A promessa das bebidas energéticas como o próprio nome diz é dar mais energia. Seu consumo vem aumentando principalmente entre aqueles que desejam melhorar o foco mental,  atletas, pessoas que querem render mais no trabalho ou ficar mais depertas. Largamente utilizado no lazer, em baladas e assim misturados a bebidas alcoólicas.  

Mas o que compõe estes as bebidas? 

Dentre seus principais componentes temos: taurina, ginseng e que de uma forma geral podem ser classificados como suplementos. Tudo isso adicionado de cafeína. 

A quantidade de cafeína pode variar de 50 mg, um pouco menos que um cafezinho, que contém cerca de  80 mg, até doses bem elevadas chegando a 505mg, a depender da marca.  “Shots” de energia são os que têm maiores concentrações.  Porém, nem sempre há  este registro no rótulo. 

Os principais atributos dos energéticos vem do seu teor de cafeína e taurina e muitas são adicionadas de açúcar. 

As bebidas energéticas apareceram inicialmente na Europa e na Ásia nos anos 60,  e desde então mais de 500 marcas foram lançadas, marcando um crescimento exporencial. Pode- se dizer que é o crescimento mais rápido de vendes de bebida depois da água engarrafada; e o valor movimentado por este mercado é bilionário, em torno de US$ 60 bilhões globalmente.

Há evidências de suas ações “energéticas”?

Há algumas pesquisas que que mostram que pode haver um aumento do foco, concentração e até reduzir a fadiga mental.  Mas os estudos ainda são controversos.

Mas há efeitos colaterais? 

Em minha prática diária, como otorrinolaringologista, a condição mais frequente é a vertigem. Por vezes até incapacitante. Mas abaixo, segue uma lista de possíveis efeitos, pode-se ter até mesmo a intoxicação por cafeína.  O uso regular intenso pode levar ainda a questões cardiovasculares como arritmias e hipertensão. 

  • insônia
  • nervosismo
  • inquietação
  • tremores
  • irritabilidade
  • vertigem

Vale lembrar que os efeitos são muito mais intensos em adolescentes e adultos jovens onde o cérebro ainda está em desenvolvimento; uma vez que são mais sensíveis ao efeito da cafeína  e portanto mais propensos a intoxicação podendo culminar com sintomas de agitação psicomotora e até convulsões. 

E qual a relação com a vertigem?

 A cafeína é um estimulante da transmissão nervosa nos nervos auditivo (do audição)  e vestibular (do labirinto, responsável pelo nosso equilíbrio)  e isso acontece de forma dose-dependente, ou seja quanto mais cafeína, maior a estimulação, podendo resultar em vertigem e zumbido em pessoas sensíveis. Além do sintomas já descritos cima no sistema nervoso central. 

Para as bebidas adicionadas de grande quantidade de açúcar este também pode interferir na regulação do equilíbrio em indivíduos predispostos a distúrbios metabólicos do equilíbrio. O quadro pode ser potencializado quando a ingestão do energético acontece após um longo perdido de jejum quando há rápida resposta de aumento da insulina após grande ingestão de açúcar. 

A ingestão concomitante com o álcool é comum. Não só pioram os distúrbios do equilíbrio e podem potencializar a vertigem como também interferem na coordenação psicomotora e potencialmente perigoso para a direção de veículos. 

E quais seriam as recomendações para o uso de bebidas energéticas? 

  • beber com moderação
  • evitar o uso frequente, mais de 5 a 7 doses por semana.
  • não utilizar em associação com o álcool
  • não é recomendado para crianças  e adolescentes. 

 

Referências: 

Curran CP, Marczinski CA. Taurine, caffeine, and energy drinks: Reviewing the risks to the adolescent brain. Birth Defects Res. 2017 Dec 1;109(20):1640-1648. doi: 10.1002/bdr2.1177.

Ghahraman MA, Farahani S, Tavanai E. A comprehensive review of the effects of caffeine on the auditory and vestibular systems. Nutr Neurosci. 2021 Apr 22:1-14. doi: 10.1080/1028415X.2021.1918984.

Gutiérrez-Hellín J, Varillas-Delgado D. Energy Drinks and Sports Performance, Cardiovascular Risk, and Genetic Associations; Future Prospects. Nutrients. 2021 Feb 24;13(3):715. doi: 10.3390/nu13030715.

Nadeem IM, Shanmugaraj A, Sakha S, Horner NS, Ayeni OR, Khan M. Energy Drinks and Their Adverse Health Effects: A Systematic Review and Meta-analysis. Sports Health. 2021 May-Jun;13(3):265-277. doi: 10.1177/1941738120949181.

https://www.nccih.nih.gov/health/energy-drinks

Escrito por

Renata Di Francesco

Graduada em Medicina em 1993 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e especializada em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP. Doutorado em 2001 e o título de Professora Livre-Docente foi obtido em 2010.
No dia a dia dedica, no consultório privado o cuidado com pacientes e familiares.
Ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP, hoje, coordena o Estágio em Otorrinolaringologia Pediátrica.
Outros desafios:
Diretora da Educação Médica Continuada da ABORLCCF (2012-2014)
Presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (2015-2016)
Diretora Secretária da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (2015),
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo-SPSP (2016-2019)
Coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP (desde 2019)
Diretora do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria -SBP (desde 2019).