírito distante… Quando a consulta está neste nível, sujeito/objeto, não adianta: o Cuidado não aparece! Pode-se aplicar todo o conhecimento técnico-científico que a coisa não vai rolar! Afinal, (ainda) somos gente cuidando de gente!

Sujeito – Sujeito

Daí faz sentido dizer que, embora a medicina seja uma ciência que tem o homem como objeto de estudo, não dá para tratá-lo como coisa. E veio, já na década de 1970, a retomada da humanização do cuidado em saúde. Entretanto, sua parte na ciência como disciplina ensinada nas universidades é beeeeem recente, infelizmente (quem dera eu tivesse essas aulas na faculdade…). Nas atuais “humanidades médicas” é que encontramos um espaço para entender, estudar e transformar a prática. E aí nos valemos de toda a produção humana para melhor nos entender para além do funcionamento do nosso corpo e de como este adoece: as artes plásticas, a literatura, a música, a filosofia, antropologia, ética, sociologia, psicologia…

Hoje em dia, a partir da relação humana, vemos a medicina como um emaranhado: conhecimento científico, ciência biomédica, arte e tecnologia – tudojuntomisturado! É todo uma técnica, ou uma arte, em bem escolher a melhor ferramenta, naquele instante, para exercer o melhor cuidado possível.


Termino, mais uma vez, com uma sábia sentença do Edmund Pellegrino, professor de bioética:

A medicina é a mais humana das ciências, a mais empírica das artes e a mais científica das humanidades“.

Não daria para imaginar nada diferente, né? Afinal, o Homem é objeto de pesquisa da medicina, mas cuidamos é de gente.

Para ler mais:

Rios, IC – Humanidades Médicas como Campo de Conhecimento em Medicina – Revista Brasileira de Educação Médica 40(1):21-9, 2016 https://doi.org/10.1590/1981-52712015v40n1e01032015

Escrito por

Cassia Suzuki

Médica oftalmologista, quase filósofa, mãe de 2 filhas e 2 cachorrinhas