No dia 18 de outubro é comemorado o Dia do Médico, data escolhida em referência a São Lucas, o santo padroeiro da Medicina. A Bíblia apresenta São Lucas como o médico de coração generoso, um homem instruído, a quem são atribuídos milagres mesmo antes da sua conversão ao cristianismo.

“Ouvimos – não procuramos; não perguntamos quem dá – eu jamais tive escolha nesse sentido.” Friederich Nietzsche

Mas, afinal, por que celebramos o dia do Médico?

A Medicina é uma das áreas do conhecimento que exige do profissional o maior nível de comprometimento, de dedicação e de responsabilidade. O conhecimento, o aperfeiçoamento, a atualização devem ser constantes na vida do médico. Além do conhecimento teórico e prático, a relação médico-paciente é fundamental para o engajamento e a adesão do paciente ao tratamento proposto. É uma relação de extremo respeito, confiança e, sobretudo, de entrega bilateral.

Dia do Médico: um pouco de história da Medicina

A Medicina Antiga

A Medicina tem suas raízes nas culturas da antiguidade, baseada inicialmente na magia e no empirismo. Na Babilônia, os sacerdotes tratavam transtornos mentais e foram os responsáveis por descrever detalhadamente diversas doenças.

No Egito antigo, a Medicina foi muito influenciada pelo misticismo oriental e pelo contato com a natureza. O primeiro médico conhecido pelo nome foi Imhotep, em torno de 2850 anos a.C.. Em um dos papiros médicos mais importantes, são descritos ferimentos e tratamentos cirúrgicos.

Os médicos hebreus, além de supervisionarem regras de higiene, tinham vasto conhecimento anatômico através da dissecção de animais sacrificados.

Para os hindus, a prática médica não era dissociada dos rituais religiosos; porém, muitos efeitos da idade sobre a doença e a morte foram descobertos por esse povo.

Na China, na dinastia Chou, há relatos de vários séculos antes de Cristo que descrevem cinco categorias de médicos: os chefes, que coletavam medicamentos e examinavam outros médicos, os dietólogos, que receitavam alimentos e bebidas, os médicos para enfermidades simples, os médicos de úlcera e os médicos de animais.

A Medicina Clássica

A Medicina Clássica nasceu com os movimentos filosóficos da Grécia antiga, na busca por explicações racionais para tudo, inclusive para as doenças. Hipócrates, o pai da Medicina, foi o maior responsável pelo desenvolvimento do sistema de medicina humoral: de acordo com ele, o desequilíbrio entre os 4 humores – sangue (coração), fleuma (cérebro), bile amarela (fígado) e bile preta (baço) – era a causa de diversas enfermidades.

Foi Hipócrates quem lançou as bases para uma abordagem racional da medicina, criticando a medicina “filosófica” e afirmando a autonomia da arte médica em relação à filosofia. Sugeriu, assim, que os médicos abandonassem análises subjetivas e observassem os pacientes e os fatos. Também afirmou que para ser conhecido, o corpo humano deveria ser estudado. A seguir, Hipócrates traçou a origem e a evolução da medicina a partir da evolução da alimentação humana: o desenvolvimento de culinária adaptada aos diferentes tipos de doentes, com cozimento e mistura, marca o início da medicina propriamente dita.

Durante o período clássico (Grécia e Império Romano), os romanos inventaram vários instrumentos cirúrgicos, como o bisturi. Galeno, um proeminente médico e filósofo romano de origem grega, fez com que a medicina continuasse a se basear em Hipócrates durante quase 20 séculos!

Assista ao vídeo para entender como o anatomista romano, Andreas Vesalius, no século XVI, passou a contestar Galeno e suas teorias:

 

A Medicina Moderna

Com a Idade Média, as doenças voltaram a ser atribuídas a causas divinas. Porém, no Renascimento, os pesquisadores se desvencilharam da religião e passaram a embasar os tratamentos na observação, experimentos e pesquisa. É o surgimento da Medicina Moderna.

Os séculos XVII e XVIII foram marcados por grandes saltos nos métodos de diagnóstico, como o desenvolvimento do estetoscópio.

No século XIX, Louis Pasteur desenvolve a Teoria Microbiológica das doenças. Assim, a partir dela, a prática de antissepsia passou a reduzir a mortalidade por complicações infecciosas.

Nesse momento, as doenças passaram a ser vistas como um problema político e econômico e os médicos ganharam outro papel: ensinar regras básicas de higiene, de habitação e de alimentação, além do tratamento de doenças.

A Medicina atual, o médico e a pandemia

Desde o dia do famoso juramento, cabe ao médico estimular a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar físico e mental dos seus pacientes. Os avanços da tecnologia, quando bem indicados, são importantes aliados na prevenção de patologias e na promoção do envelhecimento saudável. Por outro lado, a facilidade do acesso à informação tornou o paciente protagonista no cuidado com a própria saúde.

Já é de conhecimento público que os profissionais de saúde, sobretudo os médicos, sofrem mais transtornos mentais e têm maiores taxas de suicídio, cerca de 3 a 5 vezes mais do que a população geral. Exaustão, cobrança, riscos inerentes à profissão podem ser facilitadores destes transtornos.

Veio a pandemia. Para o bom médico, o princípio de jamais prejudicar o paciente (primum non nocere) ficou ainda mais evidente na busca incessante por informações científicas de qualidade, no cuidado e no enfrentamento de uma doença desconhecida.

As incertezas e a dor ficaram mais pujantes: o sofrimento, a morte, a avalanche de informações nas redes sociais contribuíram para o aumento do estresse profissional e pessoal. O isolamento, as horas de trabalho adicionais, o medo de se expor à doença e de contaminar sua própria família geraram transformação nas relações pessoais e profissionais.

Mas veio também mais sensibilidade. Mais escuta. Mais entrega. A pandemia trouxe mais humanismo nas relações entre médicos e pacientes.

A Medicina é capaz de gerar grandes alegrias. Não é só poder curar. Ser médico, além de curar, é também ajudar, diminuir a dor, dividir, amparar, transformar hábitos e mudar histórias.

Ser médico é vocação. É amor. É tratar do corpo e da alma. Do paciente e de si mesmo.

Parabéns pelo dia do Médico.

No Tempo da Pandemia

Catherine O’Meara – 2020

“E as pessoas ficaram em casa.

E leram livros, e escutaram, e descansaram, e fizeram exercícios, e fizeram arte, e jogaram jogos, e aprenderam novos jeitos de ser, e ainda eram.

E escutaram mais atentamente. Alguns meditaram, alguns rezaram, alguns dançaram. Alguns conheceram suas sombras. E as pessoas começaram a pensar de maneira diferente.

E as pessoas se curaram.

E, na ausência de pessoas vivendo de forma ignorante, perigosa, sem consideração ou coração, a Terra começou a curar.

E quando o perigo passou, e as pessoas voltaram a se reunir, elas fizeram luto por suas perdas, e fizeram novas escolhas, e sonharam com novas imagens, e criaram novos modos para viver e curar a Terra plenamente, assim como elas haviam sido curadas.”

 

Referências:

  1.  Sebastião Gusmão, História da Medicina – Evolução e Importância. Revista Médica de Minas Gerais 13.2
  2. https://www.paho.org/pt/noticias/10-9-2020-pandemia-covid-19-aumenta-fatores-risco-para-suicidio
  3. https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=673
  4. http://www.atenas.edu.br/uniatenas/assets/files/magazines/__4___HISTORIA_DA_MEDICINA___MABIA_AUGUSTA_DORNELAS_DOS_REIS.pdf
NASCER DO SOL NO CAMPO
E a Terra se curou (foto de OC Gonzalez de Unsplash)